quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Faxina de Dilma engrossa corrente do 'volta, Lula'

                           

                           

Faxina de Dilma engrossa corrente do 'volta, Lula'
 
Foto: AGÊNCIA BRASIL

 

 

Cresce no Congresso movimento que quer o ex-presidente como candidato em 2014; Dilma é vista como fria e cruel, enquanto o ex foi mais solidário nas desgraças de seus ministros; o próprio Lula tenta esfriar os ânimos: “Isso, agora, é um tiro no pé”



18 de Agosto de 2011 às 07:55
Marco Damiani_247 – Os ponteiros do relógio político que cronometra a sucessão presidencial de 2014 foram adiantados. Pelos fatos. Com a queda de Wagner Rossi do Ministério da Agricultura, ontem, um movimento entre parlamentares da base aliada já chamado de ‘volta, Lula’ ganhou combustível para crescer e se consolidar. Trata-se de uma referência direta, entre deputados e senadores, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato à sucessão da presidente Dilma Rousseff. Essa movimentação, capitaneada por líderes do PMDB, em Brasília, trabalha com o ingrediente de que a própria Dilma terá de abrir passagem para a candidatura Lula. Por bem ou na marra.

O grupo que já sonha, neste momento, com a volta de Lula faz uma aposta de que o governo Dilma será de “crise permanente”, com ministros sendo assados nos fornos da imprensa sem que a presidente interfira nem mesmo para baixar a temperatura. Ao contrário de Dilma, que já demarcou seu estilo de não oferecer nenhuma espécie de anteparo para ministros atingidos por denúncias de corrupção e má gestão, Lula demonstrava mais interesse em preservar seus quadros. Ao longo de seus 8 anos de mandato, é certo que ele teve 9 ministros defenestrados. Ao seu modo, porém, o então presidente procurava suavizar as quedas ou agia diretamente para resgatar o prestígio do ministro humilhado. Foi assim, por exemplo, com o atual senador Romero Jucá (PMDB-RO). Demissionário do Ministério da Previdência em julho de 2005, Jucá voltou forte à estrutura de poder no segundo mandato de Lula, que o fez líder do governo no Senado. No caso mais rumoroso, o da demissão do então ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, em junho de 2005, Lula passou, com o tempo, a fazer do próprio Dirceu um de seus principais interlocutores dentro do PT, sinalizando que, apesar das circunstâncias, não iria abandonar o antigo parceiro. Esse tipo de solidariedade é muito cara aos políticos e tem tudo para ser um fator decisivo na escolha do candidato.

Com Dilma, ao que se vê, é bem diferente do que acontecia sob Lula. Numa demonstração de frieza e objetividade em relação aos problemas de cada um, a presidente determinou que, como primeira providência diante de uma denúncia, o ministro acusado terá de dar explicações no Congresso. Frente a frente com os parlamentares e sob as vistas da imprensa. Lula, nesse aspecto, costumava usar todo o poder de seus aliados na Câmara e no Senado para, bem ao contrário, realizar manobras que evitassem convocações de integrantes do governo.

Ao 247, na terça-feira 16, o ex-ministro Delfim Netto observou que, mais uma vez em antagonismo a Lula, a presidente Dilma não tem obsessão pela reeleição. “Dilma não governa para se reeleger, mas apenas para fazer um governo que deixe o País melhor do que o que ela encontrou”, afirmou. “Ela faz uma política diferente, por isso nem sempre é compreendida”. Vista a questão por esse ângulo, Lula terá ainda menos trabalho para realizar seu sonho de voltar, o quanto antes, ao Planalto. É ele próprio quem disse, em mais de uma ocasião após ter deixado o governo, que ainda não “desencarnou” do papel de primeiro mandatário. Uma situação que pode perdurar até 2014.

No dia seguinte à entrevista de Delfim ao 247, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, afirmou ao jornalista Fernando Rodrigues, da Folha de S. Paulo, que o candidato do PT e seu campo de influência em 2014 “sairá de uma conversa entre Dilma e Lula”. Uma entrevista que deu forte contribuição, sem dúvida, para acelerar todo o processo especulativo em torno da eleição distante. Uma aceleração a tal ponto que demandou um pisão no freio do próprio Lula. Em conversas reservadas com caciques do partido, ele já usou a expressão “tiro no pé” para definir o quanto o adiantamento das conversas sobre candidatura pode prejudicar a sua própria. “Se seguirem com isso, é o começo do fim”, comentou seu aliado Jorge Vianna (PT-AC). O próprio Lula, ao dizer mais aos seus interlocutores, tem afirmado que a decisão de tentar ou não a reeleição caberá a Dilma. A maioria, porém, acredita na avaliação do ministro Bernardo, pela qual o nome de Dilma ou Lula para 2014 será definido em conversas entre Dilma e Lula. E não apenas por Dilma.

Mesmo que consiga controlar no PT essa espécie de “queremismo” versão 2011 – o movimento original, em 1945, defendia a permanência de Getúlio Vargas no poder --, Lula terá ainda mais trabalho para fazer o mesmo no PMDB. Depois da demissão de Rossi – ministro que, durante sua via sacra de denúncias pela mídia, não mereceu uma audiência especial com a presidente, indo diretamente à Câmara contar as suas versões --, ficou claro que até mesmo os denunciados com forte apoio político terão o mesmo tratamento frio por parte de Dilma. Ela foi a menos empenhada em sustentar o então chefe da Casa Civil Antônio Palocci, promoveu uma verdadeira fritura administrativa sobre Alfredo Nascimento, dos Transportes, exonerou em conversa pessoal de cinco minutos o ex da Defesa Nelson Jobim e assistiu, impassível, a Rossi se debater em meio às denúncias que terminaram por afogá-lo. É esse tipo de comportamento que, se de um lado, está rendendo popularidade a Dilma, por outro faz com que ela perca a confiança dos políticos de sua base. E o posicionamento deles será decisivo para emoldurar a conversa entre a presidente e Lula sobre quem, afinal, será o candidato em 2014, quando chegar a hora de essa conversa acontecer.

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