Foto: Roosewelt Pinheiro/AGÊNCIA BRASIL_Divulgação
DIÁRIO DA MANHÃ DESTACA PROJETO DO SENADOR DEMÓSTENES TORRES (DEM/GO) DE RESORT NO ARAGUAIA, COM IMAGEM DE CASCATA; É UM JEITO IRÔNICO DE ROMPER A CENSURA; EM ENTREVISTA AO POPULAR, SENADOR DIZ QUE NÃO PODE SER CONDENADO POR SER AMIGO DE CARLOS CACHOEIRA E DESTACA QUE A IMPRENSA IGNORA A ASSUNTO
247 – Quando havia censura nas principais redações brasileiras, o jornal Estado de S. Paulo ganhou notoriedade ao publicar versos de sonetos de Camões, no espaço onde as reportagens eram cortadas pelos censores. No Brasil, a censura acabou, mas nem tanto. Jornais regionais nem sempre podem noticiar com total liberdade o que ocorre na política local. Talvez seja este o caso do Diário da Manhã, de Goiânia, que tem sido tímido na cobertura da Operação Monte Carlo, que prendeu o bicheiro Carlos Cachoeira e ainda poderá dissecar sua surpreendente influência na máquina pública de Goiás – tanto na segurança pública como na área econômica.
No entanto, mesmo sem destacar as estripulias do senador Demóstenes Torres (DEM/GO), amigo do peito do bicheiro, e do governador Marconi Perillo, do PSDB, que franqueou a máquina do Estado ao contraventor, o Diário da Manhã publicou hoje uma primeira página com fina ironia. Ela destaca um projeto do senador Demóstenes Torres de um parque no Araguaia, com uma foto de uma cachoeira ao lado. Às vezes, como dizem os publicitários, uma imagem vale mais do que mil palavras.
Mais audacioso na cobertura, o jornal “O Popular” publicou uma entrevista com Demóstenes. Nela, o senador diz que “não pode ser condenado por uma amizade” e comemora o fato de o escândalo não estar recebendo a cobertura adequada de veículos como Folha, Globo e Estadão. Leia, abaixo, a entrevista do senador que trocou 298 telefonemas com o bicheiro, a quem chamava de “professor”:
“Desafio qualquer um a apresentar qualquer prova”
As investigações da Operação Monte Carlo mostram, conforme o publicado ontem pelo jornal Correio Braziliense, que o senador Demóstenes Torres (DEM) conversou 298 vezes com o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, por telefone, entre fevereiro e agosto de 2011. Em entrevista ao POPULAR, Demóstenes afirmou que as ligações foram motivadas pela separação de seu suplente, Wilder Morais, cuja mulher foi viver com Carlinhos Cachoeira. Ele diz que superará desgastes políticos.
Caio Henrique Salgado04 de março de 2012 (domingo)
As transcrições feitas pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo mostram que o senhor falou diariamente com Carlinhos Cachoeira entre fevereiro e agosto de 2011. O senhor sempre manteve esse contato próximo com ele?
Apenas mais recentemente por eu ser amigo do Carlinhos e do meu suplente Wilder Morais e a questão da separação da mulher dele (que foi viver com Cachoeira).
As investigações também mostram que o senhor chama Carlinhos Cachoeira de professor.
Eu chamo todos dessa maneira. Eu chamo (governador) Marconi Perillo de professor, o (presidente do Senado) José Sarney (PMDB-AP). Se você for meu amigo, também vou lhe chamar de professor. Eu chamo qualquer pessoa dessa forma. Quem me conhece, sabe disso.
O senhor acha que essa repercussão em torno da amizade entre vocês prejudica sua carreira política?
Só há repercussão em Goiás, em alguns veículos, e só no Correio Braziliense. Fora disso, a coisa já está superada.
Então, o senhor não teme desgastes políticos?
É claro que vai haver desgastes na minha imagem política, mas eu tenho certeza que vai preponderar o seguinte: eu fui relator dos maiores projetos do Brasil e poderia, por exemplo, ter recebido propina das teles para evitar lesão às empresas interessadas (durante a tramitação da proposta que regulamentou, em 2011, o ingresso das empresas de telecomunicações no mercado de TV a cabo). Muita gente do Congresso levou dinheiro. Inclusive goianos. E eu não levei nada. Fiz republicanamente. Eu não faria nada que pudesse desonrar minha família e os goianos. Eu não posso ser condenado por uma amizade. Eu desconhecia a atividade paralela dele e estou absolutamente tranquilo. Sei que o momento é de desgaste, mas, no decorrer de tudo, vai ficar provado que não houve nada. Eu desafio qualquer um a apresentar qualquer prova contra mim. Lamento, o momento é de desgaste, mas vou provar que não fiz nada. Vou provar que sou honrado.
O senhor fará pronunciamento sobre isso no Senado?
Eu vou conversar com os colegas. Não há qualquer possibilidade de eu não mostrar para a Casa o que aconteceu.
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