sábado, 16 de janeiro de 2016

Lava a Jato, o filme

Por Fábio de Oliveira Ribeiro
Imagine uma caixa com um botão. Você aciona o botão, alguém desconhecido morre e você ganha 1 milhão de dólares. O filme The Box https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Box expõe os personagens a um dilema ético. O que deve prevalecer, o lucro pessoal ou a vida de outra pessoa. Os personagens fazem a escolha errada e uma série de eventos indesejados e desagradáveis afetam suas próprias vidas.
Imagine uma caixa com um botão. Um líder político derrotado aciona o botão e seu partido chega ao poder sem ter ganhado a eleição derrubando o governo legítimo eleito pela maioria dos cidadãos. O filme “Lava Jato” (cujo roteiro pretendo escrever em breve), trata justamente das consequencias da ação impensada deste líder.
A primeira coisa que ocorre quando o botão é acionado é a queda da adversária dele. Esta queda, contudo, não vem acompanhada da morte dela, da extinção do seu partido e do extermínio dos membros do mesmo. A reação à deposição da presidenta começa, portanto, antes do líder que acionou o botão ser empossado.
Como os personagens do filme The Box, o líder que aciona o botão não consegue exatamente o que desejava. Primeiro ele enfrentará resistência para ser empossado. Caso consiga chegar ao cargo desejado não poderá exercer o poder porque o botão acionado produziu uma dualidade: legalidade e legitimidade já não se encontram no mesmo lugar.
Napoleão ocupou Moscou. Mas ninguém pode dizer que ele exerceu qualquer tipo de poder sobre a Rússia. O líder que acionar o botão da caixa e derrubar a presidenta eleita pode até conseguir vestir a faixa e ocupar o Palácio do Planalto. Mas isto não quer dizer que ele governará um país que se tornou ingovernável justamente porque a legitimidade abandonou a legalidade.
O nosso exercício de imaginação nos leva a crer que o beneficiado pela caixa funesta será obrigado a comprar aliados. A primeira coisa que se expandirá no país será a corrupção. A segunda será a incapacidade do Estado de cumprir com suas obrigações, pois os recursos orçamentários (finitos) passarão a ser usados para garantir apoio ao governo ilegítimo e não para custear as despesas públicas inadiáveis.
A resistência ao novo governo se tornará mais impopular à medida que for obrigado a cortar gastos sociais para garantir o pagamento dos corruptos que o presidente imposto pela funesta caixa. Manifestações reprimidas violentamente levarão a outras manifestações cada vez mais violentas. Em algum momento a economia do país começará a sentir o impacto negativo da guerra entre a legalidade forjada pela caixa e a legitimidade do governo deposto.
As Forças Armadas apoiaram o golpe de 1964 e rapidamente expurgaram os elementos considerados indesejados. Os comandantes militares apóiam a presidenta eleita. Como reagirão as tropas quando o botão da caixa for acionado? Depor o governo sem garantir a lealdade absoluta dos soldados é algo temerário. Mas a temeridade não é vista pelo líder: a única coisa que ele vê é a caixa, o botão e o atalho para o poder que não lhe foi atribuído pela maioria da população.
Cenas de sangue num bar da Avenida São João. A guerra civil começa quando os amigos se matam por causa de disputas que não puderam ser resolvidas na arena política. César era amigo de Pompeu. Otávio foi amigo de Marco Antônio. O líder que recebeu a caixa era amigo de Lula. Poderá contar com a amizade do ex-presidente após ter acionado o botão?
A caixa terá um nome gravado nela: “Lava Jato”. Como na vida real, o fabricante do equipamento mortal é um juiz cujo orgulho foi elevado à infinita potência em razão da adulação da imprensa. O que ocorrerá com ele no filme dependerá do botão ser ou não acionado. Ainda é impossível finalizar o roteiro. Também é incerto o futuro dos protagonistas do filme. Ninguém pode saber ao certo quem morrerá e quem sobreviverá à guerra civil. Será melhor para todos se a caixa for destruída e o botão enfiado goela abaixo do artesão que a manufaturou. 
http://www.jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/lava-a-jato-o-filme

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