Foto: Divulgação
PORTAL IG, QUE JÁ FOI DE DANIEL DANTAS, DOS FUNDOS DE PENSÃO E AGORA PERTENCE AOS EMPRESÁRIOS SERGIO ANDRADE E CARLOS JEREISSATI, DONOS DA OI, ESTÁ À VENDA. FICARÁ COM A ABRIL, DE ROBERTO CIVITA (ESQ.), OU COM A RBS, DE NELSON SIROTSKY (DIR.)
Leonardo Attuch_247 – Eis o que os jornalistas de “esquerda” e que se intitulam “blogueiros sujos” poderão dizer após a leitura deste artigo: “Agora, é só colocar o P na frente e mudar o nome para PIG”. Sim, o iG, um dos maiores portais de internet do Brasil, está à venda e tem dois potenciais compradores: Roberto Civita, dono da editora Abril e editor-responsável por Veja, e Nelson Sirotsky, presidente do grupo RBS, sócio da Rede Globo na região Sul do Brasil. “PIG”, um neologismo criado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, ele próprio ex-iG, designa o chamado “Partido da Imprensa Golpista”. E contra o PIG haveria a brigada dos “blogueiros sujos”, liderada, entre outros, pelo próprio Amorim.
O iG é um dos casos mais fascinantes da história recente do jornalismo brasileiro – e ainda busca um porto seguro. Nasceu, na virada do milênio, quando a operadora de telefonia Brasil Telecom era controlada pelo banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, que contratou o publicitário Nizan Guanaes e o jornalista Matinas Suzuki, para “revolucionar o jornalismo brasileiro”, como se dizia à época. Assim nasceu o jornal Último Segundo, dirigido por Leão Serva, que se tornou um dos carros-chefes do iG. Nizan e Matinas também apostaram em sites de celebridades e de ensaios sensuais, como o Morango.
Em 2005, o iG passou por sua primeira guinada radical, quando os fundos de pensão das empresas estatais assumiram o controle da Brasil Telecom, no lugar de Daniel Dantas. A partir deste momento, atacar o ex-dono passou a ser uma das prioridades do portal, que contratou colunistas mais alinhados com o PT, mas com estilos bem distintos, como Paulo Henrique Amorim, Luís Nassif e Ricardo Kotscho. E, nos três anos seguintes, o iG também participou ativamente de uma disputa societária para definir quem ficaria no comando da supertele nacional, fruto da fusão entre Oi e Brasil Telecom: uma ala do PT defendia o comando com os fundos de pensão estatais e outra ala propugnava pela entrega da supertele ao empreiteiro Sérgio Andrade, da Andrade Gutierrez, e ao empresário Carlos Jereissati, dono da rede de shoppings Iguatemi. Venceram os doadores de campanha.
Limpeza geral
Aconselhados pelo jornalista Mario Rosa, ex-editor de Veja e hoje um consultor focado em gestão de crises, Carlos Jereissati e Sergio Andrade passaram a montar a nova equipe do iG em 2008. A intenção era despolitizar o portal e profissionalizá-lo. Assim, foram atraídos jornalistas de renome, como Eduardo Oinegue, ex-redator-chefe de Veja, Guilherme Barros, ex-colunista da Folha, e Luciano Suassuna, ex-diretor da Istoé, além de vários outros editores renomados, como Tales Faria e Jorgemar Félix, no maior “arrastão” recente da imprensa brasileira.
Nas eleições de 2010, o iG também trouxe inovações relevantes, como uma pesquisa diária de intenção de votos, em parceria com o instituto Vox Populi. Mas, depois da vitória de Dilma Rousseff, o portal começou a enxugar seus custos. Oinegue deixou o comando, que foi entregue ao jornalista Beto Gerosa, e passou a ser consultor da dupla Andrade-Jereissati, assim como Mário Rosa. Depois disso, a Portugal Telecom entrou no bloco de controle da Oi e passou a questionar a presença de um grupo de conteúdo numa empresa de telecomunicações. Operadoras de telefonia são concessionárias de serviços públicos e não podem entrar em bolas divididas – o que o jornalismo, muitas vezes, exige.
Agora, a tarefa de encontrar um comprador para o iG foi entregue ao executivo Pedro Ripper, ex-presidente da Cisco, que entrou em contato com potenciais compradores. Além dos grupos RBS e Abril, também foi sondado o Yahoo, mas a disputa restringe-se aos dois primeiros grupos nacionais.
A RBS, de Nelson Sirotsky, aposta alto na internet, com a Zero Hora digital, mas ainda é percebida como um grupo eminentemente sulista. A Abril já teve várias experiências distintas na internet e hoje a maior parte do conteúdo de suas revistas é pago e fechado, enquanto o iG aposta num modelo gratuito e compartilhável. Mas Civita talvez esteja mudando sua estratégia rumo a um modelo mais aberto.
De todo modo, a possível venda do iG marcaria uma separação entre produtores e distribuidores de conteúdo. De um lado, as empresas jornalísticas. De outro, as operadoras de telecomunicações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário