A Época dá capa para uma acusação bem típica dos tempos ditatoriais que estamos vivendo na mídia e no aparato policial-judicial.
É a “denúncia” de um “ex-diretor” do grupo Engevix, Paulo Fraga Zuch, de que teria distribuído agrados a um casal de corretores de Porto Alegre, que mantém relações pessoais há décadas com Carlos Araújo, ex-marido da Presidenta Dilma Rousseff, para obter uma reunião com ele para pedir ajuda para “destravar” negócios da empresa.
Araújo nega ter havido ajuda e quem o conhece sabe que dificilmente teria.
Mas tudo isso é irrelevante perto da confissão feita pela própria Época de que não tem qualquer elemento para dizer que Araújo teria feito algo neste sentido e, literalmente que ” não há indício de que a presidente saiba o que transcorreu”. Transcorreu, óbvio, segundo a revista.
Portanto, trata-se de um capa escandalosa sobre algo que, no máximo, fala de negócios entre um empresário e um casal de corretores.
Se alguém comprou algo, foi a Época e fez mau negócio, porque Araújo não vai ficar inerte como outros.
E a trama tem todo os indícios de ser uma armação, assoprada como brasa pelo Ministério Público, para obter acordo de delação premiada com acusações vagas contra personagens próximos a Dilma ou a ela própria.
Explico: o tal Zuch não é simplesmente ex-diretor de uma empresa dos empreiteiros Gelson Almada e José Antunes Sobrinho . É sócio deles em ao menos uma empresa, a Enercasa – Energia Caiuá, comercializadora de energia elétrica. registrada sob o CNPJ 09.217.210/0001-00. O que faz e diz, portanto, tem tudo para ser adrede combinado com os presos que estão negociando uma (mais uma) delação daquelas “diga o que eu quero que você diga e eu reduzo tua pena e libero você”.
Mesmo no resumo publicado pelo site da Época já é possível encontrar inconsistências difíceis de sanar.
A revista diz, ao apresentar as fotos dos empresários, que “depois que Almada foi preso, José Antunes Sobrinho tentou se aproximar de Dilma Rousseff” e teria usado o contato com Carlos Araújo.
Almada foi preso em novembro de 2014. O negócio imobiliário que teria tido como objetivo “azeitar” um encontro com Araújo, também no documento explorado pela revista, é de julho de 2014.
Se o Ministério Público do Paraná não decretou que o Papa Gregório, fundador do nosso calendário, mudou as datas para nos confundir, quatro meses antes de uma prisão não poderia alguém fazer um negócio escuso para tirar da cadeia alguém que nem havia entrado nela, certo?
A Época vai acabar dando um bom dinheirinho ao Carlos Araújo, no processo que inevitavelmente se seguirá.
E quando lhe perguntarem onde conseguiu aquele dinheiro, ele poderá dizer: achei no lixo, quer dizer, na Época.
http://tijolaco.com.br/blog/a-reportagem-sobre-o-nada-e-sondagem-para-delacao-armada/
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