Os parlamentares do nosso Congresso precisam perder o medo de convocar barões da mídia e jornalistas para depor em CPI.
Na época da ditadura – no ano de 1982 –, o irmão de Roberto Civita já depôs, e não foi por perseguição dos militares. Foi por se envolver num escândalo de corrupção, acusado de favorecimento por ministros e dirigentes de bancos estatais.
Quem conseguiu convocar a CPI foi a oposição à ditadura, por meio de um requerimento do então deputado Del Bosco Amaral do PMDB. Mas o partido da ditadura, o PDS (sucessor da Arena e ancestral do DEM e do PSD), capturou a presidência e a relatoria da CPI.
A história começou em 1980, durante o governo do general Figueiredo. O jornal O Estado de S. Paulo rompeu com o corporativismo na imprensa e publicou denúncias do escândalo de corrupção do Grupo Abril, donos da revista Veja.
Tratava-se da construção dos hotéis Quatro Rodas, em pontos turísticos no Nordeste, com incentivos fiscais da Sudene e dinheiro público vindo de empréstimos do BNB (Banco do Nordeste), Banco do Brasil e até do extinto BNH (Banco Nacional da Habitação), criado para financiar só a habitação, foi colocado para financiar hotel de luxo, na hora de dar "aquela ajudinha" ao Grupo Abril.
O assunto acabou virando a CPI Quatro Rodas, na Câmara dos Deputados, em que o diretor do Estadão, Rui Mesquita Neto, depôs como testemunha, e falou sobre a série de reportagens cobrindo o escândalo de corrupção da Abril.
Em outra sessão de inquéritos da CPI foi a vez de Richard Civita (irmão de Roberto Civita), então presidente da empresa Hotéis Quatro Rodas, depor para dar explicações sobre o rombo produzido nos cofres públicos.
A Abril não conseguia pagar os empréstimos e nem terminar os hotéis. Para resolver a questão, os ministros da ditadura deram um jeitinho: o BNB e o Banco do Brasil viraram acionistas dos hotéis como forma de quitar a dívida, amargando prejuízos.
Os parlamentares da CPI ligados à ditadura e amigos dos Civita, fizeram a CPI “terminar em pizza”, com um relatório favorável ao Grupo Abril.
Os parlamentares de oposição fizeram um relatório alternativo, com demonstrativos de perícias contábeis, mostrando o prejuízo causado aos cofres públicos.
Como se vê, até na ditadura teve parlamentares que chamaram os Civita às falas por maracutaias com ministros poderosos. Então é inaceitável que hoje, em plena democracia, nossos congressistas "pipoquem" e não cobrem explicações sobre a parceria Veja-Cachoeira, claramente mostrada pelas recentes investigações da Polícia Federal.
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