por Gustavo Costa*
03 de janeiro de 2012.
São Paulo e o Brasil amanhecem atentos à operação policial que ocupou a região da Cracolândia.
Viaturas, helicópteros, muita polícia.
O Estado se fez presente com uso da força e da truculência.
Arrancou a pontapés usuários de crack das ruínas da rua Helvétia com a Dino Bueno.
Um lugar escabroso onde centenas de pessoas sobreviviam em meio ao lixo e a excrementos há anos.
Os despejados daquele espaço insalúbre foram empurrados para uma praça qualquer, ali perto mesmo.
Nos dias seguintes, forças policiais ocuparam as ruas do centro. Fincaram suas bases.
As ruínas vieram abaixo.
A dupla Alckmin-Kassab anuncia: "A Cracolândia acabou".
Pronto, está tudo resolvido, ela não existe mais.
Não, ela não acabou.
A Cracolândia é itinerante.
Ela está esparramada como um câncer pelo centro de São Paulo em vários grupos menores, de 20, 30 pessoas, que continuam vagando pelas ruas da cidade. E escondida debaixo de pontes e viadutos.
O consumo e o tráfico de crack continuam livres.
Os dependentes continuam abandonados, humilhados a cada abordagem policial.
Sem médico.
Sem teto.
Sem dignidade.
Tratados à base de cacetetes e balas de borracha.
O centro de São Paulo vai continuar adoecendo enquanto nós não olharmos na cara dessa gente.
Enquanto um problema social, uma epidemia, estiver sob atribuição da polícia.
E enquanto o Estado não descobrir que por trás de cada cachimbo de crack tem uma história, tem uma vida humana.
(*) Gustavo Costa é um dos mais premiados telejornalistas da nova geração.
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