Jornalista investigativo, o escocês Andrew Jennings, autor de "Jogo Sujo - O Mundo Secreto da Fifa" (Editora Pandabooks), tem uma missão: despir o presidente da CBF Ricardo Teixeira.- Ele roubou tanto que precisa de ajuda, precisa de terapia, e eu vi para ser seu confessor. Ele teria de tirar as calças, só assim descobriríamos o quanto ele roubou. Jornalisticamente vamos tirar a roupa deles - ironiza.Presente em um ciclo de debates promovido pela agência Pública, de jornalismo investigativo, Jennings reafirmou no último domingo o envolvimento de Ricardo Teixeira e João Havelange no caso do pagamento da propina da empresa suíça de marketing esportivo ISL à Fifa, na década de 1990. E mais: revelou a tentativa dos dirigentes ocultarem seus nomes do escândalo.A propina teria sido paga ao alto escalão da Fifa - entre ele, Havelange e Teixeira - para que os cartolas garantissem à companhia contratos de marketing para alguns eventos esportivos organizados pela entidade, dentre eles, a Copa do Mundo. Jennings afirma que a ISL pagou R$ 100 milhões à Fifa e que somente Teixeira teria ficado com R$ 9,5 milhões.Segundo o britânico, a Justiça suíça concluiu a investigação do caso em junho deste ano, mas foi interpelada por advogados da Fifa e de dois cartolas que enviaram cartas à Procuradoria da Suíça a fim de evitar que seus nomes fossem divulgados. Nas correspondências os advogados argumentam pela não divulgação e identificam os envolvidos como "B2" e "Z". A primeira sigla designaria Ricardo Teixeira e a segunda, João Havelange.Na esteira das investigações, Jennings tenta reunir colaboradores (jornalistas ou não) que estejam engajados na causa da transparência no esporte.- Há uma grande voz conivente na grande mídia, apesar de algumas vozes críticas. Mas todos vocês podem ajudar. Todos tem habilidades e podem trabalhar em grupo para contribuir com a causa da independência na mídia. Nós precisamos de vocês - disse, em tom panfletário, em palestra aberta ao público, na Casa da Cultura Digital, no bairro da Barra Funda, São Paulo.Andrew quer reunir voluntários para traduzir e produzir o material jornalístico investigativo sobre a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas 2016. Segundo ele, há bons materiais surgindo com esse conteúdo, mas eles ficam restritos ao Brasil, pelo idioma, e há necessidade de um diálogo internacional.- Nos próximos anos, jornalistas estrangeiros virão produzir matérias sobre o Brasil e sobre o desenrolar da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Mas o que eles sabem? Atrás dos grandes aplausos, há sempre boas oportunidades de se contar grandes histórias relacionadas ao esporte - concluiu, desafiador.
Segundo ele, é crucial que esse material seja produzido por brasileiros, pela proximidade aos acontecimentos.
Bate Bola - Andrew Jennings, jornalista investigativo, exclusivo ao LANCENET!
LANCENET!: Você acha que a cobertura da mídia sobre a realização da Copa do Mundo vem sendo satisfatória?
ANDREW JENNINGS: É difícil falar disso, porque eu não falo e não leio em português. Acho que há uma grande mídia muito conivente com a realização da Copa. Porém, acho que há vozes críticas dentro da grande mídia e há um caminho favorável para se realizar denúncias e cobrar mais transparência na realização do evento.
L!NET: De que maneira você planeja contribuir para a transparência na cobertura da mídia acerca da realização dos dois megaeventos?
AJ: Pretendo reunir um grupo de voluntários. Inicialmente, eles traduziriam e produziriam matérias investigativos sobre a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Existem muitas boas histórias sobre a corrupção. Nos próximos anos, jornalistas estrangeiros virão produzir matérias sobre o Brasil e sobre o desenrolar da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Mas o que eles sabem? Atrás dos grandes aplausos, há grandes oportunidades de se criar grandes histórias relacionadas ao esporte. Há de se ver o outro lado do jogo: há pessoas ficando mais ricas enquanto a realização dos dois megaeventos são cada vez menos transparentes.
L!NET: Na chamada pequena mídia há espaço para se investigar?
AJ: Esse movimento é essencialmente da pequena mídia. Hoje as pessoas tem essa arma maravilhosa que a internet. Com ela, podemos dar voz aos esquecidos. Podemos tomar posse da nossa mídia. Podemos tirar o poder dos grandes veículos que não estejam fazendo o seu trabalho da maneira correta. Trabalhamos para o povo, vamos investigar o que está acontecendo e vamos atacar os poderosos. Todo mundo tem habilidades e pode ajudar a fortalecer a mídia independente.
L!NET: Com relação aos valores envolvidos na construção de estádios, qual é a sua opinião?
AJ: A Copa do Mundo não acontecia na América do Sul há muito tempo. (Ricardo) Teixeira precisa da Copa para uso próprio. E ele usou de sua influência com Blatter para dizer: "eu preciso da minha Copa do Mundo", ou seja, feita para absorver os recursos das pessoas. Vai custar muito e, à medida em que os prazos forem ficando apertados, os preços vão subir cada vez mais. Não precisamos de dinheiro público envolvido nesses eventos. Veja o quanto as televisões lucram.
L!NET: Você acha que é necessário a Copa 2014 ter 12 cidades-sede?
AJ: Não é necessário esse número de sedes. Há de se pensar antes de se construir. A pressão da Copa faz com que se compre a ideia da necessidade de construção, que nem sempre existe. Quando o prazo se aproxima, vira uma questão de patriotismo, de orgulho nacional, que, às vezes, tira o olhar crítico sobre as obras.
L!NET: Após investigar tantos escândalos de corrupção, você ainda acredita no poder de transformação social do futebol?
AJ: O futebol pode ter esse poder. No Quênia vi algumas boas experiências, em algumas aldeias de Nairobi (capital do Quênia), em que o futebol movia as pessoas a transformar a realidade. Contudo, não vejo muitas ações dos governos nesse sentido.
L!NET: Você acredita em legado social nos megaeventos?
AJ: Pela minha experiência, não acredito que haja muito legado social. A última Copa, na África do Sul, foi péssima neste sentido.
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