segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Macri, outro balão inflado do neoliberalismo

Os decretos Macristas são típicos de uma ditadura militar, como a nomeação de dois juízes da Corte Suprema sem a aprovação do Senado.



Ángel Guerra Cabrera
 
Casa Rosada
Macri é a nova estrela da direita regional. Homem de pelo no peito e mentiroso, não tardou em se desfazer dos modos republicanos que prometeu na campanha. Agora, se desfaz sistematicamente da Constituição e das leis, impunemente. Fere obsessivamente o Estado de direito, supostamente tão importante para os seus patronos dos Estados Unidos e de Israel, do grupo midiático Clarín e seu cúmplice La Nación, do capital financeiro, incluindo os democráticos fundos abutres, com os quais ele já vem colaborando.

O ex-prefeito de Buenos Aires assinou mais Decretos de Necessidade e Urgência (DNU) em pouco mais de um mês que todos os emitidos por Cristina Kirchner em dois mandatos presidenciais. Nenhum deles atende a circunstâncias excepcionais como as que exige o texto constitucional, pois se tratam de temas que podiam esperar o reinício das sessões do Congresso.

Os DNU´s macristas são típicos de uma ditadura militar, como a nomeação de dois juízes da Corte Suprema sem a aprovação do Senado pela primeira vez na história argentina, a derrogação da Lei de Meios e a intervenção ilegal do órgão que a tutela e o desmantelamento do sistema de meios de comunicação públicos. A nomeação dos juízes provocou tanto escândalo que ele teve que retroceder, pressionado também pela decisão de um juiz federal contra a medida. Entretanto, no caso da Lei de Meios, Macri vem se omitindo diante de outra decisão semelhante contra seus desígnios.

Sua ofensiva contra os trabalhadores de estatais e funcionários públicos não deixa nada a desejar aos governos neoliberais ortodoxos, como o de Menem e os mexicanos. Não me refiro só aos 18 mil empregados que ele mandou para a rua, acusando-os de serem funcionários fantasmas, e à repressão policial contra os protestos. Falo também das centenas de milhões de dólares que ele transferiu ao capital financeiro e ao agronegócio, em tão pouco tempo, através de medidas como a desvalorização, a liberalização dos preços e a isenção de impostos aos exportadores rurais.



A Argentina de Macri vive capítulos tão tipicamente ditatoriais, como a demissão do prestigioso jornalista Víctor Hugo Morales da Rádio Continental, após pressão do governo para liberar publicidade estatal apenas se ele deixasse a emissora. Morales recebeu apoio 48 horas depois, num ato realizado na Praça de Maio, no qual ele convocou o público a se rebelar contra os atropelos macristas. O programa de Víctor Hugo era um dos poucos espaços críticos que restavam depois do fechamento dos meios públicos.

O novo homem forte da Argentina, claro, conta com o silêncio cúmplice dos meios de comunicação hegemônicos argentinos, latino-americanos e internacionais, como CNN En Español. Também do tal senhor Luis Almagro, o novo secretário-geral da pestilente OEA (Organização dos Estados Americanos), réptil de aluguel de Washington.

Isso sim, esses mesmos meios não deixam de apontar suas metralhadoras comunicacionais contra a Venezuela bolivariana da maneira mais burlesca e grosseira, assim como Almagro, que num ato vulgar de ingerência, se revelou como um dos porta-vozes regionais da contrarrevolução venezuelana.

Na Venezuela, a já está instalada liderança contrarrevolucionária na Assembleia Nacional teve que retroceder em sua tentativa de desacatar o Tribunal Supremo, após uma firme e serena atitude da minoritária bancada chavista e o repúdio popular, incentivado pela forma como se tratou as imagens de Bolívar e Chávez como lixo – o novo presidente da Assembleia Nacional mandou retirar os quadros das duas figuras históricas venezuelanas do prédio sede do Legislativo –, atitude que também foi condenada energicamente pelo alto comando militar, encabeçado pelo general Vladimir Padrino, e até mesmo por alguns setores da oposição.

Existe uma maioria opositora na Assembleia Nacional, mas ela não expressa realmente a correlação de forças na sociedade venezuelana, pois grande parte do povo é bolivariano e chavista, mesmo os que votaram contra o governo, ou os muitos chavistas que se abstiveram, em ambos os casos, pessoas insatisfeitas pela escassez de produtos e pela burocracia das políticas dos últimos anos, e indignados pelos casos de corrupção sem castigo. Além disso, cabe destacar que a Força Armada Nacional Bolivariana é leal à Constituição e de vocação anti imperialista e socialista.

Isso não muda o fato de que o projeto de governo chavista enfrenta o momento de maior perigo para a revolução, justo quando sofre a ausência do gênio político de Chávez. A contraofensiva, até agora, tem sido inteligente, e supomos que deverá fazer uma profunda autocrítica, ter paciência, voltar a fortalecer as estruturas coletivas, insistir no processo de transferência de poder ao povo e, finalmente, convocar esse povo para o embate com a oposição nas ruas, onde o chavismo é invencível.

Quanto a Macri, não tardará em se desinflar, e se continuar assim poderia até mesmo ser derrubado pela insatisfação popular, como sugeriu Atilio Boron.

Tradução: Victor Farinelli

http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Macri-outro-balao-inflado-do-neoliberalismo/6/35329

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