quarta-feira, 22 de junho de 2011


Em meio a tragédia, Cabral terá que dar explicações

Fábio Pozzebom/ABr
O país acompanhou no final de semana uma tragédia que ceifou a vida de sete pessoas próximas ao governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB).

O grupo viajara do Rio para Porto Seguro (BA), num jatinho que tinha Cabral como passageiro. 

Dali, governador e acompanhantes iriam a um resort em Trancoso.
A primeira leva de passageiros embarcou num helicóptero que caiu antes de alcançar o destino. Entre as vítimas, Mariana Noleto,namorada do filho de Cabral.
Licenciado do cargo até domingo (26), ainda em meio à atmosfera fúnebre, Cabral enfrenta agora um subproduto político do acidente.

Descobriu-se que o governador e suas companhias voaram para o Sul da Bahia nas asas de um jatinho Legacy de Eike Batista, dono do grupo EBX.

O passeio destinava-se a festejar o aniversário de outro empresário, Fernando Cavendish. Dono da empresa Delta, ele estava a bordo do avião de Eike.

Um grupo de cinco deputados estaduais, informa a Folha, enxergou na proximidade de Cabral com os empresários indícios de um caso de conflito de interesses.

Entre 2009 e 2010, a EBX de Eike obteve do governo do Rio benefícios fiscais estimados em R$ 75 milhões.

Entre 2006 e 2011, a Delta de Cavendish celebrou com a administração Cabral 27 contratos. Juntos, somam quase R$ 1 bilhão.

A conta não inclui as obras das quais a Delta participa como consorciada. A reforma do Maracanã, por exemplo, orçada também em R$ 1 bilhão.

Os deputados, que fazem oposição a Cabral, decidiram encaminhar ao governo um requerimento de informações.

Os termos da peça serão definidos em reunião marcada para esta quarta (22). Assinarão o texto:
Marcelo Freixo (PSOL), Janira Rocha (PSOL), Flávio Bolsonaro (PP), Clarissa Garotinho (PR) e Luiz Paulo Corrêa (PSDB).

Procurado, o governo fluminense saiu-se com uma explicação inconsistente. Disse que pedido de empréstimo da aeronave de Eike é democrático (!?!?!).

A alegação, além de vaga, não orna com o estatuto dos servidores do Rio. O documento proíbe funcionários e autoridades de:

"Exigir, solicitar ou receber vantagens de qualquer espécie em razão do cargo ou função, ou aceitar promessas de tais vantagens".

Ouvida, a Delta informou que todos os contratos que celebrou com o Estado respeitaram as leis.
Eike disse que empresta seu jatinho a quem bem entender.

Afora o favor aéreo, o magnata borrifou R$ 750 mil nas arcas eleitorais de Cabral, em 2010.
Em nota, Eike anotou: "Tive satisfação em ter colocado meu avião à disposição do governador Sérgio Cabral […]…”

"Sou livre para selecionar minhas amizades, contribuir para campanhas políticas, trazer a Olimpíada para o Rio…”

“…Apoiar a implantação das UPPs [Unidades de Polícia Pacificadora], patrocinar o RJX [time de vôlei masculino]…”

“…E auxiliar a realização de diversos projetos sociais e culturais do Estado".  Eike acrescentou: "Faço tudo com dinheiro do meu bolso e me orgulho disso."

De fato, o empresário pode gastar seu dinheiro como quiser. O diabo é que, quando cedido a gestor público, um jatinho privado não costuma viajar a passeio.

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