Cabral confraterniza com José Roberto Marinho, no dia em que desviou verba da prevenção de enchentes para a Fundação Roberto Marinho |
Sem dúvida, pela primeira vez em quatro anos e meio, desde que assumiu o cargo, Cabral está recebendo críticas de quase todos os lados, até da mídia que o tem preservado como jamais aconteceu com outro político, excetuando os ditadores de plantão.
Até leitores esclarecidos do blog, que têm consciência política, e que não são ingênuos, vêm questionando e não compreendendo bem esse processo de mudança de postura da mídia, notadamente as Organizações Globo, que passaram a mostrar – ainda que de forma tímida e muito camarada – uma parte da podridão que envolve Cabral e o seu governo.
Não se iludam que de repente a mídia tenha acordado, e vá cumprir o seu papel democrático e imparcial de mostrar a verdade. Não estamos nem perto disso. Existem dois fatores determinantes para a nova postura de uma parte da mídia, e mais uma vez, com as Organizações Globo em papel de destaque.
1º Vamos a uma breve cronologia de fatos e conseqüências. Na tentativa de abafar o movimento dos bombeiros, Cabral e a mídia jogaram pesado demais, atacaram tanto, usaram tantos golpes baixos e mentiras, que a população acordou para a injustiça que estava acontecendo e ficou do lado dos bombeiros, se revoltando contra o governador. A reboque da crise dos bombeiros, a blindagem de Cabral começou a ser rompida, e os escândalos da secretaria de Saúde foram os primeiros a vir à tona aumentando a perplexidade e a revolta da população.
Eis que, no meio dessa crise acontece o acidente da Bahia, que pelas conseqüências dramáticas ganhou todas as manchetes do país. Não dava para esconder quais eram os personagens da tragédia. Aí, o Brasil descobriu as relações promíscuas de Cabral com os amigos empresários. Para piorar, na tentativa inicial e infrutífera de encobrir a verdade, uma sucessão de versões mentirosas que foram sendo derrubadas pelos fatos, uma a uma, deixaram claro para a população que Cabral estava envolvido num mar de lama.
Chegou-se ao estágio 1 do processo. Vamos pegar como exemplo o jornal O Globo. Seus leitores são esclarecidos, formadores de opinião, condenam veementemente a corrupção que tomou conta da política brasileira. Têm posições firmes e não são ingênuos. Diante desse contexto não dava para continuar blindando Cabral 100% e pintando um quadro paradisíaco como antes, ou tentar convencer os leitores mais uma vez que é coisa do Garotinho. Isso se reflete na credibilidade, gera cancelamento de assinaturas. Como se diz “foram atropelados pelos fatos”. Mas apesar dessa mudança de atitude, a linha editorial, o direcionamento dos textos não deixa margem para dúvidas. Não houve mudança de lado. O foco continua sendo desviado, Cabral continua sendo poupado.
Agora, uma coisa é certa. Todos esses fatos novos e as críticas inevitáveis a Cabral que estão sendo veiculadas, por mais suaves que sejam, estão produzindo um estrago enorme, que só dentro de mais algum tempo as pessoas terão a real noção do seu efeito.
Mas vamos ao outro fator determinante na mudança de postura da mídia em relação à corrupção do governo Cabral.
2º No dia em que as Organizações Globo mudarem para o lado do povo, isso será cristalino, ao abrir a primeira página do seu jornal. Estará estampada na capa de O Globo, uma manchete principal que atacará Cabral, mostrando seu nome letra por letra, numa frase com alguma acusação direta grave. Como fazem comigo volta e meia, acusando-me de tudo e mais alguma coisa, mesmo sem nenhuma prova, e jamais noticiando quando eu provo a minha inocência. Só aí dá para se acreditar em mudança de lado da Globo. Mas não se iludam que isso só vai acontecer, como já disse uma vez, na hora em que o navio emborcar e estiver indo a pique. Não vai ser agora.
Por enquanto é como se estivessem “dando umas palmadas” em Cabral. E não se esqueçam de um detalhe importantíssimo na lógica dos negócios jornalísticos globais. Melhor do que tentar derrubar um governante corrupto é, como diz o ditado “fazer o porco sangrar”. Nada como um governante refém, que eles tenham nas mãos, que precise desesperadamente das Organizações Globo para se salvar. Isso representa mais milhões em publicidade.
A campanha das Diretas Já, o impeachment de Collor são exemplos disso. Enquanto foi possível encheram o cofre. Até o último minuto. Quando foram atropelados pelos fatos, e o povo já tinha tomado as ruas, só aí mudaram de lado.
Muitas pessoas sonham com o dia em que as Organizações Globo vão mudar de lado, como sendo a solução para dar um basta na corrupção generalizada que tomou conta do governo Cabral. Pois então é bom acordarem. Assim como aconteceu nas Diretas Já, e no impeachment de Collor, só quando a sociedade estiver mobilizada e for para rua protestar contra tudo isso, aí sim, podem esperar que a Globo pule fora do barco de Cabral e passe para o lado do povo.
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