James Risen |
As matérias de James Risen, repórter de segurança nacional do New York Times, foram úteis no percurso de Barack Obama para ganhar notoriedade nos EUA. Elas serviram de base para críticas do atual presidente ao governo do então presidente George W. Bush pelas falsas alegações sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque, tortura de presos e pelo programa ilegal de espionagem de cidadãos americanos.
Em 2004, Risen foi autor de uma série de furos durante a chamada “guerra ao terror”. Dentre eles estava a alegação de que a CIA teria falhado ao não contar ao então presidente Bush sobre o fato de parentes de cientistas iraquianos terem jurado que o país havia abandonado seu programa de armas não-nucleares. No mesmo ano, o jornalista foi o primeiro a revelar as práticas de tortura por simulação de afogamento de presos, no Iraque, pela CIA. Em 2005, ele publicou uma matéria sobre espionagem ilegal de cidadãos americanos pelo governo – que lhe rendeu o prêmio Pulitzer.
Tais furos causaram tanto embaraço e raiva à administração Bush que alguns funcionários do alto escalão queriam que Risen fosse para a cadeia. Eles nunca conseguiram fazer com que isto, de fato, acontecesse. Ironicamente, Obama pode conseguir o feito.
O trabalho investigativo do repórter do NYTimes não teria sido possível sem fontes confidenciais e a promessa de manter suas identidades sob sigilo. Mas, agora, o governo de Barack Obama ordena que Risen revele a fonte de um furo dado em 2006 sobre erros de conduta no Irã. Se o jornalista se recusar a cooperar (o que pretende fazer), pode ser condenado à prisão.
Inversão de papéis
Em artigo na The Atlantic [28/6/11], o editor Conor Friedersdorf comenta que o ex-vice-presidente Dick Cheney deve estar sorrindo diante da ironia. Ainda na Casa Branca, Cheney chegou a considerar grampear o telefone de Risen e acusá-lo de maneira individual, mesmo quando ele publicou informações divulgadas também por outros jornalistas de outros veículos. “Fiquei sabendo, por uma fonte confiável, que o ex-vice-presidente Dick Cheney pressionou o Departamento de Justiça para fazer algo contra mim, pois estava infeliz com minha cobertura e queria me ver na prisão”, declarou o repórter, sob juramento, em uma corte distrital na Virgínia. “Uma campanha organizada com cartas que incitavam o ódio feita por grupos de direita próximos à Casa Branca foi lançada, inundando-me com ameaças pessoais. Ao mesmo tempo, manifestantes pró-Bush fizeram protestos diante do meu trabalho”.
Em 2006, Risen publicou o livro State of War: The Secret History of the CIA and the Bush Administration(Estado da Guerra: a história secreta da CIA e da administração Bush). Em um dos capítulos, ele escreveu sobre a Operação Merlin, realizada durante o governo do ex-presidente Bill Clinton em 2000, que tinha a intenção de interromper – mas pode ter, na realidade, ajudado – o Irã nos seus esforços para desenvolver um programa de armas nucleares. A ideia era infiltrar um cientista russo que fornecesse aos iranianos dados falhos para o projeto, para que fosse construída uma arma nuclear que não funcionasse.
No entanto, os planos não deram certo. As falhas eram tão gritantes que o cientista russo, para ganhar a confiança dos iranianos e evitar que o desmascarassem, logo as indicou. Posteriormente, ele explicou isso aos funcionários da CIA, esperando que eles cancelassem a operação. Eles se recusaram a fazê-lo e pediram que ele seguisse com o plano de entregar o material para os iranianos. Em 2008, o governo Bushintimou Risen, insistindo que ele revelasse a fonte para o capítulo. Ao se recusar, ele esperava ser preso – o que não ocorreu.
Risen conta que continuou a ser alvo de monitoramento no governo Obama. Em abril de 2010, ele recebeu uma segunda intimação e a pressão aumentou desde que, em janeiro deste ano, o ex-agente da CIA Jeffrey Sterling – que, suspeita-se, seja sua fonte –, foi indiciado sob acusação de vazar informações secretas. Em maio, Risen recebeu sua quarta intimação, com depoimento marcado para setembro.
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