Yitzhak Laor |
18/9/2011, Yitzhak Laor, Haaretz, Telavive
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu
Sete anos depois de Oslo, os encontros de Camp David acabaram em fracasso, e a liderança em Israel – civil, como militar – preparou-se fortemente para a possibilidade de manifestações na Cisjordânia.
Há exatos 11 anos, morreu a esquerda sionista, capturada pelo então primeiro-ministro Ehud Barak. Até outubro de 2000, Israel violou os Acordos de Oslo, ao continuar a construir colônias exclusivas para judeus, a construir estradas reservadas para os colonos judeus e ao consolidar as colônias já existentes. Essa ação foi acompanhada de separação ainda maior – embora, então, ainda não houvesse o muro – entre territórios sem recursos de emprego, e Israel, que dava preferência a trabalhadores estrangeiros. Sete anos depois de Oslo, os encontros de Camp David acabaram em fracasso, e Israel – os civis e os militares – preparou-se fortemente para a possibilidade de manifestações na Cisjordânia.
Quem, hoje, se sinta inchar de orgulho da democracia israelense ante a violenta repressão dos protestos na Síria, deve lembrar aqueles dias – não só do cruzamento de estrada na cidade árabe de Umm al-Fahm em Israel, onde a revolta começou, mas também dos confrontos nos territórios ocupados entre manifestantes desarmados e o exército de Israel. Só na Cisjordânia, nas primeiras três semanas de manifestações, foram disparados meio milhão de balas. E, claro, aconteceu antes de o mundo começar a ouvir falar de ataques terroristas.
As repetidas tentativas para ocultar essas diferenças e para misturar tudo, no tempo, inventando diferentes contextos para aqueles eventos de 2000 e o que se vê hoje, foram a última pá de cal sobre o esquife da esquerda sionista. Foram mais: também deram origem ao atual Parlamento israelense que – com poucas exceções – é monoliticamente de direita. Tudo isso começou em 2000.
A luta anticolonialista ganhou uma interpretação israelense segundo a qual se negava a natureza anticolonialista do movimento nacional palestino. A versão israelense rezava que “Yasser Arafat, presidente da Autoridade Palestina, estava voltando aos velhos tempos”, como se o líder do movimento palestino tivesse aceitado a recusa dos israelenses, decididos a não sair da Cisjordânia. Como sempre, a estupidez venceu.
O único líder palestino que poderia chegar à paz mediante negociação e concessões foi apresentado como um demônio. Nisso, a esquerda sionista muito ajudou.
Os líderes levaram os israelenses a acreditar que os palestinos haviam declarado guerra contra Israel, embora se pudesse ver, claramente, a olho nu, que a verdade era exatamente o contrário disso. Naquele novembro, começaram os ataques terroristas contra Israel, seguidos de assassinados massivos de palestinos, em toda a Cisjordânia. Hoje os israelenses sabemos que, do ponto de vista dos palestinos, aqueles assassinatos foram a declaração de guerra. Hoje os israelenses sabemos também que a comunidade de inteligência israelense sabia que aqueles assassinatos de palestinos foram declaração de guerra.
Ninguém que examine hoje aqueles eventos de 2000 levará a sério o que nos diziam, em Israel, naquele momento: “Eles querem guerra”. Mentira. Eles não queriam guerra. Queriam um estado, e nunca cogitaram de desistir.
Os palestinos também avaliaram corretamente o perigo da armadilha que o primeiro-ministro Barak pusera no caminho deles, Barak, o Chefe do Exército de Israel Shaul Mofaz e o comandante geral da espionagem israelense, major-general Moshe Ya'alon.
Foi o período mais feio da esquerda israelense, que logo se manifestou “perturbada”. A revista Haaretz rapidamente juntou tudo e pôs ordem na narrativa, aproximando apoiadores do Partido Trabalhista [Labor Party] e do Partido Meretz, um depois do outro, tomando o cuidado de só entrevistar os que se declarassem “confusos” e/ou “perturbados”, deixando que culpassem, à vontade, os palestinos, as vítimas. Essa narrativa e esse discurso nunca mais esteve ausente da agenda pública em Israel.
O assalto militar massivo aos territórios ocupados, que continuou, sempre em escalada, com horrendos ataques terroristas israelenses na Cisjordânia reocupada continuaram, praticamente sem nenhuma oposição de nenhuma esquerda em Israel, exceto algumas poucas vozes da esquerda radical, que em outubro, ainda saíra às ruas. Em pouco tempo, chegaram a algumas centenas. Erraram ao escolher suspender as manifestações nas ruas de Israel.
Nesses últimos 11 anos, vimos muitas mortes, como vimos as colônias exclusivas para judeus crescerem e se consolidarem. Vimos também a total emasculação da esquerda sionista a qual, de um ponto de vista histórico, deveria ser porta-estandarte empenhada, da paz.
Essa semana, os israelenses têm de lembrar a desgraça daqueles dias, sobretudo porque o que hoje está começando ameaça, outra vez, não ver e não deixar ver a última tentativa de ocupação militar colonial no mundo.
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