As bolsas europeias fecharam nesta quinta-feira em forte alta, depois de um dia de solavancos provocados por rumores relacionados ao setor bancário francês e pelo receio dos investidores quanto à crise da dívida na Zona do Euro. A Bolsa de Milão ganhou 4,10%; a de Madri, 3,56%; Paris, 2,89%; Londres, 3,11%; e Frankfurt, 3,28%, rompendo uma sequência de onze pregões em queda.
As praças começaram o dia recuperando parte do terreno perdido na baixa geral de quarta-feira, mas na metade da manhã caíram em sequência - até 3% em Frankfurt - para voltar a se orientar para cima após a boa abertura de Wall Street, onde pouco antes das 13h00 de Brasília o Dow Jones ganhava 2,15% e o Nasdaq, 2,82%.
Os bancos franceses, os mais castigados na véspera por sua exposição às dívidas de vários países da Zona do Euro em dificuldades, registravam grandes altas, apesar de posteriormente terem registrado variações extremas. O Société Générale, no centro das pressões, fechou com ganhos de 3,70%, apesar de durante o pregão ter chegado a perder 7%. Na quarta-feira, tinha caído mais de 14%, em meio a rumores de quebra, desmentidos com veemência pelo presidente da entidade, Frédéric Oudéa.
O setor bancário francês já realizou provisões de 2,3 bilhões de euros, vinculadas ao montante dos títulos da dívida grega em seu poder, e o montante poderá aumentar já que o governo grego prevê incluir em seu programa a troca de títulos com vencimento posterior a 2020.
Os bancos espanhóis também ficaram em tensão máxima: o número um do setor, o Santander, ganhou 3,20% e o número dois, BBVA, 4,06%, depois de ambos terem chegado a perder mais de 3%. As ações da Caixabank subiram 3,04%. Os bancos da Zona do Euro estão amplamente expostos às dívidas públicas dos países em dificuldade.
Os bancos franceses têm também cerca de 24 bilhões de dólares em títulos da Itália, sobre a qual os mercados exercem forte pressão. O Banco Central Europeu (BCE) indicou que na quarta-feira tinha emprestado em procedimentos de urgência cerca de 4 bilhões de euros aos bancos, a maior soma nos últimos três meses.
A Autoridade Francesa de Mercados (AMF) advertiu que o funcionamento das praças estava alterado por "rumores infundados sobre os papéis do setor financeiro" e lembrou que os autores desses rumores são passíveis de "sanções". O anúncio do encontro em 16 de agosto entre o presidente francês Nicolas Sarkozy e a chanceler alemã Angela Merkel também "constituiu uma nova turbulência para os mercados", explicou Michael Hewson, analista da CMC Markets.
Os ganhos desta quinta-feira não acalmaram as preocupações nem esclareceram o panorama. "Estamos em um ambiente no qual o mercado reage a causas tanto conhecidas como desconhecidas, e então a única coisa que podemos dizer é que podemos esperar mais rumores - bons ou ruins - e mais volatilidade", disse Patrick O'Hare, da Briefing.com.
"Não há nenhum motivo concreto" para a alta do Ibex dos principais papéis espanhóis, disse Soledad Pellón, analista do IG markets. "É uma retomada que nós consideramos como técnica, há alta volatilidade e muita especulação, mas não vimos uma mudança de tendência, a tendência de fundo é negativa", afirmou.
Na região Ásia-Pacífico, as praças limitaram as perdas iniciais. Tóquio fechou em 0,63%; Hong Kong, 0,95%; e Seul, 0,62%. O ouro, importante refúgio em tempos de incerteza, superou pela primeira vez nesta quinta-feira o patamar dos 1.800 dólares por onça, apesar de ter fechado em 1.760 dólares.
E o petróleo estava cotado em queda, já que os investidores temem uma nova recessão nos Estados Unidos e uma extensão da crise da dívida na Zona do Euro, que pesariam fortemente sobre o consumo mundial de energia. Os governos dos países industrializados tentam resolver o dilema de reduzir seus enormes déficits sem comprometer a retomada do crescimento.
O ministro italiano da Economia, Giulio Tremonti, anunciou nesta quinta-feira "medidas fortes" e reformas como parte de um plano de austeridade reforçado, que projeta tributar os ganhos financeiros em 20% para conseguir equilíbrio fiscal em 2013.
Nos Estados Unidos, atingido por disputas políticas que quase o levaram ao default este mês, houve uma notícia alentadora: as solicitações de pedidos de seguro-desemprego continuaram baixando na primeira semana de agosto para 350.000, frente a 402.000 na semana anterior.
No Brasil, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pediu que os países latino-americanos adotem medidas para impedir o contágio da crise nos países industrializados. "A América Latina tem um desempenho melhor que o dos países avançados, que a Europa e os Estados Unidos, e queremos preservar isso", disse Mantega, antes de participar de um encontro com seus colegas da região em Buenos Aires.
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