Condenado por tráfico de drogas em seu país, o italiano Alfredo Ugo Filocamo recorre a argumentos semelhantes aos usados pelo ex-terrorista para se livrar da extradição
Flávio CostaSENTENÇA
Documentos italianos e brasileiros comprovam que Filocamo (na foto à esq.) foi
condenado a mais de 16 anos por tráfico de drogas. Itália nega vínculo político
Pai de duas filhas brasileiras, de 21 e 18 anos, o boliviano Manuel Morales Rocha vivia há mais de 20 anos em cidades da Grande Salvador trabalhando como empreiteiro e corretor de imóveis de pequeno porte até ser preso por agentes da Polícia Federal. Revelou-se então uma história desconhecida até por sua família: ele, na verdade, se chama Alfredo Ugo Filocamo, é italiano e está condenado em seu país natal a 16 anos de prisão por tráfico de haxixe da Espanha para Itália. Filocamo diz que mora no Brasil desde 1989, vindo da Bolívia, onde obteve a identidade com a qual foi preso no ano passado. Antes, esteve na Espanha, país no qual teria formado uma quadrilha de traficantes, segundo a polícia italiana. Ele nega a acusação e diz que está sendo perseguido porque manteve relações próximas com o ex-premiê Bettino Craxi (1983-87) e teve acesso ao conteúdo de documentos sigilosos, que o governo italiano não quer que venha à tona. Apesar de imprimir uma conotação política ao seu caso, nenhuma organização ou partido italianos saíram em sua defesa.
Detido há mais de um ano no Complexo Penitenciário de Salvador, onde recebe medicação decorrente de problemas renais e hipertensão, Filocamo, hoje com 61 anos, acrescentou ingredientes dignos de um thriller político a sua já intrincada história. Ele revelou ter sido segurança particular do outrora poderoso Bettino Craxi. Por conta dessa proximidade, garante ser “conhecedor de segredos obscuros da política italiana”, como afirma em uma carta anexada por sua defesa no processo de extradição para a Itália que tramita contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF), cujo conteúdo ISTOÉ teve acesso. Há paralelos com o caso do também italiano Cesare Battisti. Ambos negam a autoria dos crimes que lhe são imputados – no caso de Battisti, quatro assassinatos – e atribuem as condenações, à revelia, às suas antigas atividades políticas nos conturbados anos 1970 e 80 da República Italiana. A diferença essencial está no desfecho de cada processo de extradição – Battistti recebeu autorização do Ministério da Justiça para morar no País, após um longo imbróglio judiciário. Já Filocamo está cada vez mais perto de cumprir pena. Em maio, o STF autorizou sua extradição. A defesa recorreu na semana passada. Além disso, Battisti é reconhecidamente um ex-militante político, pelo qual várias entidades nacionais e internacionais saíram em defesa. Isso não ocorre com Filicamo.
O italiano que viveu na Bahia afirma que se tornou segurança particular de Craxi em 1978. Também era emissário de documentos secretos e de dinheiro para o exterior, notadamente Tunísia, país onde Craxi iria se exilar tempos depois. “Fui eu que separei os dossiês sem importância dos verdadeiramente quentes. Os fatos e nomes que li envolviam muitas coisas sigilosas”, afirma Filocamo. O italiano diz que fugiu da Itália para preservar sua vida e escondeu a identidade de todos, a ponto de sua filha mais velha ostentar em um dos braços uma tatuagem em sua homenagem, onde se lê Manuel Morales Rocha, o nome falso adotado pelo pai.
