Como o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, responsável pelo Arena Itaquerão, construiu uma vertiginosa trajetória de sucesso no futebol brasileiro, ancorado por amizades poderosas, enquanto progredia como dono de negócios nebulosos
Flávio CostaESTILO
Esse é Andrés Sanchez: “Sou amigo do Ricardo Teixeira.
Sou amigo da Globo, apesar de ela ser gângster”
O dia 12 de junho de 2014 é a data. Mais de 60 mil pessoas saudarão a entrada da Seleção Brasileira de futebol no campo em que se disputará o jogo de abertura da Copa do Mundo do Brasil. Não importa o adversário ou o resultado. De algum ponto das tribunas de um estádio recém-inaugurado no distante bairro de Itaquera, na zona leste de São Paulo, um homem celebrará uma grande vitória. Andrés Navarro Sanchez provavelmente deixará escapar um palavrão em meio a frases efusivas. E não fará concessões aos que duvidaram dele. Faltam pouco menos de três anos para esse momento de glória. Mas quem conhece Sanchez pode imaginar a cena desde já. Nas próximas semanas a Fifa deve confirmar o Itaquerão como sede da partida inaugural do evento. E então o atual presidente do Corinthians terá marcado mais um gol surpreendente em uma das trajetórias mais impressionantes e improváveis da cartolagem brasileira. Em apenas 17 anos, Sanchez passou de chefe de torcida organizada a homem-chave nas decisões que envolvem o Mundial de 2014.
No comando do segundo clube mais popular do País, com seu jeito direto e falastrão, em pouco tempo conseguiu dinamitar a musculatura política do Clube dos 13, instituição que reúne as principais equipes brasileiras, ao decidir negociar sem intermediários os direitos de transmissão dos jogos de seu time pelas tevês. É um dos nomes mais cotados para substituir Ricardo Teixeira na presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Tem uma constelação de amigos poderosos, encabeçada por nomes como o ex-jogador Ronaldo Fenômeno e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Aos 47 anos, coleciona admiradores e desafetos na mesma proporção em que fortalece seu clube e se envolve em transações comerciais nebulosas.
A gestão Sanchez no Corinthians tem o carimbo da ousadia. A maior até o momento foi a contratação de Ronaldo Fenômeno, em 2009, fundamental para o clube aumentar sobremaneira sua receita. Hoje, o time do Parque São Jorge é o que mais fatura com patrocínio e publicidade no Brasil – R$ 47 milhões só no ano passado. A construção do Itaquerão, por sua vez, retrata como tem sido profícua sua proximidade com a CBF. O antigo sonho corintiano foi viabilizado com a reprovação, por parte do comitê organizador da Copa, comandado por Ricardo Teixeira, do favorito Estádio do Morumbi, do rival São Paulo, forçando a maior cidade do País a buscar uma alternativa, ainda que mais cara, para não ficar de fora do evento. A partir daí, Sanchez mobilizou toda a sua rede de contatos políticos até encontrar uma fórmula que permitisse bancar a construção de um estádio novo para o clube. Foi uma costura difícil, cercada de interesses milionários. Não por acaso, Sanchez chorou copiosamente no dia 20 de julho, na cerimônia em que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito Gilberto Kassab assinaram, no terreno do futuro estádio, os contratos que davam sinal verde para o empreendimento.
No comando do segundo clube mais popular do País, com seu jeito direto e falastrão, em pouco tempo conseguiu dinamitar a musculatura política do Clube dos 13, instituição que reúne as principais equipes brasileiras, ao decidir negociar sem intermediários os direitos de transmissão dos jogos de seu time pelas tevês. É um dos nomes mais cotados para substituir Ricardo Teixeira na presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Tem uma constelação de amigos poderosos, encabeçada por nomes como o ex-jogador Ronaldo Fenômeno e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Aos 47 anos, coleciona admiradores e desafetos na mesma proporção em que fortalece seu clube e se envolve em transações comerciais nebulosas.
