Nas entrevistas concedidas na segunda-feira ao Jornal Nacional e ao Jornal da Record, Dilma ressaltou a necessidade de muitas reformas, com destaque para a reforma política. Nesta terça, o jornal O Globo poderia ter estampado que a candidata eleita por mais de 54 milhões tem como uma das principais bandeiras a reforma política. Poderia ter estampado – não só hoje, como durante todo o ano – a luta da juventude brasileira por uma reforma política, apoiada por 7,4 milhões de assinaturas arrecadadas num plebiscito popula. Mas não. O jornal escolheu outros atores como protagonistas da discussão.
O tema que foi poucas vezes abordados pela imprensa ganhou a capa d'O Globo de maneira pessimista: “Congresso já resiste à ideia de plebiscito”.
Que Congresso? Os 513 deputados e 81 senadores? Ou as figuras escolhidas minuciosamente pelo jornal? Mais ainda: os deputados e senadores eleitos em outubro, ou os que estão terminando o mandato? Em mais de um ano de luta popular, a pauta pouco espaço teve. No dia seguinte à declaração de Dilma aos jornais, nomes como Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que não tiveram espaço na mídia durante o processo eleitoral, aparecem para afirmar que “a presidente quer substituir o Congresso e propor o plebiscito”. Por que Eduardo Cunha, um dos grandes articuladores das teles no Congresso, virou porta-voz da opinião do legislativo sobre reforma política?
A luta pelo plebiscito não é só de Dilma, é de um conjunto de movimentos sociais, é de uma juventude que quer voz, é reflexo das mudanças que junho do ano passado pediu. A pluralidade dos grupos que a demandam foi vista no encontro com a presidenta em setembro, no Palácio da Alvorada. O povo quer mais participação, o povo quer opinar diretamente sobre o futuro do país e o Congresso de pouca representatividade é questionado por muitos. Como afirma Rui Falcão, presidente do PT, “Só vamos obter a reforma política com mobilizações. Só pelo Congresso Nacional, seja na configuração atual, seja na futura, será praticamente impossível”. É necessário que a grande mídia dê espaço e voz a esses atores sociais, e não legitime apenas os personagens da política tradicional.
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