sábado, 14 de setembro de 2013

Filiações furadas


Por que Marina Silva não consegue transformar seus 20 milhões de votos em 500 mil assinaturas para fundar seu partido

Josie Jeronimo
Nos últimos sete meses, a ex-senadora Marina Silva e seus aliados não conseguiram transformar o capital eleitoral de 20 milhões de votos, obtidos nas eleições de 2010, em 500 mil assinaturas válidas para registrar seu partido, a Rede, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A imagem de política não tradicional que a ex-seringueira construiu perante o eleitorado até ajudou os chamados “mobilizadores” a convencer simpatizantes da Rede a assinar formulários em favor da criação da nova legenda. Feiras de produtos orgânicos e igrejas evangélicas, onde se encontra o público-alvo de Marina, foram os locais escolhidos para recolhimento de assinaturas. Mas o esforço não foi suficiente para que as adesões passassem no teste da burocracia. Na verdade, sobrou jeitinho e empenho, mas faltou formalidade. Segundo os cartórios responsáveis por analisar as fichas de filiação fornecidas pela Rede, foram apresentadas assinaturas suspeitas, signatários com ausência de dados eleitorais e até vistos de pessoas que não votam há anos e nem sequer possuem título de eleitor ou estão com o documento suspenso. No afã de alcançar as 500 mil assinaturas necessárias ao registro do partido, a Rede aceitou fichas até de quem preencheu apenas o nome da mãe e a data de nascimento. Assim, dos 640 mil formulários, 336 mil foram rejeitados pelo TSE. Para o partido ser oficialmente criado ainda faltam 100 mil assinaturas válidas. “A coleta foi feita nas ruas. Às vezes a pessoa assina mais para se livrar da gente”, reconheceu o deputado Domingos Dutra (MA), que trocou o PT pela Rede.
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Nos últimos dias, apoiadores de Marina desenvolveram um programa capaz de cruzar os nomes das pessoas favoráveis à criação do partido com o banco de dados eleitorais. Dessa forma, imaginavam completar as informações que faltavam em muitos dos formulários. Mas o acesso à íntegra das informações cadastrais dos 141 milhões de eleitores solicitado pela Rede foi negado. O partido de Marina não conseguiu contornar as dificuldades como fizeram recentemente outras agremiações, como o PSD, por exemplo. Em seu processo de criação, que não ultrapassou sete meses –, também enfrentou problemas para certificar as assinaturas, mas anteviu o impasse e coletou três vezes mais vistos do que o exigido pela lei. Do 1,2 milhão de assinaturas, os idealizadores do PSD validaram pouco mais de 500 mil exigidas pelo TSE. Já o Solidariedade, partido fundado pelo deputado Paulo Pereira da Silva (SP), egresso do PDT, contou com o poder de mobilização das entidades trabalhistas da Força Sindical. Em dez meses, não conseguiu um milhão de assinaturas, como o fundador do PSD, Gilberto Kassab, mas a maioria dos 600 mil formulários que enviou à Justiça Eleitoral foi preenchida com dados consistentes. Donos de uma estrutura bem menor e sem contar com puxadores de assinaturas de renome, o nanico PEN e o Partido Republicano da Ordem Social (PROS) estão prestes a serem formalizados. Demoraram, no entanto, quatro anos para recolher as assinaturas necessárias para dar entrada ao pedido de registro na Justiça Eleitoral.
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Segundo integrantes da Rede, a falta de um perfil definido que caracterize a nova legenda também tem dificultado na hora de colher as assinaturas de apoio à sua criação. “Por enquanto, o partido de Marina comporta muitos rótulos. Verde, evangélico, alternativo e conservador. Essa diversidade muitas vezes atrapalha”, afirmou um apoiador da ex-senadora. Uma saída foi recorrer a legendas consideradas aliadas em alguns Estados. No Acre, Marina pediu ajuda a diretórios municipais do PT para coletar vistos. Em Minas Gerais, foram os diretórios do PSDB no interior do Estado que fizeram as vezes de cabos eleitorais para Marina. No Maranhão, coube a setores do PDT a fornecer apoio. Porém, de acordo com pessoas envolvidas na coleta de assinaturas da Rede, como faltou uma padronização no trabalho, relatórios desconexos acabaram sendo produzidos. Para piorar, apoiadores da Rede ainda tiveram que amargar um prejuízo de R$ 800 mil para a montagem de um partido que nem sabem ainda ao certo se de fato irá sair do papel. Para amealhar o dinheiro, contaram com a ajuda de doadores, mas a futura legenda ainda não prestou contas aos seus futuros filiados.
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FORÇA REDOBRADA
Para conseguir fundar o Solidariedade, o deputado Paulinho
contou com o apoio dos sindicatos que controla
Feirão partidário – Perto do fim do prazo de filiação para quem pretende disputar a eleição de 2014, os partidos têm promovido um verdadeiro feirão com ofertas que vão da distribuição de poder dentro da futura sigla a liberações de recursos do Fundo Partidário para serem utilizados nos Estados. O Solidariedade, além de contar com a ajuda de sindicatos controlados por Paulinho da Força, para aumentar seus quadros oferece a presidência do partido no Estado ao filiado com mandato. Paulinho também se transformou num mercador do tempo de tevê. Na negociação, garante os cerca de dois minutos de propaganda que a nova legenda terá direito para os governadores que conseguirem filiar ao partido o maior número de deputados federais. Paulinho já fez esse acordo com os governadores Marconi Perillo (PSDB-GO), Beto Richa (PSDB-PR), André Puccinelli (PMDB-MS), Cid Gomes (PSB-CE) e Eduardo Campos (PSB-PE).
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COM QUE ROUPA EU VOU? 
Após desistir da filiação ao PP, o deputado Carlos Mannato (ES) assinou a
ficha do Solidariedade e correu para mudar as cores do comitê eleitoral 

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