Postado em 12 out 2014
Marinistas ou antimarinistas, dilmistas e aecistas, alienados, cientistas políticos, direitistas, esquerdistas, libertários, ufologistas — ninguém tem o direito de se surpreender com a decisão de Marina Silva de apoiar Aécio Neves.
Um dos atributos de se colocar acima da política, acima de direita e esquerda, além do bem e do mal, é ter uma espécie de salvo conduto para justificar qualquer coisa.
Sim, o PT e o PSDB eram a polarização desprezível que ela condenava. Mas, ao declarar o voto em Aécio, ela não está sendo contraditória. Longe disso. “O que nós estamos fazendo é inaugurar, sim, a nova política. Todos estavam imaginando que seria apenas o apoio como sempre é feito. Mas foi feito em base de um programa [sic]. Como foi feita a aliança que eu e Eduardo Campos fizemos há um ano”, afirmou. “Em uma eleição em dois turnos, você toma uma decisão em relação àquilo que acha que é o melhor para o Brasil.”
É sua novilíngua em ação. Em 2010, Marina ficou neutra. Quem achou que ela fosse repetir a dose agora, quando a polarização tornou-se mais forte do que nunca, escutou a conversa de que Aécio fez as mudanças programáticas que ela pediu. Dilma teria sido responsável por um retrocesso na agenda ambiental — tema que ela, Marina, deixou de fora da campanha por absoluta vontade própria.
Aécio não topou o recuo na proposta de redução da maioridade penal, obra de seu vice Aloysio Nunes. De resto, aceitou a “flexão social” (termo cunhado pelo o coordenador da Rede Walter Feldman) das demais exigências de Marina.
Há aí também um forte componente de ressentimento. Marina guarda uma raiva do PT que não faz mais questão de esconder. Em seu pronunciamento, Marina se queixa dos “ataques destrutivos de uma política patrimonialista, atrasada e movida por projetos de poder pelo poder”.
Sim, ela apanhou muito do PT. Mas, por esse critério, o PSDB não a poupou. Pelo contrário. Segundo o levantamento de uma agência de propaganda paulista, nos últimos dias do primeiro turno 60% das cotoveladas vieram do lado de Aécio.
De acordo com o Datafolha, 13% dos marinistas seguiriam à risca o voto da líder; 16% poderiam ser levados a escolher o candidato dela; para 67%, não faria diferença.
O endosso à candidatura conservadora de Aécio é apenas mais uma marinada, de tantas que ela deu nas eleições. Não há nada mais velha política do que ela. Por essas e outras, tem um futuro brilhante pela frente.
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