Derrotado, Barbosa poderá ficar só. A mídia costuma descartar os que não são mais úteis para os seus propósitos
Joaquim Barbosa jogou o jogo que a mídia julgou mais conveniente. Virou heroi.
Fotógrafos andavam em seu encalço, como o fazem com celeridades e subcelebridades. O homem ganhou visibilidade e, com ela, ganhou musculatura e, com ela, arreganhou os dentes.
Vociferou, esbravejou, fez caras e bocas e, inúmeras vezes, deixou-se fotografar de pé, imperial, diante de autoridades sentadas, olhando-o de baixo pra cima.
Foi um bom ator.
Os empresários da comunicação, os chamados barões da mídia, deram cada vez mais corda para o juiz implacável. Como fazem os traficantes para viciar jovens vulneráveis, a cada dia Barbosa ganhava um mimo de um articulista.
Até que foi brindado com uma capa da revista veja e com um título que o heroificava. O gesto grandiloquente buscava apoio da sociedade, adesão. Criaram uma peça de ficção e construíam para ela um enredo factível, criavam em torno dessa personagem uma realidade paralela.
Baudrillard chamava isso de simulacro.
Depois, testando hipóteses como diria Ali Kamel, alardearam que a máscara de Barbosa seria a mais vendida durante os festejos de carnaval. As máscaras encalharam. Deram com os burros n'água.
A mídia corporativa se especializou em promover "assassinatos de reputação", usando um termo feliz cunhado pelo jornalista Luiz Nassiff em sua análise sobre o anti jornalismo praticado pela revistaveja.
Mas nunca foi feliz em tentar forjar vestais. O caso Demóstenes Torres demonstra isso muito claramente. Com Barbosa não seria diferente.
Não foi sem entusiasmo que Barbosa entrou no jogo. O julgamento da AP 470 ganhou ares midiáticos. Com a orquestração de setores da mídia, tentaram contaminar os dois turnos das eleições municipais do ano passado.
Deram com os burros n'água.
Após as manifestações de junho, anunciaram, em mais um teste de hipóteses, que Barbosa seria um forte candidato a derrotar Dilma Rousseff.
Deram com os burros n'água. Não há uma única pesquisa eleitoral que seja animadora para o nosso neófito herói artificial.
Agora, no último 7 de setembro, a mídia convocou o povo às ruas e, na CBN, jornalistas apostaram garrafas de vinhos na certeza de que antes da Dilma subir no Rolls Royce para a parada militar as coisas sairiam como eles haviam planejado.
Deram com os burros n'água.
Se for confirmado, na semana que vem, o voto do decano Celso de Mello pela aceitação dos embargos infringentes, Barbosa e a mídia corporativa sofrerão mais uma derrota e o julgamento só será concluído no próximo ano. E aí a vaca poderá ir para o brejo.
Em 2014 teremos uma copa do mundo, com estádios testados e aprovados pelos torcedores, e o Brasil tem um ótimo time que poderá ser campeão.
Dilma continua subindo nas pesquisas e nesse ritmo, com um povo feliz com a taça na mão, emprego bombando, médicos mitigando o sofrimento dos miseráveis e inflação controlada, poderá vencer as eleições.
E os réus do PT poderão ter as penas reduzidas.
Se não renunciar à toga, como sugere um jornalista, é certo que Joaquim Barbosa perderá a relatoria da AP 470 e no final do próximo ano deixará a presidência do STF.
Ele já perdeu o respeito de seus pares, muitas foram as manifestações de repúdio ao seu comportamento oriundas de diversos setores da jurisprudência.
E Barbosa, derrotado, poderá ficar só. A mídia costuma descartar os que não são mais úteis para os seus propósitos.
Só restará a Barbosa refugiar-se em seu apartamento sem vista para o mar em Miami.
Com dores nas costas, ficará de pé em sua sala, olhando para o quadro na parede com a foto dele ainda menino, com aspecto sério e um pomposo título o encimando, em letras garrafais, O MENINO POBRE QUE MUDOU O BRASIL.
Coloca mais duas pedrinhas de gelo no copo com scotch e fica girando-as com o indicador. O telefone não toca.
ELÊ TELES
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