A gestão Sanchez no Corinthians tem o carimbo da ousadia. A maior até o momento foi a contratação de Ronaldo Fenômeno, em 2009, fundamental para o clube aumentar sobremaneira sua receita. Hoje, o time do Parque São Jorge é o que mais fatura com patrocínio e publicidade no Brasil – R$ 47 milhões só no ano passado. A construção do Itaquerão, por sua vez, retrata como tem sido profícua sua proximidade com a CBF. O antigo sonho corintiano foi viabilizado com a reprovação, por parte do comitê organizador da Copa, comandado por Ricardo Teixeira, do favorito Estádio do Morumbi, do rival São Paulo, forçando a maior cidade do País a buscar uma alternativa, ainda que mais cara, para não ficar de fora do evento. A partir daí, Sanchez mobilizou toda a sua rede de contatos políticos até encontrar uma fórmula que permitisse bancar a construção de um estádio novo para o clube. Foi uma costura difícil, cercada de interesses milionários. Não por acaso, Sanchez chorou copiosamente no dia 20 de julho, na cerimônia em que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito Gilberto Kassab assinaram, no terreno do futuro estádio, os contratos que davam sinal verde para o empreendimento.
MARCO
Sanchez ao lado de Alckmin e de Kassab na abertura das obras do Itaquerão
Ao mesmo tempo que imprime uma imagem de dirigente vencedor, Sanchez também gosta de lembrar sua origem humilde, de descendente de espanhóis que atravessou a adolescência trabalhando como feirante. Esse é o capítulo de sua biografia que ele lança aos holofotes. Há outros bem menos luminosos. Sob sigilo, por exemplo, correria na Polícia Federal uma investigação contra ele pelos crimes de lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. Duas pessoas ligadas ao Corinthians confirmaram à ISTOÉ que estão arroladas como testemunhas nesse inquérito. ISTOÉ apurou ainda que pelo menos 40 pessoas deverão ser ouvidas a partir deste mês. Sanchez já teve o seu sigilo telefônico quebrado, desde outubro do ano passado. Um pedido de prisão teria sido negado há dois meses pela Justiça Federal, que requereu mais provas. “Não sei da existência dessa investigação”, declarou Sanchez.
IDENTIDADE
Em um prédio em Moema, deveria estar a Biosfera Promoções
e Eventos Ltda., mas funciona um escritório de advocacia
A Sol Brasil Promoções e Eventos Ltda. deveria ser encontrada na mesma rua do bairro de Vila Olímpia onde está localizada a Santa Aldeia, casa noturna frequentada por pessoas ligadas ao futebol. “A empresa não está mais aqui desde o início do ano”, atestou um funcionário do edifício. Em um prédio comercial na avenida Ibirapuera, em Moema, deveria estar a Biosfera Promoções e Eventos Ltda., mas funciona um escritório de advocacia. “Essa empresa nunca esteve sediada aqui”, afirmou uma das recepcionistas. Quem trabalha no número 143 da rua Alvarenga Peixoto, na cidade de Caieiras, região metropolitana de São Paulo, também nunca ouviu falar na Usina de Negócios Comércio de Encartes e Eventos Culturais Ltda. E no centro comercial de Alphaville não há representante da ASN Participações. Uma funcionária do escritório de advocacia que fica no local afirma que o lugar serve apenas para receber correspondência. Essa última empresa e outras duas estão bloqueadas parcialmente por ordem da Delegacia da Receita Federal em Jundiaí, desde maio de 2009. Questionado por ISTOÉ, Sanchez limitou-se a dizer que seus negócios particulares não têm relação com o Corinthians. “Mas desconheço a empresa Biosfera, e a Sol Brasil Promoções e Eventos está inativa há seis meses e sendo transferida pelo meu contador”, afirmou.
Também paira sobre o atual presidente a acusação de cobrar propina de empresários em venda de jogadores. O sócio do clube Rolando Wohlers fez uma denúncia formal ao Conselho Deliberativo na qual afirma que Sanchez, por meio de auxiliares, pediu uma taxa de R$ 300 mil a um agente, metade a que ele teria direito, na venda de um jogador corintiano. “Não é à toa que o presidente é conhecido como Taxinha no meio do futebol”, acusa Wohlers. O conselheiro Alexandre Husne afirma não ter visto nenhuma irregularidade contábil nessa negociação. Outra transação polêmica foi a transferência do volante Jucilei para o Anzhi Makhachkala, da Rússia, neste ano. O atleta pertenceria metade ao Corinthians, metade ao Corinthians Paranaense. Após a venda do jogador por 10 milhões de euros, descobriu-se que o time paulista tinha apenas 15% do valor do passe – os outros 35% que lhe eram de direito haviam sido repassados a um empresário de Jundiaí (SP). “O clube perdeu o dinheiro”, diz o administrador de empresas Marcos Caldeirinha, integrante do Conselho Deliberativo, que pediu explicação oficial à direção. A reportagem ouviu ainda empresários de jogadores que afirmaram ter deixado de negociar atletas com o clube após a chegada de Sanchez à presidência. O dirigente diz que as acusações são mentirosas. “Todas as contratações são feitas com o aval do departamento jurídico e analisadas pelo órgão de controle”, afirma.
