QUI, 16/10/2014 - 06:56
O PSB foi fundado há décadas, por um grupo de socialistas democráticos e libertários. Eram ridicularizados por membros dos partidos comunistas ortodoxos, que os achavam idealistas (não marxistas, materialistas), linha auxiliar da burguesia e etc. Sua votação era inexpressiva, mas o partido e militantes eram respeitados pela coerência.
Como todos os demais partidos, o PSB foi fechado pela ditadura militar e refundado após a redemocratização. Vinha tendo desde então uma conduta razoavelmente coerente, de centro esquerda, que lhe permitiu adquirir uma boa imagem , conquistar parlamentares como Luiz Erundina e outros de igual conceito.
Tudo indicava que iria ganhar corpo e disputar espaço com os principais partidos, PT e PSDB, até que Eduardo Campos precipitou esse confronto, ao lançar-se candidato. Com o falecimento de Campos, Marina tomou seu lugar e enfrentou o desafio. No entanto, a polarização tradicional foi mais uma vez vitoriosa. Na última hora, o voto anti-petista-útil migrou para Aécio.
Em vez de se manter neutro ou compor no campo da esquerda, o PSB se aliou aos liberais-conservadores, turvando totalmente a boa imagem conquistada com tanto sacrifício. Não se trata pela aliança em si com o PSDB, pois todo partido tem direito a formar alianças, mas pela frontal oposição entre o que propõe: socialismo e as propostas liberais conservadoras dos tucanos, ou seja, a aliança é totalmente oportunista, não tem como ser programática, foi um suicídio político. Inexiste doravante a terceira via, mas, para o PSB, apenas o caminho já tomado pelos demais partidos bondes que se multiplicam no panorama político brasileiro. Pode-se apostar um doce que se Dilma ganhar, no dia seguinte estará com pires na mão na porta do palácio da Alvorada. Se vencer Aécio, terá seus ministeriozinhos.
Esse tipo de adesão se tornou possível devido a gama de oportunistas das mais diversas matizes que tomaram o poder no partido, em alguns estados, justamente para aproveitar sua imagem. Era até há pouco, um dos que se mantinha mais ideológico do que fisiológico.
Não satisfeitos, novas lideranças do PSB proclamam agora uma aliança com o PPS, ex Partidão; nada mais incoerente, o oposto à proposta do socialismo democrático. O PPS atualmente sempre se alinha com a direita, se acha ótimo a lado do DEM na fotografia, em praticamente todos os Estados e no Congresso. Não obstante, Roberto Freire, eterno presidente do partido e candidato derrotado nas últimas eleições, acha que essa união é uma “aliança natural de forças de esquerda”.
Os ex socialistas, enfim, se enfiaram até o pescoço no ambiente prostituído dos demais partidos-bondes. Seus fundadores felizmente, não viveram tanto para participar do vexame.
A decisão não foi lamentável apenas pelo conteúdo, mas também pela forma. Em uma decisão tão importante, adesão ao PSDB, tudo indica que nenhum dos presidentes estaduais do partido deve ter pensado na possibilidade de consultar seus militantes, mais um motivo pelo qual desce à vala comum para chafurdar e disputar migalhas.
Talvez a militância e políticos mais à esquerda que restaram ainda tenham forças para recuperar o poder, eis que os fisiológicos (pragmáticos?) abandonam o navio se não obtiverem as benesses esperadas. Para estes qualquer partido serve e a sigla socialista pode até atrapalhar. Mas será uma missão difícil e prolongada. Poderia haver uma saída com a formação da Rede, da Marina Silva, mas ela também cometeu o mesmo erro. Esse campo da esquerda continuará órfão.
Percival Maricato
http://jornalggn.com.br/noticia/o-psb-tambem-por-que-nao-por-percival-maricato
Nenhum comentário:
Postar um comentário