Esse sentimento tão comum, quando excessivo, pode se tornar
um quadro patológico e transformar histórias de amor em casos
de agressão e morte, como aconteceu com a bela modelo em São
Paulo
Flávio Costa, Natália Martino e Paula RochaAMOR POSSESSIVO
Bruno César Ribeiro e Babila Marcos: por ciúme,
ele matou a mulher e ex-modelo a facadas
Uma história de amor iniciada há quatro anos que terminou em agressão e morte por ciúme excessivo. É assim que pode ser resumido o relacionamento do corretor de imóveis Bruno César Augusto Ribeiro, 30 anos, com sua mulher, a ex-modelo Babila Teixeira Marcos, 24. Após uma discussão regada a muita bebida alcoólica, Bruno matou Babila a facadas. Um dos golpes desferidos esfacelou a maçã direita do belo rosto da jovem, que jazia deitada na cama quando policiais entraram na casa do casal no bairro do Jabaquara, em São Paulo. No quarto ao lado, o filho de 2 anos dormia alheio à discussão dos pais. Bruno foi indiciado por homicídio qualificado e motivo torpe na semana passada. O derradeiro desentendimento do casal parecia apenas mais um entre tantos, geralmente motivados pelo ciúme exagerado dele. Logo no começo do namoro, Bruno proibiu Babila de seguir trabalhando como modelo. Não satisfeito, escolhia as roupas que a mulher poderia vestir e a afastou dos amigos de São Bernardo do Campo, município do ABC paulista onde ela nasceu e se criou. “Ele a exibia como se fosse troféu. Um objeto que ele poderia usufruir quando quisesse”, afirma o comerciante Alexandre Marcos, pai da ex-modelo, que tem uma distribuidora de água mineral onde a filha trabalhava.
Considerado por muitos o “tempero das relações”, o ciúme é um sentimento comum a quase todos os humanos e pode até mesmo ter desempenhado papel fundamental na evolução da espécie. Segundo teorias da psicologia evolucionista, é uma característica biológica que herdamos de nossos ancestrais, que usaram esse sentimento como um mecanismo de sobrevivência. “As mulheres das cavernas sentiam ciúme de seus machos para que eles não copulassem com outras fêmeas, o que colocaria em risco a sua própria prole.
Considerado por muitos o “tempero das relações”, o ciúme é um sentimento comum a quase todos os humanos e pode até mesmo ter desempenhado papel fundamental na evolução da espécie. Segundo teorias da psicologia evolucionista, é uma característica biológica que herdamos de nossos ancestrais, que usaram esse sentimento como um mecanismo de sobrevivência. “As mulheres das cavernas sentiam ciúme de seus machos para que eles não copulassem com outras fêmeas, o que colocaria em risco a sua própria prole.
Já os homens usavam o ciúme como uma forma de garantir que a parceira não geraria filhos de outros machos”, diz o psicólogo Thiago de Almeida, especializado em relações difíceis e autor do livro “Ciúme e Suas Consequências para os Relacionamentos Amorosos” (Editora Certa). Dos primeiros enlaces românticos até hoje, o ciúme muitas vezes apareceu atrelado a conceitos positivos, como zelo e proteção. A máxima de que “quem ama cuida” é comumente citada pelos ciumentos para justificar seus atos. “Porém, quando esse sentimento passa a ser um sofrimento muito grande, a ponto de prejudicar a vida daquele que o sente, ou a de seu parceiro, pode se tratar de um quadro de ciúme patológico”, alerta Almeida.
PASSADO
Babila e Bruno com o filho: a relação sempre foi conflituosa
O retrato mais emblemático de ciúme doentio provém da literatura. No clássico “Otelo – O Mouro de Veneza”, de William Shakespeare (1564-1616), o general protagonista da história acredita piamente estar sendo traído por sua esposa, Desdêmona. Cego pelo ciúme e pela raiva, ele asfixia a mulher. Depois, no entanto, ao descobrir que ela não era adúltera, tira a própria vida com um punhal e antes de morrer ainda beija o corpo inerte de Desdêmona. A tragédia shakespeariana acabou por batizar a condição chamada de ciúme patológico, também conhecida como “síndrome de Otelo”. “Diferentemente do ciúme normal, o doentio não precisa de uma motivação. Ele pode surgir sem que algo desencadeie uma suspeita”, explica a psicanalista Tatiana Ades, autora dos livros “Hades: Homens Que Amam Demais” e “Escravas de Eros” (Editora Isis). De acordo com especialistas, há dois tipos mais comuns de ciúme (leia quadro na pág. 78). No ciúme normal, ou protecionista, o ciumento se sente ameaçado por alguma situação ou por um rival em potencial e quer proteger a relação ou a pessoa que ama. Já no doentio ou retaliador, o medo de perder o ser amado faz com que a pessoa aja de forma punitiva, sem considerar argumentos racionais. “O ciumento patológico acredita em seus próprios delírios e essa autoilusão, em casos extremos, pode levar a agressões ou até à morte”, diz Almeida.
