Geraldo Alckmin encontrou-se em segredo com José Serra. Deu-se há três dias. Dividiram a mesa de jantar. Entre o repasto e o cafezinho, conversaram por cerca de três horas.
Lero vai, lero vem Alckmin fez um apelo a Serra. Pediu-lhe que reveja a decisão de não disputar a prefeitura de São Paulo. Convidou-o a assumir a vaga de candidato do PSDB.
Ao reproduzir o diálogo a políticos que lhe devotam fidelidade, Serra reiterou sua indisposição de trocar as ambições nacionais por um projeto municipal. Sonha com 2014, não com 2012.
Por mais que Serra soe peremptório, o generalato do PSDB resiste em levá-lo a sério. “Sempre foi assim”, diz um quatro estrelas do partido. “Serra se faz de difícil, mas os fatos o levarão a mudar de ideia.”
O PSDB encurrala Serra. O apelo reservado de Alckmin foi precedido de declaração pública de Fernando Henrique Cardoso: Aécio Neves é o “candidato óbvio” do PSDB à sucessão presidencial.
Nas maquinações do alto comando do tucanato, Serra teria duas alternativas: ou vai à sorte dos votos no município ou candidate-se ao ostracismo, sem a tribuna que um mandato propicia.
Serra já exalava irritação. Depois do comentário de FHC, passou a bufar. Olha ao redor com um misto de irritação e decepção. Irrita-se com a falta de sutileza. Decepciona-se com o “desrespeito”.
Para Serra, os operadores do PSDB faltam-lhe com o respeito ao ignorar sua trajetória partidária, sua biografia e os mais de 43 milhões de voto que amelhou na disputa contra Dilma Rousseff, em 2010.
Remando na contramaré, considera-se mais presidenciável do que Aécio. Imerso em seus rancores, diz que o antagonista interno não exibe nem mesmo disposição para se opor ao PT e ao governo.
Nesse ponto, a opinião de Serra coincide com a da maioria. Porém, a cúpula do PSDB prefere empurrar Aécio, um presidenciável zero quilômetro, a reembarcar em Serra, já derrotado por Lula e Dilma.
Num instante em que o tucanato sinaliza a disposição de desligar Serra da tomada caso ele insista em refugar a opção municipal, surgiu no cenário uma fonte alternativa de energia.
Serra recebeu a visita de um velho amigo. Presidente do PPS, o deputado Roberto Freire convidou-o a abrigar-se na sua legenda. “O PSDB não está sendo correto com Serra”, diz Freire.
“Ele liderou a oposição em 2010, teve quase 44 milhões de votos. Eu disse a ele que, se não tiver condições ou não desejar ficar no PSDB, o PPS é uma alternative real.”
Serra respondeu a Freire que, por ora, não cogita trocar de partido. “Evidentemente, essa hipótese agora faz parte do cenário”, raciocina o mandachuva do PPS.
Freire acrescenta: “Se o Serra vier, não virá sozinho. A perspectiva é de atrair outras lideranças que estejam insatisfeitas e que tenham a ver com a esquerda democrática no Brasil.”
Observador atendo da cena, o vice presidente do DEM, José Carlos Aleluia, enxerga no horizonte de 2014 uma outra fresta pela qual Serra pode se esgueirar.
Aleluia recorda que o PSD, legenda de Gilberto Kassab, reivindica no TSE acesso às verbas do Fundo Partidário e ao tempo de radio e tevê. Acha que o PT dá asas a Kassab sem observar-lhe o plano de vôo.
“Se derem tempo de televisão ao Kassab, a candidatura presidencial do Serra está pronta”, prospecta Aleluia. “O PSD ganha musculatura para ter uma candidatura nacional.”
“E quem será o candidato do Kassab?”, questiona-se o dirigente do DEM. “Muito provavelmente, pelas relações que os unem, será o Serra. Se não for para o Serra, o PSD vai para o Eduardo Campos.”
Citado por Aleluia, o governador pernambucano Eduardo Campos preside o PSB. Cultiva o sonho de tornar-se uma opção presidencial operando do lado de dentro do condomínio governista.
Eduardo achegou-se ao PSD de Kassab já na fase de constituição do novo partido, no ano passado. Para 2012, costura com Kassab alianças em dezenas de municípios brasileiros.
Como se trata de parceria recente, Aleluia crê que, na hora em que as onças tiverem sede, Kassab oferecerá a primeira tina de água a Serra, não a Eduardo.
“Dilma e o PT são, hoje, os maiores interessados em que Kassab não obtenha tempo de tevê”, imagina Aleluia. Há um quê de Wishful thinking nesse tentaiva de exercício da lógica.
Se Kassab prevalecer no TSE, o DEM será o maior prejudicado. No fundo, as palavras de Aleluia carregam o desejo de que o petismo acorde para o “risco Kassab” e se associe ao bloco de partidos que tenta impedir uma virada de mesa na Justiça Eleitoral.
Seja como for, fica entendido que, mantido o cerco do PSDB, Serra já dispõe de portas de saída. Se não quiser digerir o apelo que Alckmin lhe serviu no jantar, pode buscar fora do PSDB atalhos à encruzilhada.
Nessa hipótese, Serra se esquivaria do risco de um infortúnio municipal e manteria semivivo o projeto presidencial. O êxito da empreitada seria incerto. Mas a diversão da plateia estaria assegurada.
Seria engraçado assistir a uma sucessão presidencial em que José ‘Obstinado’ Serra, autocovertido em ex-tucano, medisse forças com Aécio ‘Óbvio’ Neves.
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