segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O código de ética das organizações globo



Por Marco Aurélio Mello

A divulgação este fim de semana dos Princípios Editoriais das Organizações Globo tem por finalidade dar uma resposta à sociedade que clama por regulação. Eles sabem que não podem mais continuar fazendo o que vinham fazendo e tentam se antecipar à legislação para criar um ambiente favorável, no sentido de argumentar que, sozinhos, são capazes de impor uma norma de conduta. Nada mais falso, como conta Rodrigo Vianna (aqui).

Pesquisas qualitativas tem demonstrado que o público voltou a ter antipatia pelo jornalismo praticado pela emissora. O monopólio da verdade acabou. Com o advento da internet (que eles próprios elogiam, já que têm enormes interesses comerciais e investimentos nesse setor) o consumidor de informação deixou de ser massa acrítica. Hoje, uma informação veiculada por eles é confrontada em seguida logo depois, com fez o xará Mello (aqui).
Para trazer informação de qualidade é preciso não ignorar o contraditório, não fazer juízos apressados e preconceituosos, não testar hipóteses irresponsavelmente e não subestimar a capacidade de seu público. Muitos podem até absorver conteúdo inercialmente, mas muitos também estão dispostos a dizer basta. Basta de manipulação, basta hipocrisia, basta de irresponsabilidade (aqui).

Ao definir o jornalismo que fazem, ressaltam: "Livre de prismas e de vieses, pelo menos em intenção, restará apenas o noticiário. Mas, se de fato o objetivo do veículo for conhecer, informar, haverá um esforço consciente para que a sua opinião seja contradita por outras e para que haja cronistas, articulistas e analistas de várias tendências." Desafio os leitores a encontrarem vozes dissonantes em política e economia, por exemplo. Vejam uma amostra do que fazem (aqui).

Informação de qualidade, segundo o documento, tem que ter: isenção, correção e agilidade. Ótimo, bom tripé. No entanto, o jornalismo da emissora não é isento. Posso garantir - como ex-funcionário durante 12 anos - que todo conteúdo "sensível" à emissora, não só é acompanhado de perto pela direção como é modificado e devolvido para os jornalistas. E ai daquele que ouse discordar.

Na seção II o documento prega a relação entre os jornalistas e as fontes. Posso afirmar, são no geral muito promíscuas. Como a TV é vitrine, quase sempre o que temos entre repórter e entrevistado é uma relação pautada pelo interesse recíproco. Como o alcance sempre foi grande, muitas "fontes" se acostumaram a frequentar os noticiários, mesmo quando suas declarações com frequência eram retiradas de contexto.

Quanto aos valores, "As Organizações Globo serão sempre independentes (dependendo do patrocinador - grifo meu), apartidárias (quando o PSDB não estiver no pleito - grifo meu), laicas (quando o Papa não se pronunciar oficialmente - grifo meu)." E prossegue: "Não serão, portanto, nem a favor nem contra governos, igrejas, clubes, grupos econômicos, partidos. Mas defenderão intransigentemente o respeito a valores sem os quais uma sociedade não pode se desenvolver plenamente: a democracia, as liberdades individuais, a livre iniciativa, os direitos humanos, a república, o avanço da ciência e a preservação da natureza." Aqui deixo para os leitores comentarem.

http://maureliomello.blogspot.com/2011/08/o-gigante-no-pantano.html

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