Foto: DIVULGAÇÃO
O deputado Lincoln Portela, braço direito de Valdemar Costa Neto, lidera a rebelião do seu partido
A força de Portela, que é braço direito do deputado Valdemar Costa Neto, um dos protagonistas do Mensalão, reside nos 40 deputados do PR, a quem ele imagina controlar. Mas o fato é que a presidente Dilma Rousseff só teria a ganhar com esse rompimento, dada a ficha do parlamentar, que circula apenas no baixo clero do Congresso Nacional.
Radialista e apresentador de TV, Portela apenas era conhecido por dois projetos de lei que marcaram época no Congresso Nacional e entraram para o folclore político: um criava o “Dia do Sono” e o outro proibia que se empinassem pipas em todo o território nacional. O primeiro não despertou nem o sono e nem o apoio dos dorminhocos, mas o segundo o transformaria no maior algoz da infância brasileira desde a “Cuca” e o “bicho-papão”. Ambos, é claro, foram rejeitados ainda no nascedouro.
Depois de um longo tempo recolhido ao baixo clero da casa, onde sua figura discreta e desconfiada não gozava de qualquer prestígio entre os colegas, Portela tirou a sorte grande: tornou-se homem de confiança de Valdemar da Costa Neto, o “Boy”, deputado federal paulista e “dono” do PR. Passou a ser seu braço-direito e fiel escudeiro, levando recados e angariando votos, assumindo compromissos em nome do chefe e farejando boas oportunidades. Mais que isso: “Boy” não faz nada sem ouvir Lincoln Portela, cuja influência também se estende sobre o ex-ministro e senador Alfredo Nascimento (AM). Em verdade, a bordo de um ar soturno e dos óculos cujo gosto muitíssimo duvidoso salta à primeira vista, ele se tornou uma espécie de “rei do baixo clero”, segundo confidenciou um petista mineiro à reportagem do Brasil247.
Inquérito da Procuradoria-Geral da República
Vários parlamentares, não só do PR como de toda a base aliada, são unânimes em garantir que Portela se tornou um afortunado “operador” nos escaninhos da administração pública. Não por acaso o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, pediu ao Supremo Tribunal Federal licença para proceder à instauração de inquérito visando à apuração da prática de uma série de crimes atribuídos ao parlamentar. O STF acolheu o pedido e o relator, ministro Joaquim Barbosa, o enviou à Polícia Federal para as devidas diligências.
A PGR o acusa de violar a Lei de Licitações, de apropriação ou desvio de bens públicos e de lavagem de dinheiro (art. 89 da Lei 8.666/1993, art. 312 do Código Penal e Lei 9.613/1998). Lincoln Portela, como membro da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos deputados, em março de 2009, foi o solitário voto contra a aprovação de um substitutivo do jurista e deputado Antônio Carlos Biscaia (PT/RJ) à Lei 9.613/98 endurecendo drasticamente as punições à lavagem de dinheiro, com as penalidades passando de três para até 18 anos de reclusão. Portela apresentou um parecer paralelo, mas ficou falando sozinho.
O líder do PR na Câmara dos Deputados também é réu por improbidade administrativa em ação que tramita no Tribunal Regional Federal da 1ª Região. A denúncia foi recebida em março de 2010 e gerou o processo nº 25527-20.2009.4.01.3800. Apesar de tudo isso, Portela tem pretensões de disputar a prefeitura de Belo Horizonte no próximo ano ou ser candidato a vice-governador de Minas Gerais em 2014.
Portela também foi um dos deputados federais mineiros que mais sacou a verba indenizatória de despesas externas (viagens, combustíveis, etc...) que a Câmara Federal paga: em 2005, por exemplo, chegou a estourá-la, recebendo a bagatela de R$ 179.748,92; seu nome apareceu no chamado “escândalo das passagens aéreas”, denunciado pelo Congresso em Foco, de Brasília, com oito bilhetes emitidos em nomes de terceiros; foi citado como sendo um dos beneficiados no escândalo das sanguessugas e, em reportagem recente da revista Época, também foi elencado como um dos novos nomes que teriam recebido o “mensalão” do publicitário mineiro Marcos Valério.
Lincoln Portela, o homem que atua nos bastidores para que seu Partido da República rompa com Dilma Rousseff se não voltar a ter uma fatia suculenta do poder como nos bons tempos do DNIT, demonstra apetite semelhante ao de outra personagem que emergiu, como ele, do baixo clero para a ribalta, Severino Cavalcanti, aquele que queria uma diretoria da Petrobrás (“mas daquelas que fura poço!”).
Um almoço com ele pode sair caro.
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