quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Sobre ministros indestrutíveis



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Orlando Silva declarou-se "indestrutível", citando versos de Neruda, que celebram a solidariedade partidária:
Me fizeste indestrutível porque contigo não
termino em mim mesmo.
Imediatamente afirmou-se que ele se considerava acima da lei e das pressões.
Anos atrás um presidente da VW foi demolido depois que supostamente teria declarado que se o governo brasileiro não resolvesse a questão energética, a empresa sairia do país.
Escrevi sobre o tema, fui convidado para um almoço na VW, onde ele me explicou o que ocorrera. Simplesmente caíra em uma pegadinha. O repórter perguntou o que aconteceria com a VW se não houvesse oferta de energia suficiente. O presidente respondeu o óbvio: não teria como a empresa permanecer no país. A resposta saiu como um desafio ao país.
Ontem estava lendo o paper "A democracia impressa", de Heber Ricardo da Silva, apresentado no congresso Wapor de Belo Horizonte.
Um dos capítulos aborda o famoso episódio em que Luiz Carlos Preste foi acusado de ter afirmado que, em caso de guerra entre Brasil e Rússia, ficaria com os russos:
As críticas ao comunismo e à URSS intensificaram­se a partir do momento em que foi requerido o registro do PCB ao Superior Tribunal Eleitoral, em 3 de setembro de 1945, e, principalmente, por conta da polêmica declaração de Prestes, publicada pelo Jornal do Comércio e pela folha comunista Tribuna Popular em 16 de mar­ ço de 1946. Indagado sobre qual posição assumiria em caso de uma guerra entre Brasil e URSS, o líder comunista afirmara que optaria pelos soviéticos.
Além disso, ressaltou que os comunistas “fariam como o povo da resistência francesa e o italiano, que havia se ergui­ do contra Pétain e Mussolini”. Para Prestes, os comunistas comba­ teriam uma possível guerra imperialista contra a URSS e empu­ nhariam armas para resistir (Silva, 1976, p.336). A declaração foi responsável pelo acirramento dos ânimos na Constituinte,2 como noticiado por OESP e, sobretudo, pelos círculos jornalísticos na­ cionais, os quais, a partir de então, passariam a criticar com maior intensidade as práticas comunistas e a publicar produtos jornalís­ ticos contrários ao PCB e à sociedade soviética. Vale ressaltar que essa versão discutida pela imprensa e pelas forças políticas conser­ vadoras do Brasil foi desmentida bem posteriormente pelo próprio Prestes. Em sua versão, o líder comunista dizia ter afirmado que “condenaria o ato criminoso e o governo que levasse nosso povo a uma guerra imperialista. Aí se criou a confusão. E surgiu a versão de que Prestes respondera, categoricamente, que ficaria do lado da União Soviética” (Moraes; Viana, 1997, p.147). Dessa maneira, cabe destacar os posicionamentos, principalmente de OESP, DSP e CM, os quais dirigiram pesadas críticas às declarações de Prestes e o acusaram de “traidor da pátria”, “agente de Moscou”, “fanático”, “ambicioso”, “sem escrúpulos”, entre outros termos ofensivos.
Ao reafirmar sua posição contrária à guerra imperialista, OESP classificou como infelizes as declarações de Prestes e entendeu que, “por amor à ideologia, o líder comunista se considerava mais russo que brasileiro”.3 Reafirmando suas posições anticomunistas, OESP acrescentava que, ademais, a hipótese de o país envolver­se em uma guerra imperialista era “contra as tradições e índole dos textos constitucionais do Brasil”. Ou seja, reforçava, indiretamente, que Prestes desconhecia a tradição e a Constituição brasileiras, além de o líder comunista apontar a perspectiva de uma guerra imperialista, portanto via belicosa para a solução de problemas.
Em editorial publicado no DSP, Assis Chateaubriand afirmava não ter ficado espantado com a declaração de Prestes, pois, para ele, o líder comunista falava de “acordo com a rotina do seu partido”.

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