Foto: DIVULGAÇÃO
Na espuma do caso do Hotel Naoum, as apostas estão abertas sobre uma mudança radical no comando da maior revista do País; André Petry é cotado para substituir Eurípedes Alcântara; Mario Sabino e Policarpo Júnior estão em baixa; Wilma Gryzinski é querida pela redação; Augusto Nunes corre por fora (fotos da esq. à dir.); “Um jogo emocionante”, dizia a propaganda
247 – Fonte muito próxima ao ex-presidente do Santander, Fabio Barbosa, que assume em setembro o comando da Editora Abril, garante: “Ele não trocou o banco pela editora para fazer cara de paisagem”. Barbosa é tido como um executivo de carreira impecável, que construiu sua imagem em torno de valores éticos. E que é também uma pessoa muito equilibrada, que foge dos extremos. “Este equilíbrio será levado para a Abril”, garante o interlocutor do executivo. Barbosa, que é amigo pessoal da presidente Dilma Rousseff e foi conselheiro da Petrobras na mesma época em que ela era ministra de Minas e Energia, será o presidente do grupo, com influência na área editorial.
O ex-presidente do Santander chegará ao comando da Abril em meio a um inquérito policial, instaurado pelo delegado Laércio Rossetto, da polícia civil do Distrito Federal. Ele investiga se o jornalista Gustavo Ribeiro, da sucursal Brasília de Veja, praticou invasão de domicílio, durante reportagem feita, até onde se entende, em junho, publicada agora. O caso desperta interesse entre os maiores jornalistas do País. Ontem, Alberto Dines e Ricardo Kotscho publicaram artigos com duras críticas à postura editorial da revista, que veiculou imagens de políticos no corredor de um andar do hotel Naoum, em Brasília, cujo método de captação está sob suspeita. “Está descartada a hipótese de terem sido feitas por nossas câmeras”, disse ao 247 o gerente-geral do hotel Naoum. Dines vê no episódio o jornalismo político de volta a “era da pedra lascada”. Kotscho, diante da possibilidade de as imagens terem resultado de grampo, compara a ação com os métodos da Gestapo hitlerista e do extinto News of the World de Rupert Murdoch.
Um episódio como esse, é claro, coloca em xeque o alto comando de qualquer redação, quanto mais de Veja - a influente revista semanal de maior circulação do País, antiga bíblia ideológica da classe média. É como se, no hoje raro tabuleiro de salão O Jogo de Veja, da Grow, lançado anos atrás e que continha seis mil perguntas sobre fatos narrados pela revista, saísse uma questão sobre como ficaria a redação em caso de mudanças em sua cúpula. Quase uma advinhação, mas sobre uma possibilidade bastante real, reforçada pela chegada de um novo presidente, com plenos poderes sobre a área editorial. “Fabio Barbosa estará ao meu lado no comando editorial do Grupo”, registrou Roberto Civita, presidente do Conselho da Abril.
Para responder a pergunta, vale dizer que, olhando de fora, e com toda a reverberação que vem de dentro, sabe-se que a situação do redator-chefe Mario Sabino é a mais frágil. Para isso, colaboram as circunstâncias em que a reportagem foi publicada, na ausência do diretor de redação Eurípedes Alcântara. Ele volta de férias na segunda-feira, e por menos apetite por assuntos políticos que tenha – uma fama real mas um tanto injusta --, terá de saber sobre o inquérito policial em curso, a partir de Brasília, e como se chegou a ele.
Este escândalo enfraquece a ambos. Sabino, a face mais radical e politicamente engajada de Veja, e Alcântara, que ou não controlou seus radicais, ou não sabe bem o que ele fazem – ou, ainda, com eles concorda. Outro em baixa é o chefe da sucursal de Brasília, Policarpo Jr., jornalista com fontes próximas à arapongagem que grassa no Distrito Federal.
Na espuma dessa crise, o nome mais comentado para assumir o comando é do jornalista André Petry, hoje correspondente da revista em Nova York. Com mais de 20 anos em Veja, ele cumpriu carreira brilhante como editor de Brasil, chefe da sucursal Brasília e agora no exterior. Tem perfil intelectual, um devorador de livros. Combativo e elegante. Foi do posto que ele ocupa agora, alías, que Alcântara saiu para comandar a publicação.
Petry chegou a ter uma coluna política muito elogiada nos primeiros anos do governo Lula, mas ela foi suprimida por influência direta de Sabino, que preferia o estilo jocoso de Diogo Mainardi.
Se a solução vier a ser encontrada em São Paulo, um nome muito querido pela redação de Veja é o da editora-executiva Wilma Gryzinski, dona de um dos melhores textos da imprensa brasileira. Em 30 anos na revista, ela já venceu vários prêmios Abril, foi editora de Internacional e conquistou uma posição de respeito na editora. Internamente, outro bom nome é o do jornalista Fabio Altman, que tem sido destacado para vários projetos especiais dentro da revista, craque de grandes coberturas em Copas do Mundo e Olimpíadas. Corre por fora, literalmente, até porque hoje é destaque na divisão online da revista, o jornalista Augusto Nunes. Em termos de experiência nos mundos corporativo e de redação, ele é imbatível. Assim como Fabio Barbosa, é ponderado sem deixar de ser ousado. E também atuou no setor financeiro – Nunes foi diretor do BankBoston. Em Veja, Nunes foi responsável pela redação final de mais de 100 capas da revista, entre os anos 70 e 80, no auge do crescimento e consolidação do prestígio da publicação. Como se vê, figurinhas carimbadas não faltam no emocionante Jogo de Veja, exatamente como prometia a propaganda do joguinho da marca.
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