Em diversas ocasiões, o Ministro Joaquim
Barbosa insurgiu-se com o compadrio entre Ministros do Supremo e grandes
escritórios de advocacia. Chegou a falar em “conluios" entre grandes
escritórios de advocacia e juízes.
Em sua entrevista à Folha, o advogado José Gerardo Grossi escancara a hipocrisia de Barbosa.
Ele advogou de graça pelo Ministro, em uma interpelação judicial proposta pelo ex-Ministro do STF Maurício Correa.
Julgava-se determinada ação e Correa
tinha procuração nos autos para defender uma das partes. Na ocasião,
insistiu para que Barbosa julgasse. Barbosa não acreditou que Correa
tivesse procuração nos autos e acusou-o de praticar advocacia
administrativa.
Correa o interpelou. Ele procurou então
Grossi - dono de uma das bancas de advocacia mais caras e prestigiadas
de Brasília - para defendê-lo. Foi redigida a resposta, aceita por
Correa.
Na hora de acertar os honorários, Grossi
recusou-se a receber, conforme relatou na Folha: ""De juiz, eu não
cobro. Eles não ganham o suficiente para te pagar. Se tiver dinheiro,
melhor largar o caso”.
Barbosa aceitou o presente.
Da Folha
Para José Gerardo Grossi, interlocução com Barbosa é impossível
NATUZA NERY
O advogado que ofereceu um emprego a
José Dirceu em seu escritório criticou ontem o presidente do Supremo
Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, por ter vetado a autorização para o
petista trabalhar.
Por meio de nota enviada à Folha,
o criminalista José Gerardo Grossi afirmou que Barbosa tem uma visão na
área criminal que lembra a Inquisição, em uma atitude de pessoas que se
consideram infalíveis.
"A visão de justiça penal dele é torquemadesca, ultramontana", afirmou.
No primeiro caso, a menção é a Tomás de Torquemada, implacável inquisidor espanhol do século 15.
Já no segundo, refere-se ao
ultramontanismo, doutrina católica que defende o poder absoluto do papa e
a impossibilidade de o pontífice errar em questões de moral e fé.
Condenado no processo do mensalão a 7
anos e 11 meses de prisão, Dirceu cumpre pena desde novembro e queria
trabalhar no escritório de Grossi, com salário de R$ 2.100. A permissão
foi negada porque, na visão de Barbosa, condenados no regime semiaberto
precisam cumprir um sexto da pena antes de poderem trabalhar fora.
"Houvesse de escolher entre Tomás Torquemada e o bom juiz Magnaud, certamente ficava com este. A interlocução é impossível."
O "bom juiz Magnaud" foi um magistrado francês cujas decisões foram consideradas humanistas e arrojadas nos anos 1920.
Ao negar o pedido de Dirceu, Barbosa
chegou a afirmar que a oferta de emprego representou uma mera "ação de
complacência entre amigos", termo citado em francês no despacho do
ministro do STF. Grossi, que conhece Dirceu há anos, rebateu.
"Lamento que S. Exa., o Min. Barbosa,
tenha confundido um ato de generosidade, a meu sentir compatível com a
lei, com uma "action de complaisance entre copains". Logo ele que, já
ministro do STF, foi meu cliente e que, por isto, sabe ou devia saber'
que não sou advogado de complacências ou cumplicidades", alfinetou.
À Folha o advogado afirmou que não cobrou pela causa, uma interpelação feita por um ex-ministro do Supremo a Barbosa.
"De juiz, eu não cobro. Eles não ganham o
suficiente para te pagar. Se tiver dinheiro, melhor largar o caso",
brincou Grossi por telefone.
http://jornalggn.com.br/noticia/advogado-que-ofereceu-emprego-a-dirceu-advogou-de-graca-para-joaquim-barbosa
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