AUSÊNCIA
A Usina de Negócios está registrada na cidade
de Caieiras. Mas nunca esteve sediada lá
A parceria MSI/Corinthians trouxe vários jogadores de renome. E problemas de igual envergadura. Primeiro, Joorabchian e Dualib começaram a travar uma disputa renhida pelo poder no Corinthians. Segundo, a Polícia Federal descobriu que a parceria funcionava como um véu para um esquema de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. O escândalo tragou toda a diretoria do clube, menos Sanchez, que, em um lance planejado com Joorabchian, havia pulado para o barco da oposição, com um discurso de renovação e transparência. Em depoimento à Polícia Federal durante a investigação, Sanchez admitiu que os atletas contratados pela MSI acertavam contratos fora do Brasil. Escutas telefônicas mostraram que ele combinou o conteúdo do depoimento com o próprio Dualib. Até hoje pairam dúvidas sobre o seu não indiciamento. Procurado por ISTOÉ, o deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), encarregado da investigação à época, não quis se pronunciar. Dualib foi condenado em primeira instância, em outro processo por estelionato, e afastado da presidência.
Sanchez venceu as eleições para presidente em 2007. Mas para isso fez um acordo, na reta final de campanha, com o próprio Dualib. “Todo mundo sabe que foi graças aos votos controlados por Dualib que ele conseguiu vencer o Paulo Garcia (empresário que deve disputar novamente o cargo)”, afirma o advogado Rubens Gomes, conselheiro do clube. Na noite da vitória, Sanchez teria ligado para o amigo iraniano: “Kia! Ganhamos, c...” “Quem manda no Corinthians ainda é o Kia”, afirma o blogueiro Paulo César Prado, que acusa o dirigente de tê-lo grampeado e com quem trava batalhas judiciais. Sua página tem 30 mil visitas diárias e reúne denúncias contra a atual administração. Entre elas a de que o Corinthians pegou dinheiro emprestado da empresa Salamandra Investimentos, cujo representante é Wagner Martins Ramos, sócio de Andrés Sanchez em outras empresas. A Salamandra é propriedade última da Newbut Investiments, sediada no Uruguai.
Se a relação com o iraniano Joorabchian cacifou a ascensão de Sanchez no Corinthians, a proximidade com Ricardo Teixeira o alçou à categoria de protagonista do futebol nacional. O namoro começou em abril de 2010, quando o corintiano apoiou a candidatura derrotada de Kleber Leite, aliado de Teixeira e ex-presidente do Flamengo, na disputa pela presidência do Clube dos 13. Ganhou Fábio Koff, ex-presidente do Grêmio (RS), mas Sanchez foi recompensado com o cargo de chefe da delegação brasileira na Copa do Mundo da África do Sul. E no início deste ano foi o principal artífice do desmoronamento da entidade. Alegando não concordar com a maneira como Koff conduzia as negociações dos direitos de transmissão das próximas temporadas, ele desfiliou o Corinthians. Um a um, os clubes decidiram negociar individualmente com a Rede Globo. A parte que coube ao Corinthians foi da ordem de R$ 114 milhões “Sanchez jogou limpo”, diz Alexandre Kalil, presidente do Atlético Mineiro. “De todos os presidentes de clubes que tiveram postura contrária à minha, ele foi o mais correto.”
Sobre sua proximidade com a CBF e a Globo, Sanchez não se faz de rogado. “Sou amigo do Ricardo Teixeira mesmo, sou amigo da Globo, apesar de ela ser gângster”, chegou a dizer. Esta é uma declaração típica do dirigente, boquirroto por natureza. Em um jantar de arrecadação para a campanha de Protógenes a deputado federal, no ano passado, Sanchez comentou dessa maneira uma vitória do seu time sobre o São Paulo: “O Corinthians vai ser condenado pela Lei Maria da Penha. Batemos nas meninas ontem.” O vocabulário rústico, adornado por modos pouco apurados, parece fazer parte do marketing pessoal dele, que gosta de lembrar que não fez faculdade, estudou apenas até o ensino médio e sofre preconceito por isso. Com o esvaziamento do Clube dos 13, já se fala numa nova agremiação, a Liga dos Clubes, subordinada à CBF, que teria Sanchez no comando. Mas ele diz que não é candidato a nada. Nem à Liga, nem à reeleição no Corinthians, nem à presidência da CBF. “Em dezembro, saio do Corinthians e vou para a minha casa”, garante.
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