Foto: ED FERREIRA/AGÊNCIA ESTADO
NO CASO PALOCCI, QUE ERA O “SUPERMINISTRO” DE DILMA, O PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA ARQUIVOU AS DENÚNCIAS, MAS ELE FOI DEMITIDO; COM O TITULAR DOS ESPORTES, ACONTECEU O CONTRÁRIO; DE ONDE VEM A FORÇA DE ORLANDO SILVA? SERÁ DE LULA?
247 – Mais uma semana tensa chegou ao fim, as revistas semanais estão nas bancas e Orlando Silva ganhou mais do que uma sobrevida: ele se fortaleceu. Saiu de uma reunião com a presidente Dilma Rousseff na noite de sexta tuitando que continuaria ministro e arrancou até uma nota do Palácio do Planalto em seu favor. De acordo com a presidente Dilma, o governo “não condena sem provas”.
Mais ou menos verdade. No caso Palocci, um dia antes de sua demissão, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, determinou o arquivamento das denúncias de enriquecimento ilícito do então ministro da Casa Civil. Apesar disso, Dilma Rousseff, que teria um argumento jurídico para mantê-lo – “o governo não condena sem provas” – o demitiu. Com Orlando Silva, aconteceu justamente o contrário. O procurador Gurgel enviou ao Supremo Tribunal Federal um inquérito que recomenda a investigação do ministro. E Dilma, que, desta vez, teria argumentos para demiti-lo, preferiu mantê-lo.
Por que será? De onde vem a força de Orlando Silva? Uma das teorias diz respeito ao possível contágio da crise. Do ponto de vista imediato, ela atingiria o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, antecessor de Orlando Silva nos Esportes. E, de fato, das três revistas semanais, a que trouxe a reportagem mais quente foi Istoé, com uma testemunha que relata uma propina de R$ 150 mil a Agnelo. Época pouco avança em relação aos esquemas do PC do B e Veja traz o áudio de uma reunião em que assessores de Orlando – e não o ministro – dialogam com o delator João Dias, que, aparentemente, tentava chantageá-los.
Aval de Lula
Sabe-se que um dos grandes defensores de Orlando Silva é o ex-presidente Lula. Tanto ele como Dilma são candidatos à presidente em 2014 e o “ex” já anda excessivamente incomodado com a “faxina” de Dilma, que, curiosamente, só atinge colaboradores seus – não dela (leia mais a respeito, no artigo “Segundo Tempo”).
O pano de fundo dessa guerra tem dois protagonistas: Lula e Dilma. E o jogo não está decidido.
Com apoio de Lula, Orlando publicou na Folha de S. Paulo deste sábado, um artigo em que se defende de todas as acusações. Leia abaixo:
“Não compactuo com o malfeito, não o admito”
Estou, há uma semana, submetido à execração pública. O bombardeio é intenso.
A calúnia máxima, a de que recebi dinheiro na garagem do prédio do Ministério do Esporte, foi nos últimos dias potencializada por uma sucessão de outros fatos divulgados pela mídia.
A cada manhã me pergunto: qual a nova mentira que ganhará as manchetes de hoje? O que mais irão inventar sobre mim e minha gestão? Qual o novo ataque ao meu partido, o PC do B?
Há uma semana repito à exaustão o mantra-resposta fruto de minha total indignação: não houve, não há e não haverá provas sobre o que me acusam, simplesmente porque se trata de uma farsa. Provas quem possui sou eu contra o meu agressor, João Dias, que desviou recursos públicos de um convênio assinado com o Ministério do Esporte e, como resultado, teve a prestação de contas rejeitada. Por isso, determinei a devolução do dinheiro. O valor pode ultrapassar R$ 5 milhões.
Eu exigi a devolução do dinheiro publico! Não agora, mas há mais de um ano, quando decidi pela instauração de Tomada de Contas Especial, respeitando os trâmites legais, com o envio do processo à Controladoria-Geral da União (CGU) e ao Tribunal de Contas da União (TCU).
O parecer técnico que embasa nossa cobrança de devolução do dinheiro serviu de base para uma ação penal do Ministério Público Federal contra os que me acusam e que, segundo o procurador da República, agiam em quadrilha. O Ministério do Esporte colaborou desde o início com os trabalhos da Polícia Federal e do próprio MPF para a abertura de processos contra o grupo.
