Em março de 2007, quando iniciou seu segundo mandato como deputado federal pelo PSDB de São Paulo, Aparecido comprou de Luiz Albert Kamilos e sua mulher, Sarah Giffali de Moura, um apartamento de 366 m², com quatro suítes, cinco vagas na garagem e sacada com vista para o parque Ibirapuera.
Pelo imóvel, Edson Aparecido afirma ter pago R$ 620 mil. A escritura, no entanto, traz o valor de R$ 1,07 milhão. No dia e mês em que o negócio foi fechado, imóvel semelhante no mesmo prédio, na rua Afonso Braz, Vila Nova Conceição, era avaliado em ao menos R$ 2 milhões, levando em conta o valor médio do metro quadrado no bairro (R$ 5.536) calculado pelo Secovi-SP (Sindicato da Habitação).
O apartamento do condomínio Maison Charlotte hoje é avaliado por ferramentas de busca em R$ 8,6 milhões. Corretores ouvidos pela reportagem estimam o valor atual entre R$ 7,5 milhões e R$ 10 milhões.
O condomínio está acima de R$ 6.000. O IPTU, segundo a prefeitura, custará este ano R$ 23.535,30 (se pago à vista).
O empreiteiro Luiz Albert Kamilos é dono da Construtora Kamilos Ltda., empresa especializada em infraestrutura de transportes e rodovias, que desde a década de 90 toca obras milionárias para o governo do Estado --especialmente junto ao DER (Departamento de Estradas e Rodagem). Os tucanos governam o Estado de São Paulo desde 1995.
Apenas nos últimos três anos, a Kamilos recebeu R$ 43 milhões do governo Alckmin, segundo o Portal da Transparência do Estado.
Kamilos também faz parte da diretoria do Sinicesp (Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de São Paulo). Sua construtora integra ainda o consórcio Planalto, que, em 2013, venceu leilão feito pelo governo federal do trecho da BR-050 entre Goiás e Minas Gerais. Com a concessão, o consórcio vai receber R$ 95,8 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para investir na rodovia.
"Informação confusa"
Edson Aparecido nega que haja qualquer irregularidade na compra de seu apartamento. Ele afirma que "não conhece" o empresário Luiz Albert Kamilos.Na primeira resposta encaminhada por e-mail na última segunda-feira (22), o chefe da Casa Civil de Alckmin disse que havia feito um acordo (não registrado) em 2001, para a compra do imóvel. Isso também está declarado na escritura.
Um dia depois, numa segunda versão, o secretário disse que nunca houve qualquer "acordo" e que tal informação consta de fato na escritura, mas é "confusa".
O secretário afirma ainda que comprou o imóvel por meio da imobiliária Coelho da Fonseca em 2007, mas não explicou por que teria obtido o "desconto".
Aparecido informa que, como parte do pagamento, foi incluído outro imóvel, então de sua propriedade, no valor de R$ 320 mil.
"Minhas respostas estão embasadas em minhas declarações à Receita Federal", afirmou o secretário. "Realizei uma compra completamente lícita. Não tinha como saber se o construtor imobiliário (sic) tinha negócios com o governo. Eu não era do governo e pouco me importava com as relações desse proprietário com quem jamais tive contato", declarou Aparecido.
Procurado duas vezes, o empresário Luiz Albert Kamilos, não respondeu aos pedidos de entrevista e tampouco entrou em contato por e-mail ou telefone (que foram passados aos seus assessores e funcionários).
Casa na praia e terreno não declarado à Justiça Eleitoral
Além desse luxuoso imóvel, Aparecido tem ainda uma casa com piscina em condomínio fechado na badalada praia de Maresias (litoral norte de SP). O imóvel mais barato desse condomínio (Vila Anoman) custa R$ 1,5 milhão, segundo corretoras de imóveis da região, consultadas pela reportagem. Como é um empreendimento muito valorizado, há pouquíssimas unidades à venda.
O secretário afirmou ao UOL que comprou o imóvel em 2005, por R$ 550 mil, a partir da venda de outro imóvel que teria em São Sebastião desde 1998. Porém, não há registro desse imóvel em nenhuma declaração do ex-deputado junto ao TSE entre 1998 e 2010 (ano de sua última prestação de contas eleitoral). Aparecido afirma ter declarado o imóvel à Receita Federal, mas não soube explicar o motivo pelo qual o mesmo imóvel não foi declarado à Justiça Eleitoral.
Braço direito de Alckmin
Edson Aparecido, 58, ocupa hoje o cargo número um do Estado. Comparativamente, ele está para Alckmin como Jacques Wagner está para Dilma Rousseff. A Casa Civil é responsável pela articulação política e também administrativa do governo.
O atual chefe da Casa Civil começou a carreira política na década de 70, como líder estudantil, quando integrou campanhas pela redemocratização do país. É um dos fundadores do PSDB e foi assessor do ex-ministro das Comunicações Sérgio Motta (1940-1998).
Foi deputado estadual entre os anos de 1998 e 2002, elegeu-se deputado federal por duas vezes (2006 e 2010). No ano seguinte, passou a integrar o governo Alckmin, primeiro como Secretário do Desenvolvimento Metropolitano e depois como titular da Casa Civil.
Aparecido coordenou as campanhas de Alckmin à Presidência da República (2006), à Prefeitura de São Paulo (2008) e ao governo do Estado (2014).
http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2016/02/26/n1-de-alckmin-comprou-imovel-de-empreiteiro-por-30-do-valor.htm
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