A combinação de amor, ciúme e tragédia, que sempre pontuou as crônicas policiais, também está presente em outro caso recente que mobilizou o País. Em 16 de junho, a policial federal Angelina Filgueiras, 42 anos, irmã da modelo Ângela Bismarchi, morreu com um tiro no peito durante uma discussão entre ela, o namorado, Jolmar Wagner Alves Milato, 40, e o ex-marido, o capitão reformado da Marinha Márcio Luiz Dias Fonseca, 48, que também faleceu. Segundo o advogado de defesa de Milato, o ex-marido de Angelina não aceitava o fim do casamento e teria feito ameaças a ela e a seu cliente, antes de entrar armado na casa dela naquela noite. Desesperada pela briga entre os dois, Angelina atirou em si mesma, e Milato, agindo, conforme alega, em legítima defesa, disparou três vezes contra Fonseca. Parentes da vítima disseram que o sentimento que Fonseca nutria por Angelina era doentio. “Quem sofre de ciúme patológico acaba se tornando uma marionete dos próprios sentimentos, mas a violência é um processo cumulativo”, explica Almeida. “Quando o cônjuge aceita uma reação violenta ou uma agressão psicológica do ciumento, acaba reforçando esse comportamento.”
A escalada de agressões verbais, psicológicas e físicas é bem conhecida da enfermeira Bernadete Segatto, 50 anos. Na semana passada, ela chegou à Primeira Delegacia de Defesa da Mulher, em São Paulo, munida com quase uma dezena de Boletins de Ocorrência (BO) contra o ex-namorado, Robert de Lima Fonseca, 48 anos. Os documentos relatam parte da história do casal, que começou há quase três anos e teve várias idas e vindas até o fim definitivo, em novembro do ano passado. Bernadete conta que Fonseca a agride desde o início do relacionamento. “Sempre que acontecia, eu terminava o namoro, mas ele ia atrás de mim e me ameaçava. Eu não voltava por amor, voltava por medo”, diz. Conforme relato da enfermeira, Fonseca a agrediu fisicamente várias vezes, a jogou de um carro em movimento, a prendeu em cárcere privado, a estuprou quando ela tentou terminar a relação e ameaçou os filhos dela, que hoje vivem com o pai por determinação do Ministério Público. Tudo por ciúme. “Enquanto eu estava com ele, era proibida de trabalhar, de fazer esportes, de qualquer coisa. Ele sempre me acusava de estar tendo um caso com alguém, fosse o professor da academia ou o pastor da igreja. Uma vez ele cortou meu cabelo para tentar me deixar mais feia”, diz.
A combinação de amor, ciúme e tragédia, que sempre pontuou as crônicas policiais, também está presente em outro caso recente que mobilizou o País. Em 16 de junho, a policial federal Angelina Filgueiras, 42 anos, irmã da modelo Ângela Bismarchi, morreu com um tiro no peito durante uma discussão entre ela, o namorado, Jolmar Wagner Alves Milato, 40, e o ex-marido, o capitão reformado da Marinha Márcio Luiz Dias Fonseca, 48, que também faleceu. Segundo o advogado de defesa de Milato, o ex-marido de Angelina não aceitava o fim do casamento e teria feito ameaças a ela e a seu cliente, antes de entrar armado na casa dela naquela noite. Desesperada pela briga entre os dois, Angelina atirou em si mesma, e Milato, agindo, conforme alega, em legítima defesa, disparou três vezes contra Fonseca. Parentes da vítima disseram que o sentimento que Fonseca nutria por Angelina era doentio. “Quem sofre de ciúme patológico acaba se tornando uma marionete dos próprios sentimentos, mas a violência é um processo cumulativo”, explica Almeida. “Quando o cônjuge aceita uma reação violenta ou uma agressão psicológica do ciumento, acaba reforçando esse comportamento.”