Atenção! Descobrimos um criminoso que desviou dinheiro público, acionamos todos os mecanismos legais para puni-lo, inclusive exigindo a devolução dos recursos, e como ele reage? Me acusa! Me ataca!
Mente! Inventa uma história sem qualquer comprovação! E o que é pior, todas as mentiras ganham ares de "verdade", pela maneira como foi reproduzida e generalizada pelos meios de comunicação.
Desde então, uma avalanche de insinuações são publicadas dia a dia. Dizem meus detratores: não importa processo, não importam as provas. Há um julgamento sumário onde decretam a culpa e exigem a eliminação de um ministro. Querem demitir um ministro no grito!
Imagine onde vamos chegar se, em cada processo administrativo em que se exija a correção do malfeito, surgir o delinquente que o praticou e acusar o gestor para intimidá-lo?
Desde a primeira hora, eu solicitei todas as medidas possíveis para apurar com urgência as mentiras publicadas contra mim e meu partido. Requeri ao dr. Roberto Gurgel, chefe do Ministério Público Federal, a apuração dos fatos relatados pela publicação.
Pedi a mesma apuração também ao ministro da Justiça, através da Policia Federal. Ofereci a abertura do meu sigilo bancário, telefônico, fiscal e de correspondência.
Outro expediente foi endereçado ao sr. José Paulo Sepúlveda Pertence, presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, para que ali pudesse expor a minha visão acerca das denúncias.
Todas essas providências foram requisitadas por mim! Solicitei audiências na Câmara e no Senado Federal para prestar esclarecimentos aos parlamentares. Abri minha vida. Insisto, eu propus todas essas medidas.
Na quinta-feira, dia 20, a AGU, a meu pedido, ofereceu queixa-crime à Justiça Federal para abertura de ação penal contra João Dias e Célio Soares Pereira, meus caluniadores. A condenação nesse tipo de delito pode ocasionar até mesmo a prisão dos caluniadores.
Depois de um verdadeiro massacre, baseado em mentiras publicadas diariamente, cheguei a uma conclusão: não adianta explicar, afinal nossos inquisidores estão surdos. Até na guerra há regras.
Desde 2006, dirijo com muito orgulho o Ministério do Esporte. De lá para cá, houve importantes mudanças na política pública do esporte e lazer em nosso país.
Quando assumi a pasta, tínhamos uma missão muito importante: a realização dos Jogos Pan e Para Pan-Americanos. Conquistamos, depois, a Copa do Mundo Fifa 2014 e os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016.
Na agenda social, o Segundo Tempo é um marco, atendendo perto de 2 milhões de crianças. São 232 convênios em vigência, dos quais apenas 25 com ONGs. Os 207 outros convênios são com governos estaduais, municipais e universidades federais.
Em 2011, introduzimos uma novidade, uma Chamada Pública iniciada em julho e encerrada em setembro, pela qual selecionamos os novos parceiros do programa. E todos serão entes públicos. Essa é uma decisão de gestão.
Erros podem ter existido. Mas não compactuei com o malfeito, no passado, não o admito, no presente, assim como nunca o tolerarei, no futuro. Sempre que detectado, determinarei a apuração. No caso de ser pertinente, haverá a punição de quem quer que seja.
Sou comunista, tenho orgulho da minha tradição e da história do meu partido. São quase 90 anos de luta a favor do povo brasileiro, em diversas frentes de batalha.
Contra nós, tentaram tudo: perseguições, tortura, prisões e assassinatos. Mas nunca destruíram nossos sonhos nem nossos ideais. Nesse atual embate, ao atacarem meu partido, depararam-se com uma fortaleza. Uma organização unida, pronta para o combate.
Vou até as últimas consequências para defender a minha honra e a história do PC do B, repudiando igualmente a tese de que o Ministério do Esporte tenha sido palco de crime que visasse benefícios escusos.
É muito importante a liberdade de imprensa. Mas essa deve ser exercida com responsabilidade, com a devida apuração dos fatos. O que não houve nesse caso.
ORLANDO SILVA JR. é ministro do Esporte
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