Réu em pelo menos sete processos, Champignon estava atolado em dívidas e abatido pelas críticas dos fãs que o acusavam de ser traidor por assumir o lugar de chorão na banda. Ele não aguentou tanta pressão e se matou
Natália Mestre
Champignon bateu um papo com a nossa reportagem em 2011. Relembre em vídeo os melhores momentos:
Por volta das 14h do domingo 8, uma montagem exibida no Facebook fez chorar o baixista Luiz Carlos Leão Duarte Junior, o Champignon, ex-integrante das bandas Charlie Brown Jr., Nove Mil Anjos e A Banca – grupo com os integrantes remanescentes do Charlie Brown Jr., criado menos de um mês após a morte do vocalista Chorão. A foto trazia o nome Os Mercenários no lugar de A Banca e a frase “Eu sou Judas” sobre o peito de Champignon. “Assim que vi, entrei em contato com ele. Eu o conhecia muito bem, sabia que estaria abalado”, conta o cantor Perí Carpigiani, ex-companheiro dele na Nove Mil Anjos. Foi uma conversa rápida, mas Champignon mostrou-se abatido. “Ele me disse que as pessoas não faziam ideia da dor dele naquele momento”, conta Perí. À noite, o baixista foi jantar no restaurante japonês Sushi da Villa com a atual mulher, Cláudia Bossle Campos, grávida de cinco meses, e um casal de amigos. Champignon exagerava nas doses de saquê, o que motivou uma discussão com a esposa. Pouco depois da meia-noite chegaram em casa e entraram no elevador sem se falar. O baixista fez um gesto de degola em direção às câmeras de segurança. Ao entrarem no apartamento, Champignon se trancou no quarto onde guardava instrumentos, pegou a pistola 380 e deu dois tiros: o primeiro no chão, como um teste, e o segundo na cabeça. Morreu na hora, aos 35 anos.
Foi um desfecho trágico de uma história de altos e baixos. Ele vinha tentando se reconstruir após a perda de dois grandes amigos e companheiros de banda: Chorão, do Charlie Brown Jr., que morreu de overdose em março, e Peu Sousa, da Nove Mil Anjos, que se enforcou em maio. “Meu irmão estava deprimido, triste. Ele se sentia só e sem amigos”, afirma a irmã Elaine Duarte. Champignon também estava atolado em dívidas. Nos últimos anos, chegou a fazer pelo menos duas declarações de pobreza à Justiça requisitando defensores públicos para representá-lo na Justiça – ele era réu em sete processos nas cidades de Santos, São Vicente e São Paulo. O Banco Matone cobrava a devolução de um imóvel em São Paulo onde moravam sua ex-mulher e sua filha Luiza, de 7 anos. Em 2001, o Banco Continental pediu a devolução de um veículo financiado e não quitado. Em 2009, a Justiça o condenou a pagar R$ 96 mil para a Engeterpa Construções e Participações. No ano passado, o músico deixou de pagar o IPVA de seu carro, um Gol 2007. Além disso, correm duas ações judiciais por não pagamento de pensão alimentícia.
GRUPO
À dir., a banda Charlie Brown Jr.: Chorão (no centro) morreu de overdose
há seis meses e Champignon (segundo à esq.) se suicidou
Ainda assim, havia perspectiva de melhoras. Em dez dias, A Banca daria início à gravação do clipe da música “Novo Passo”, que fala justamente sobre a coragem de recomeçar. “Ele era o mais empolgado da turma, sempre cheio de ideias para o clipe”, disse o diretor Rodrigo Bernardo. O grupo também estava prestes a sair em turnê do novo disco, recém-lançado. “Nos vimos um dia antes de ele morrer. Ele estava muito animado com os próximos shows”, conta o baterista Bruno Graveto. Grávida de uma menina, a viúva deixou uma mensagem no Facebook na quarta-feira 11, agradecendo o apoio dos fãs e amigos. “Ainda não sei como vou suportar. Vivi o amor mais sublime e raro. Ele era a pessoa mais encantadora e maravilhosa do mundo!!! Sorte de quem pôde conhecê-lo.”
DOR
A viúva, Cláudia Bossle Campos (no centro),
no enterro, com o chapéu de Champignon
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