quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Testemunha diz que deputados de SP propuseram esquema com emendas




RODRIGO VIZEU
DE SÃO PAULO

Uma líder comunitária disse que três deputados que cumprem mandato na Assembleia Legislativa de São Paulo propuseram a ela participação em um esquema com emendas.
Terezinha Barbosa, que dirige o Centro Cultural Educacional Santa Terezinha, na periferia de São Paulo, confirmou ontem à Folha ter revelado o esquema ao deputado Major Olímpio (PDT).

O escândalo começou em agosto, quando o deputado Roque Barbiere (PTB) disse, também sem dar nomes, que até 30% dos colegas negociavam emendas.
O Conselho de Ética da Assembleia Legislativa, controlado pela base do governo, derrubou pedidos para chamar envolvidos. Nenhum nome do esquema veio à tona.
Na última sexta-feira (21), Olímpio disse, em depoimento ao Conselho de Ética da Assembleia, que ouviu o relato de Barbosa em 2007. Na ocasião, ela não deu nomes.
Ontem, Barbosa também não quis dizer quais deputados fizeram a proposta, alegando medo de morrer. "Eu tenho medo sim, vou mentir?", disse.
Ela disse apenas que um dos deputados que a abordaram com a proposta integra a bancada evangélica da Assembleia.
Barbosa contou que o esquema ocorreria da seguinte forma: para destinar uma emenda a uma entidade, deputados exigiam dinheiro com a justificativa de que os recursos iriam para outra entidade, ligada ao parlamentar, sem a documentação necessária para firmar com convênio diretamente com o Estado.
"Eu passaria um pouco para a entidade que não tinha documentação, mas quem ia prestar contas era eu. Aí eu não quis, porque eu não sei o que a outra ia fazer", afirmou.
A líder comunitária afirmou que revelou o caso ao deputado Olímpio porque ele indicou uma emenda para a entidade dela sem pedir nada em troca.
"Aí eu disse: 'Obrigada, Major Olímpio, o senhor me deu e não pediu nada. Eu fui em três deputados pedir e eles queriam que eu desse para outras entidades deles'", afirmou.
DEPOIMENTO
Barbosa se disse disposta a falar no Conselho de Ética da Assembleia, mas também sem dar nomes. "Vou, por que não? Não vou falar quem são os deputados. Vou contar [como é o esquema], eles que procurem saber quem são os deputados."
Sobre entregar os nomes ao Ministério Público, ela afirmou: "Isso é entre eu e o promotor".
O promotor responsável pelo caso, Carlos Cardoso, afirmou desde a semana passada que incluiria o relato de Barbosa na investigação.
SEGREDO
Barbosa disse estar "chateada" pelo Major Olímpio ter levado a história a público. "Foi um segredo que eu contei para ele de portas fechadas", afirmou.
Ela disse dar "graças a Deus" que não tenha identificado os deputados no relato que fez a Olímpio. "Se tivesse dado nome, hoje eu ia ter de fugir do país, pedir proteção."
Barbosa disse que, após a revelação de Olímpio, escreveu um "diário" no qual dá detalhes do esquema, desta vez com os nomes dos deputados, para o caso de "acontecer alguma coisa" com ela. Ela disse ter entregado cópias do texto a dez pessoas de sua confiança, entre familiares e amigos.
GOVERNO
Ela disse que o governo de São Paulo, que libera os recursos das emendas dos deputados, não participava nem tinha conhecimento do esquema. Afirmou que o governador à época, José Serra (PSDB), desconhecia o caso. "[Era] entre os deputados", contou.
Barbosa também afirmou que, como o caso se refere a 2007, "não tem nada a ver" com o atual governador, Geraldo Alckmin (PSDB), com quem confirmou ter uma boa relação e chamou de "sério e ético".
A líder comunitária foi candidata derrotada a vereadora de São Paulo pelo PTB, em 2008.
CONSELHO
O líder do PT, Enio Tatto, disse que vai insistir que Terezinha Barbosa seja ouvida pelo Conselho de Ética.
No entanto, sob ameaça de protesto de movimentos sociais, o Conselho de Ética da Assembleia Legislativa quer encerrar nesta quarta-feira (26) a investigação do suposto esquema de venda de emendas na Casa.
A reunião do conselho seria na quinta-feira (27), mas foi antecipada, evitando que ocorresse junto com manifestação orquestrada pelo PT.
"Ficaram com medo do povo", acusou Tatto.
O presidente do conselho, Hélio Nishimoto (PSDB), negou fugir dos protestos. "Não aguento mais demorar tanto sem que ninguém denuncie nenhum deputado", disse.
Ele disse querer encerrar os trabalhos hoje ou, no máximo, sexta.
O governista José Bittencourt (PDT) quer apresentar hoje parecer "conclusivo". Ele criticou o "desgaste desnecessário" em continuar a investigar sem denunciados.
A apuração ficaria a cargo só do Ministério Público, que ainda vai ouvir Barbiere.

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