A escalada de agressões verbais, psicológicas e físicas é bem conhecida da enfermeira Bernadete Segatto, 50 anos. Na semana passada, ela chegou à Primeira Delegacia de Defesa da Mulher, em São Paulo, munida com quase uma dezena de Boletins de Ocorrência (BO) contra o ex-namorado, Robert de Lima Fonseca, 48 anos. Os documentos relatam parte da história do casal, que começou há quase três anos e teve várias idas e vindas até o fim definitivo, em novembro do ano passado. Bernadete conta que Fonseca a agride desde o início do relacionamento. “Sempre que acontecia, eu terminava o namoro, mas ele ia atrás de mim e me ameaçava. Eu não voltava por amor, voltava por medo”, diz. Conforme relato da enfermeira, Fonseca a agrediu fisicamente várias vezes, a jogou de um carro em movimento, a prendeu em cárcere privado, a estuprou quando ela tentou terminar a relação e ameaçou os filhos dela, que hoje vivem com o pai por determinação do Ministério Público. Tudo por ciúme. “Enquanto eu estava com ele, era proibida de trabalhar, de fazer esportes, de qualquer coisa. Ele sempre me acusava de estar tendo um caso com alguém, fosse o professor da academia ou o pastor da igreja. Uma vez ele cortou meu cabelo para tentar me deixar mais feia”, diz.
"Quando cheguei, mal abri a porta e ela veio com o ferro de passar quente
na minha direção. Me defendi, mas ela continuou a agressão verbal e física"
F., 40 anos, que se divorciou depois de um ataque de ciúme da mulher
No caso da bela modelo morta em São Paulo, o histórico de violência de Bruno contra Babila era antigo. Há três anos, a jovem ligou certa noite para a mãe, Rosana Marcos, dizendo que estava trancada no banheiro, pois Bruno a ameaçava com um revólver 38 em punho. O caso acabou no 35º DP (Jabaquara), onde a mulher desistiu de prestar queixa. O casal reatou após poucos meses de separação. Uma semana antes de ser assassinada, Babila revelou a familiares o desejo de se separar por conta do ciúme excessivo do marido, que engendrava uma rotina de brigas. “Ela apenas estava esperando passar o batizado e o aniversário do filho para tomar a decisão”, revela a mãe. Dias antes da tragédia, Bruno chegou a ameaçá-la dizendo que a mataria junto com o filho se ela o abandonasse. Na noite do crime, os policiais encontraram o carro da vítima, um Astra Wagon, na garagem, com os vidros abertos e a chave na ignição. Uma mala estava repleta de roupas da criança e ainda continha todos os documentos de Babila, que recebeu várias facadas nas costas, segundo apurou ISTOÉ. “É um erro da vítima subestimar as intenções do agressor. Em casos de violência doméstica, é mais do que necessária a intervenção policial”, afirma a delegada Lisandrea Zonzine Salvariego Colabuono, responsável pelo inquérito policial do caso e titular da 2ª Delegacia de Defesa da Mulher. Em metade dos casos de homicídio de mulheres havia denúncia de violência daquele agressor anteriormente, segundo o Mapa da Violência 2012.
Tanto homens quanto mulheres podem sofrer de ciúme patológico, porém são elas as vítimas mais frequentes de agressões de parceiros ciumentos. De acordo com a Pesquisa DataSenado 2011, em 27% dos casos de violência doméstica registrados no Brasil a agressão foi motivada pelo ciúme. No mesmo ano, em um levantamento do Instituto Avon, 48% das entrevistadas que declararam ter sido vítimas de violência grave disseram que esse sentimento de posse foi o fator responsável pela agressão. “Apesar de todos os avanços na questão dos direitos femininos, infelizmente vivemos em uma sociedade ainda muito machista, em que a mulher muitas vezes é vista como uma propriedade privada de seu namorado ou marido”, diz Tatiana Ades. “Por isso é mais difícil para os homens aceitar quando uma mulher quer terminar um relacionamento.” Isso não significa, contudo, que elas sejam menos ciumentas, e sim que o sentimento se manifesta de forma diferente. “Homens tendem a sentir mais ciúme sexual, enquanto as mulheres ficam mais enciumadas ao pensar que seus namorados ou maridos podem estar emocionalmente envolvidos com outra”, diz Almeida. “E as mulheres são mais sutis na hora de demonstrar ciúme”, diz Tatiana.