Filocamo ofereceu revelar o “tudo o que sabe” ao STF. Mas a relatora do caso, a ministra Carmen Lúcia, votou pela extradição, seguindo parecer da Procuradoria-Geral da República. O voto foi acompanhado por unanimidade. “A associação eventual do extraditando com o antigo premiê italiano não basta por si só para atribuir coloração política aos fatos”, definiu o ministro Celso de Mello, na sessão de julgamento.“Gato escaldado” por conta do caso Battisti, o governo italiano rechaça qualquer componente político na questão que envolve Filocamo. “Desconhecemos qualquer ligação política dele”, afirma Pasquale Matafora, responsável pela cooperação jurídica da Embaixada Italiana no Brasil. “Não há sentença definitiva contra ele, como reconheceu a Corte de Apelação de Turim, e pela nossa legislação o crime já teria sido prescrito”, rebate o advogado de defesa George Vieira Dantas. Não há prazo para o julgamento dos recursos. Caso o STF mantenha a decisão, o governo italiano tem 20 dias para efetuar a extradição. Enquanto isso, a família brasileira de Filocamo recolhe assinaturas em Salvador para convencer a Justiça a mantê-lo no País. Em nome de Manuel e de Alfredo.
Detido há mais de um ano no Complexo Penitenciário de Salvador, onde recebe medicação decorrente de problemas renais e hipertensão, Filocamo, hoje com 61 anos, acrescentou ingredientes dignos de um thriller político a sua já intrincada história. Ele revelou ter sido segurança particular do outrora poderoso Bettino Craxi. Por conta dessa proximidade, garante ser “conhecedor de segredos obscuros da política italiana”, como afirma em uma carta anexada por sua defesa no processo de extradição para a Itália que tramita contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF), cujo conteúdo ISTOÉ teve acesso. Há paralelos com o caso do também italiano Cesare Battisti. Ambos negam a autoria dos crimes que lhe são imputados – no caso de Battisti, quatro assassinatos – e atribuem as condenações, à revelia, às suas antigas atividades políticas nos conturbados anos 1970 e 80 da República Italiana. A diferença essencial está no desfecho de cada processo de extradição – Battistti recebeu autorização do Ministério da Justiça para morar no País, após um longo imbróglio judiciário. Já Filocamo está cada vez mais perto de cumprir pena. Em maio, o STF autorizou sua extradição. A defesa recorreu na semana passada. Além disso, Battisti é reconhecidamente um ex-militante político, pelo qual várias entidades nacionais e internacionais saíram em defesa. Isso não ocorre com Filicamo.
O italiano que viveu na Bahia afirma que se tornou segurança particular de Craxi em 1978. Também era emissário de documentos secretos e de dinheiro para o exterior, notadamente Tunísia, país onde Craxi iria se exilar tempos depois. “Fui eu que separei os dossiês sem importância dos verdadeiramente quentes. Os fatos e nomes que li envolviam muitas coisas sigilosas”, afirma Filocamo. O italiano diz que fugiu da Itália para preservar sua vida e escondeu a identidade de todos, a ponto de sua filha mais velha ostentar em um dos braços uma tatuagem em sua homenagem, onde se lê Manuel Morales Rocha, o nome falso adotado pelo pai.
Filocamo ofereceu revelar o “tudo o que sabe” ao STF. Mas a relatora do caso, a ministra Carmen Lúcia, votou pela extradição, seguindo parecer da Procuradoria-Geral da República. O voto foi acompanhado por unanimidade. “A associação eventual do extraditando com o antigo premiê italiano não basta por si só para atribuir coloração política aos fatos”, definiu o ministro Celso de Mello, na sessão de julgamento.“Gato escaldado” por conta do caso Battisti, o governo italiano rechaça qualquer componente político na questão que envolve Filocamo. “Desconhecemos qualquer ligação política dele”, afirma Pasquale Matafora, responsável pela cooperação jurídica da Embaixada Italiana no Brasil. “Não há sentença definitiva contra ele, como reconheceu a Corte de Apelação de Turim, e pela nossa legislação o crime já teria sido prescrito”, rebate o advogado de defesa George Vieira Dantas. Não há prazo para o julgamento dos recursos. Caso o STF mantenha a decisão, o governo italiano tem 20 dias para efetuar a extradição. Enquanto isso, a família brasileira de Filocamo recolhe assinaturas em Salvador para convencer a Justiça a mantê-lo no País. Em nome de Manuel e de Alfredo.
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