Por Heloisa Villela, de Washington
É o lançamento do ano: “In my time: a personal and political memoir”, livro de memórias do ex-vice-presidente Dick Cheney. Não li, nem vou ler. Não me interessam as mentiras de Dick Cheney, nem a cara de pau que ele tem para defender todas as práticas adotadas nos oito anos de governo George W. Bush. O que importa é a discussão levantada pelo livro e, principalmente, pela defesa pública que Cheney fez do uso da tortura como técnica aceitável e até necessária.
Se o governo Obama nada fez para investigar as denúncias que pesam sobre a adminstração anterior, os próprios ex-colegas de governo Bush se encarregaram da tarefa. O ex-secretário de Estado Colin Powell, como bom soldado que é, se rebelou apenas contra as acusações pessoais de Cheney. Não foi além disso. Mas o ex-chefe de gabinete de Powell, Coronel Lawrence Wilkerson, foi bem mais longe. Wilkerson disse à rede de tv ABC que Cheney está com medo. Teme ser julgado por crimes de guerra.
Isso mesmo. Partiu de um ex-funcionário do governo Bush a acusação mais séria, que já deveria ter sido investigada há anos…
Segundo Wilkerson, Cheney partiu para o ataque como forma de defesa.
No livro, Cheney acusa Powell de ter sido desleal por ter criticado a turma do governo diante de pessoas que não faziam parte da administração Bush. Em entrevista, no fim de semana, Cheney disse que o livro vai fazer com que algumas cabeças explodam em Washington. Wilkerson explica o motivo da ameaça: “Ele tem medo de ser julgado por crimes de guerra e está usando essa terminologia porque é assim que age uma pessoa que decidiu que não vai ser processada, de forma arrojada, como se não estivesse preocupada, quando na verdade, é uma capa para o medo de ser tratado como um Pinochet”.
Para Wilkerson, Powell apoiou totalmente a invasão do Iraque. E é verdade. Foi o ex-secretário de Estado que se prestou ao papelão de fazer o teatro final na ONU, seis semanas antes da invasão. Com fotos e tudo, garantiu que Saddam Hussein estava fabricando armas de destruição em massa e sugeriu uma ligação, que nunca existiu, entre Saddam e a Alcáida. Na época, os funcionários da CIA sabiam que tudo isso era mentira. Não autorizaram o discurso que Powell (ou a turma de Cheney) preparou para apresentar na ONU. Mas o diretor da Central de Inteligência, George Tenet, fiel à Casa Branca, se sentou atrás de Powell, durante a apresentação, como se com isso desse o selo de garantia ao espetáculo.
Agora, Wilkerson está colocando todos os pingos em todos os “is”. Simulação de afogamento é crime de guerra, escuta não autorizada também é crime.
E eu, Heloisa, pergunto: onde estão as organizações de direitos humanos, a ONU, o Tribunal Internacional? Quem vai cobrar destes criminosos?
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