Hoje casada e mãe de uma filha de 4 anos, a relações-públicas M., que pediu para não ser identificada, chega a sorrir ao se lembrar do namorado por quem foi “loucamente apaixonada” aos 19 anos. Depois das brigas constantes, ela fazia plantão na portaria da casa do namorado e se jogava em frente ao carro dele para obrigá-lo a parar e conversar. Quando ele a deixava em casa depois de uma festa, imediatamente uma amiga era acionada para persegui-lo e, assim, descobrir se ele realmente foi para casa ou se iria se encontrar com “a outra”, a suposta amante que nunca foi flagrada. Essa relação complicada durou dois anos e terminou quando ela percebeu quanto ficava fora de si diante do namorado. “Foi um período conturbado, mas serviu de lição, aprendi o que não queria para a minha vida. A questão não é o tamanho do amor, mas sim a forma como o direcionamos”, avalia.
Tanto homens quanto mulheres podem sofrer de ciúme patológico, porém são elas as vítimas mais frequentes de agressões de parceiros ciumentos. De acordo com a Pesquisa DataSenado 2011, em 27% dos casos de violência doméstica registrados no Brasil a agressão foi motivada pelo ciúme. No mesmo ano, em um levantamento do Instituto Avon, 48% das entrevistadas que declararam ter sido vítimas de violência grave disseram que esse sentimento de posse foi o fator responsável pela agressão. “Apesar de todos os avanços na questão dos direitos femininos, infelizmente vivemos em uma sociedade ainda muito machista, em que a mulher muitas vezes é vista como uma propriedade privada de seu namorado ou marido”, diz Tatiana Ades. “Por isso é mais difícil para os homens aceitar quando uma mulher quer terminar um relacionamento.” Isso não significa, contudo, que elas sejam menos ciumentas, e sim que o sentimento se manifesta de forma diferente. “Homens tendem a sentir mais ciúme sexual, enquanto as mulheres ficam mais enciumadas ao pensar que seus namorados ou maridos podem estar emocionalmente envolvidos com outra”, diz Almeida. “E as mulheres são mais sutis na hora de demonstrar ciúme”, diz Tatiana.
Hoje casada e mãe de uma filha de 4 anos, a relações-públicas M., que pediu para não ser identificada, chega a sorrir ao se lembrar do namorado por quem foi “loucamente apaixonada” aos 19 anos. Depois das brigas constantes, ela fazia plantão na portaria da casa do namorado e se jogava em frente ao carro dele para obrigá-lo a parar e conversar. Quando ele a deixava em casa depois de uma festa, imediatamente uma amiga era acionada para persegui-lo e, assim, descobrir se ele realmente foi para casa ou se iria se encontrar com “a outra”, a suposta amante que nunca foi flagrada. Essa relação complicada durou dois anos e terminou quando ela percebeu quanto ficava fora de si diante do namorado. “Foi um período conturbado, mas serviu de lição, aprendi o que não queria para a minha vida. A questão não é o tamanho do amor, mas sim a forma como o direcionamos”, avalia.
"Sempre que ele me agredia, eu terminava o namoro, mas ele vinha atrás
de mim e me ameaçava. Eu não voltava por amor, voltava por medo"
Bernadete Segatto, 50 anos, que pede na Justiça medidas
protetivas contra o ex-namorado Robert de Lima Fonseca
O fato de a maior parte dos crimes motivados por ciúme ser cometida por homens pode ser explicado pela alta impulsividade deles, na opinião do psiquiatra forense Miguel Chalub. “Homens são mais agressivos e mais inseguros de sua performance sexual, o que os torna mais propensos a sofrer com o ciúme doentio”, diz Chalub. “Por isso, quando uma mulher agride ou mata o cônjuge por ciúme, a sociedade fica escandalizada.” O administrador de empresas F., 40 anos, que pediu para não ser identificado, sofreu na pele com uma ciumenta patológica. O namoro e o casamento foram tranquilos até que ele, em um novo emprego, começou a trabalhar até tarde da noite. “Era um tormento, ela dizia que eu tinha um caso com alguma mulher do trabalho e, com o tempo, isso foi crescendo. Ela criava situações na cabeça dela e acreditava naquelas fantasias todas”, conta. Enciumada, ela ligava para o ramal dele várias vezes ao dia para conferir se o marido realmente estava trabalhando. Até o dia em que ele não atendeu – já estava a caminho de casa. “Quando cheguei, mal abri a porta e ela veio com o ferro de passar quente na minha direção. Me defendi, mas ela continuou a agressão verbal e física. Para não perder a cabeça, saí de casa naquela noite.” No dia seguinte, outra surpresa. Todas as roupas, CDs e livros de F. estavam rasgados e quebrados em uma pilha no meio da sala. “Foi o estopim para o divórcio”, diz.
