segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Disputa de SP é janela aberta para o insondável


Quentes como pão do dia, os dados expostos na última sondagem do Datafolha revelam: a disputa pela prefeitura de São Paulo ferve apenas nas manchetes. Aos olhos do eleitor, continua no freezer.
Deve-se a atmosfera gélida, sobretudo, à taxa de desconhecimento dos potenciais contendores. Apenas dois nomes são reconhecidos instantaneamente pela maioria dos pesquisados.
Um, o tucano José Serra, declara-se não-candidato. Outro, o vereador-pagodeiro Netinho de Paula, pseudocandidato do PCdoB, é tratado nas articulações de sua legenda como um ‘quase-ex-postulante’.
Sobram um punhado de ignorados e o aventureiro Celso Russomano. Desprezado pelo PP de Paulo Maluf, o ex-deputado cavalga o minúsculo PRB. Vitaminado pela invisibilidade provisória dos rivais, Russomano amealha entre 17% e 21% das intenções de voto. Só perde a liderança no cenário que inclui o não-candidato Serra.
Se atendesse aos apelos do PSDB, Serra entraria na disputa com 21%. Para alguém que acaba de experimentar a superexposição de uma refrega presidencial, é pouco. Muito pouco. Pouquíssimo.
Nas dobras da pesquisa, surge um dado que ajuda a explicar os temores de Serra: 33% dos paulistanos declaram que não votariam nele em nenhuma hipótese. Só Netinho soma rejeição maior: 35%.
Significa dizer: aceitando o papel de candidato, Serra iria ao ringue como tucano muito bem cotado para fazer de um de seus antagonistas o próximo prefeito de São Paulo. Ótimo para Aécio Neves.
Resta ao PSDB ruminar a perspectiva de fiasco insinuada nos índices colecionados pelos quatro tucanos que disputam a preferência do partido. Bruno Covas, José Aníbal, Ricardo Trípoli e Andrea Matarazzo oscilam no constrangedor intervalo de 2% a 6%.
Fernando Haddad, o candidato levado à pista por Lula, tampouco decolou. No seu melhor cenário, soma irrisórios 5%. Por ora, não é senão um sub-Chalita.
Gabriel Chalita, a opcão empinada pelo vice-presidente Michel Temer, oscilou positivamente em todos os cenários. Coisa mixuruca, dentro da margem de erro da pesquisa. Hoje, vai de 6% a 9%.
Eis o que revela, em essência, o Datafolha: longe da fervura do noticiário, o quadro atual é muito parecido com a geleira exposta na penúltima pesquisa, divulgada em dezembro. Espremendo-se as estatísticas, pode-se concluir:
1. Nunca antes na história desse país o tempo de tevê foi tão relevante numa eleição municipal. Os desconhecidos tornaram-se ‘teledependentes’. A costura das coligações ganha um relevo inaudito.
2. Cresce também a importância dos padrinhos políticos. Nessa matéria, Haddad leva franca vantagem. Metade dos eleitores da cidade de São Paulo declara-se disposta a votar no nome que Lula indicar.
Um terço dos pesquisados revela-se propenso a entregar o voto ao preferido de Geraldo Alckmin. Ou seja: o governador tucano não chega a ser um Lula. Mas seu apoio não é negligenciável.
Com a popularidade de sua gestão em queda, o prefeito Gilberto Kassab exerce influência sobre a decisão de escassos 14% dos eleitores. É pouco. Mas, numa disputa apertada, pode definir a eleição. Melhor não desprezar.
3. Junto com os padrinhos, costumam vir as máquinas. Lula arrasta para a disputa a engrenagem federal tocada por Dilma Rousseff. Alckmin carrega a estrutura estadual. E Kassab, a municipal.
Por baixo, o peso dos governos ajuda a engordar as arcas e a azeitar os acordo$ partidários. Pelo alto, propicia uma vitrine extra-legal aos candidatos. Tome-se o exemplo de Haddad.
Dilma trombeteou o candidato petista em pelo menos dois eventos oficiais. Num, elogiou-o numa insuspeita inauguração de creche, em Angra dos Reis (RJ).
Noutro, abriu o Planalto para uma suspeitíssima solenidade de despedida do ministro-candidato. Um evento adornado pela presença de Lula e embalado pela defesa das indefensáveis falhas do Enem.

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