QUI, 16/10/2014 - 16:07
ATUALIZADO EM 16/10/2014 - 16:41
Cientista político avalia que a “onda azul” deu sinais de “marolinha”, já que Aécio, com apoio da mídia, do PSB, de nanicos e de “pesquisas fajutas”, não abriu larga vantagem
Jornal GGN - A 11 dias da eleição, o empate técnico entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) nas pesquisas para o segundo turno presidencial arranca avaliações positivas para a candidata à reeleição. Segundo dados do Ibope e do Instituto Datafolha, o ex-governador mineiro lidera a corrida numericamente, com 51% dos votos válidos, ante 49% de Dilma. O cenário de disputa cabeça a cabeça é o mesmo da semana passada, com um diferencial: a rejeição ao tucano agora é maior, enquanto a avaliação do governo petista melhorou e seu potencial de crescimento entre os eleitores indecisos é superior ao de Aécio.
Na avaliação do cientista político e historiador Francisco Fonseca, professor da FGV-SP, a "onda azul” que surgiu com força após o desempenho surpreendente de Aécio no dia 5 de outubro está, agora, com cara de “marolinha”. Isso porque o tucano, nos últimos dias, vem tirando proveito máximo de uma agenda muito mais positiva para ele do que para Dilma. Ele ganhou apoio de políticos e legendas, enquanto Dilma teve de lidar com o caso Petrobras.
“É uma grande vitória manter sua posição e ainda melhorar alguns indicadores em um cenário desse. Se há vencedor nessas pesquisas, eu avalio que seja Dilma”, diz Fonseca. “O que Aécio tinha para conquistar, parece já ter conquistado. Ele deveria ter mergulhado nessa onda azul totalmente favorável a ele e largado com mais pontos de vantagem. Não aconteceu. A onda pode virar marolinha. As chances de refluir são grandes”, justifica.
Para Fonseca, Aécio é afagado pela mão da imprensa tradicional, que tem corroborado com uma campanha anti-petista mais incisivamente desde que as urnas foram abertas e o tucano enterrou as chances de Marina Silva (PSB) disputar o segundo turno com Dilma.
“A mídia faz uma cobertura ostensiva, favorável a Aécio. Além disso, há pesquisas fajutas, como essa do Sensus [contratada pela Isto É, que coloca o tucano com 17 pontos de vantagem sobre Dilma], que inclusive vai render um processo por usar uma mostra enviesada do eleitorado [para favorecer o tucano]. Ao que tudo indica, a onda Aécio não foi capaz de criar um fenômeno de expansão. O empate, para Dilma, é bom. Principalmente porque a rejeição a Aécio vem crescendo enquanto a avaliação de governo dela, melhorando.”
De acordo com a pesquisa Datafolha desta quarta-feira (15), a rejeição à candidatura de Aécio cresceu quatro pontos e está em 38%. A de Dilma caiu 1 ponto, e agora a presidente é descartada por 42% do eleitorado. No Ibope, os dados são mais equilibrados: Dilma tem 36% de rejeição, ante 35% do tucano.
Crescimento entre indecisos
Outro dado positivo para Dilma é o maior potencial de crescimento entre os eleitores indecisos. Segundo análise da Folha, “se mantido o acirramento da campanha e considerando-se o melhor desempenho dos eleitores na urna eletrônica no segundo turno, as atenções se voltam para o grau de cristalização do voto e para qual dos candidatos tendem mais os indecisos.” Nesse cenário, “o alto potencial de conversão pró-petista é o dobro do observado para o tucano (13% contra 6%).”
A ajuda de Marina, inclusive, parece pouco eficaz a Aécio, nesse quadro. Na primeira pesquisa do segundo turno, 13% dos eleitores disseram que não votariam em um candidato apoiado por ela. Hoje, o número saltou para 23%. Além disso, na pesquisa anterior, Aécio já parecia herdar dois em cada três eleitores de Marina, sem que a ex-ministra do Meio Ambiente precisa mexer um dedo.
Corrupção atingiu o teto
Essa semana, enquanto Aécio Neves ganhava apoio público de Marina Silva, Renata Campos, do PSB e de partidos menores, Dilma tinha de lidar com a divulgação dos vídeos que contêm os depoimentos de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, e do doleiro Alberto Yousseff, à Justiça Federal. O teor das acusações compromete lideranças do PT, PMDB e PP - e endossam a campanha anti-petista nas capas de jornais.
O Instituto Datafolha decidiu sondar qual a extensão da publicidade do caso, e descobriu que 80% dos entrevistados já ouviram falar do assunto. Dois em cada três eleitores acreditam que as denúncias são verdadeiras, e 66% acham que Dilma tem alguma responsabilidade. Apesar disso, ela conseguiu manter o empate técnico com Aécio nas intenções de voto.
Na avaliação do cientista político Cláudio Couto, da FGV, as denúncias de corrupção contra o PT começam a perder a potência. “O governo apanhou tanto nos últimos anos que entendo que não há mais efeito significativo de novas críticas e escândalos sobre o eleitorado. Eles já produziram os seus resultados”, explica.
“Por outro lado, para compensar essa desvantagem, o governo vem usando sua campanha no rádio e na TV como instrumento de contra-propaganda. O horário gratuito também virou mecanismo de divulgação das realizações do governo, já que a mídia deu pouco espaço para esse contraponto. Isso pode ter segurado os ataques negativos à Dilma. Outro fator que sustenta a situação de empate é que só agora o PT vai bater mais no Aécio e tentar frear o avanço dele. Antes, o alvo era Marina e Aécio, nesse sentido, foi poupado”, acrescenta.
Crente que a disputa vai chegar embolada até 26 de outubro, Couto não arrisca dizer quem vence a eleição este ano. Na visão dele, os dois candidatos deverão dar continuidade às campanhas considerando que, pelas pesquisas, o eleitorado já parece consolidado e bem polarizado. “No caso de Aécio, ele deveria se voltar menos para o eleitor anti-petista, porque esse já está ao seu lado, e focar mais nos eleitores indecisos ou que não estão satisfeitos com a economia, por exemplo.”
Contraponto
Antônio Flávio Testa, cientista político da UnB, pondera que “as denúncias da Petrobras não pegam no eleitorado de Dilma. Ele é mais cativo, mais dependente de benesses, são simpatizantes do PT de qualquer maneira. No caso do eleitorado mais conservador e bem formado, há a tendência em apoiar Aécio em função das denúncias que pipocam na mídia.” Aécio, na visão de Testa, também pode crescer mais no Nordeste, onde o PMDB pode rachar em alguns estados e dar mais apoio a ele.
“A tendência é dar Aécio Neves no segundo turno. O mapa do Brasil, nas eleições, deve ser olhado de maneira quantitativa, principalmente quando a disputa é assim, apertada, no voto a voto. Aécio tem potencial para crescer mais em Pernambuco, com ajuda do PSB, e em Minas Gerais”, disse.
Segundo maior colégio eleitoral do País, Minas Gerais deu vitória a Dilma contra Aécio no primeiro turno. As falhas de gestão cometidas por Aécio em seus dois mandatos como governador (2003-2010) são amplamente exploradas pela campanha petista para desconstruir o adversário tucano. Apesar disso, Ibope e Datafolha indicam que Aécio continua crescendo no Sudeste, Sul e Centro-Oeste, enquanto a presidente segue reinando no Norte e Nordeste.
http://jornalggn.com.br/noticia/empate-com-aecio-no-cenario-atual-e-uma-vitoria-para-dilma
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