Paradoxal como grande parte dos sentimentos humanos, o ciúme em demasia também pode significar desejos ocultos da própria pessoa. “Muitas vezes aquele que sente ciúme exacerbado está projetando no parceiro algo que ele mesmo faz ou gostaria de fazer”, afirma a psicanalista Tatiana. “Já vi vários casos de homens ciumentos que eram eles próprios os infiéis.” Foi o que aconteceu com a escritora catarinense Vanessa de Oliveira, 37 anos. Há dois anos ela conheceu por meio de uma amiga aquele que parecia ser o grande amor de sua vida. “Ele era calmo, educado, gentil. Um príncipe encantado”, conta Vanessa. Durante os primeiros seis meses em que viveram juntos, tudo correu bem. Até que ele começou a revelar seu lado ciumento. “Ele me ligava o dia inteiro para saber onde eu estava e passou a me tratar mal por ciúme dos outros funcionários do shopping onde tínhamos uma loja”, diz. Um dia, Vanessa descobriu que, apesar de ser extremamente ciumento, o marido mantinha relacionamentos paralelos com diversas mulheres e até era casado legalmente nos Estados Unidos com outra brasileira. “Quando o confrontei com a verdade, ele me agrediu, quebrou minhas coisas, me expulsou de casa e até me ameaçou de morte.” A história de decepção rendeu o livro “Psicopatas do Coração” (Editora Matrix), lançado no início do ano. “Hoje estou recuperada, mas ainda me assusto quando vejo fotos da época em que vivia com ele. Eu parecia outra pessoa, até tinha mudado meu jeito de vestir em função dele”, diz.
Mesmo que nem todos os ciumentos excessivos sejam infiéis ou desejem ser, algumas características se repetem nos perfis daqueles que padecem dessa condição. Em comum, homens e mulheres que sofrem de ciúme patológico apresentam sinais de alta ansiedade, pouca tolerância à frustração e baixa autoestima. “A maioria carrega uma sensação de rejeição que vem da infância”, explica Tatiana Ades. Opinião compartilhada por Chalub. “Esse sentimento está ligado a transtornos de personalidade, especialmente entre os homens. Quando um homem não recebe afeto suficiente da mãe quando pequeno, as chances de ele se tornar um ciumento em excesso são grandes.” Outros distúrbios psicológicos, como paranoia e transtorno obsessivo compulsivo, também são geralmente associados ao ciúme em demasia. “O problema do ciumento patológico é com ele próprio, e não com seu parceiro ou parceira”, diz Tatiana.
Paradoxal como grande parte dos sentimentos humanos, o ciúme em demasia também pode significar desejos ocultos da própria pessoa. “Muitas vezes aquele que sente ciúme exacerbado está projetando no parceiro algo que ele mesmo faz ou gostaria de fazer”, afirma a psicanalista Tatiana. “Já vi vários casos de homens ciumentos que eram eles próprios os infiéis.” Foi o que aconteceu com a escritora catarinense Vanessa de Oliveira, 37 anos. Há dois anos ela conheceu por meio de uma amiga aquele que parecia ser o grande amor de sua vida. “Ele era calmo, educado, gentil. Um príncipe encantado”, conta Vanessa. Durante os primeiros seis meses em que viveram juntos, tudo correu bem. Até que ele começou a revelar seu lado ciumento. “Ele me ligava o dia inteiro para saber onde eu estava e passou a me tratar mal por ciúme dos outros funcionários do shopping onde tínhamos uma loja”, diz. Um dia, Vanessa descobriu que, apesar de ser extremamente ciumento, o marido mantinha relacionamentos paralelos com diversas mulheres e até era casado legalmente nos Estados Unidos com outra brasileira. “Quando o confrontei com a verdade, ele me agrediu, quebrou minhas coisas, me expulsou de casa e até me ameaçou de morte.” A história de decepção rendeu o livro “Psicopatas do Coração” (Editora Matrix), lançado no início do ano. “Hoje estou recuperada, mas ainda me assusto quando vejo fotos da época em que vivia com ele. Eu parecia outra pessoa, até tinha mudado meu jeito de vestir em função dele”, diz.
Mesmo que nem todos os ciumentos excessivos sejam infiéis ou desejem ser, algumas características se repetem nos perfis daqueles que padecem dessa condição. Em comum, homens e mulheres que sofrem de ciúme patológico apresentam sinais de alta ansiedade, pouca tolerância à frustração e baixa autoestima. “A maioria carrega uma sensação de rejeição que vem da infância”, explica Tatiana Ades. Opinião compartilhada por Chalub. “Esse sentimento está ligado a transtornos de personalidade, especialmente entre os homens. Quando um homem não recebe afeto suficiente da mãe quando pequeno, as chances de ele se tornar um ciumento em excesso são grandes.” Outros distúrbios psicológicos, como paranoia e transtorno obsessivo compulsivo, também são geralmente associados ao ciúme em demasia. “O problema do ciumento patológico é com ele próprio, e não com seu parceiro ou parceira”, diz Tatiana.
SUICÍDIO
A policial federal Angelina Filgueiras se matou diante de uma discussão entre o namorado,
Jolmar Milato, e o ex-marido Márcio Luiz Fonseca (na foto com ela), que não aceitava o fim do casamento
A boa notícia é que existem grupos que podem ajudar essas pessoas a controlar o sentimento. O Mada (Mulheres Que Amam Demais Anônimas), que existe há 18 anos no Brasil, acolhe mulheres que se encontram em relações destrutivas. “Ter ciúme é uma característica comum de todas nós, mas apenas algumas apresentam um quadro de ciúme patológico”, diz uma integrante do grupo. Seguindo uma versão adaptada dos 12 passos do grupo Alcoólicos Anônimos (AA), as mulheres do Mada, que possui mais de 30 pontos de encontro pelo País, procuram evitar os comportamentos destrutivos, um dia de cada vez. “Através do depoimento das outras mulheres, consigo aprender algo sobre mim mesma e manter sob controle meus sentimentos.” A mesma filosofia move o grupo de apoio aos ciumentos patológicos do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC), em São Paulo. O serviço é gratuito e destinado a homens e mulheres. “O objetivo é melhorar a autoestima e ajudar a controlar o comportamento de ciúme daqueles que buscam ajuda”, explica Mônica Zilberman, coordenadora do projeto. “Não falamos em ‘cura’ até porque não se trata de uma doença em si, mas de um sintoma que pode estar exacerbado até em pessoas sem transtorno psiquiátrico.”
No caso de Babila, tal qual Otelo, Bruno buscou no suicídio a forma de lidar com sua culpa. Cortou os pulsos e o pescoço, mas não obteve sucesso porque o irmão adolescente, que morava com o casal, chegou minutos depois do assassinato da jovem. Até a sexta-feira 13, Bruno continuava internado em estado grave no Hospital Saboya, no Jabaquara, sob escolta policial. “O amor dos dois era doentio, obsessivo. Ambos eram muito ciumentos. Mas ninguém esperava que fosse acabar assim”, diz um amigo do casal. Como disse o poeta espanhol Lope de Vega (1562-1635), “não existe glória maior do que o amor, tampouco castigo maior do que o ciúme”.
No caso de Babila, tal qual Otelo, Bruno buscou no suicídio a forma de lidar com sua culpa. Cortou os pulsos e o pescoço, mas não obteve sucesso porque o irmão adolescente, que morava com o casal, chegou minutos depois do assassinato da jovem. Até a sexta-feira 13, Bruno continuava internado em estado grave no Hospital Saboya, no Jabaquara, sob escolta policial. “O amor dos dois era doentio, obsessivo. Ambos eram muito ciumentos. Mas ninguém esperava que fosse acabar assim”, diz um amigo do casal. Como disse o poeta espanhol Lope de Vega (1562-1635), “não existe glória maior do que o amor, tampouco castigo maior do que o ciúme”.
PERIGO
O ciumento patológico acredita em seus delírios e isso pode
levar a agressões ou até à morte, diz o psicólogo Thiago de Almeida
Fotos: Marco Ankosqui; reprodução; PEDRO DIAS; João Castellano/Ag. Istoé; Reprodução/internet; Divulgação
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