domingo, 27 de maio de 2012

Caso Boechat cria saia justa para revista Época


Caso Boechat cria saia justa para revista Época

Foto: Edição/247

EM 2001, A GLOBO DEMITIU RICARDO BOECHAT, FLAGRADO EM GRAMPO, SEM DIREITO A APELAÇÃO; ONZE ANOS DEPOIS, O CASO QUE ENVOLVE O DIRETOR DE ÉPOCA, EUMANO SILVA, É AINDA MAIS GRAVE; HÉLIO GUROVITZ, DIRETOR DA REVISTA, SE VÊ PRESSIONADO A TOMAR DECISÃO SEMELHANTE À DE MERVAL PEREIRA CONTRA BOECHAT

27 de Maio de 2012 às 07:05
247 – Em 2001, um dos principais jornalistas das Organizações Globo, Ricardo Boechat, foi demitido sumariamente do jornal O Globo quando um grampo que o envolvia foi publicado pela revista Veja. Boechat conversava com o lobista Paulo Marinho, ex-assessor do empresário Nelson Tanure, sobre uma reportagem que sairia no jornal, relacionada a uma disputa no setor de telecomunicações.
Boechat foi demitido e humilhado. Ao justificar sua saída, Merval Pereira, então diretor de Jornalismo foi enfático. “Ele usou o jornal e sua influência para fazer uma matéria que favorece um grupo contra o outro”, disse Merval, à época. Em 2001, Tanure e o grupo Opportunity lutavam pelo controle da empresa Telemig Celular. Boechat se defendeu argumentando que sua reportagem era verdadeira. Mas isso não foi suficiente. Até mesmo o editorialista Luiz Garcia, do jornal O Globo, escreveu artigo relatando sua decepção com o comportamento de Boechat, que foi abatido sem piedade, mas que, graças a seu talento, conseguiu se reerguer no grupo Bandeirantes e na revista Istoé.
O precedente criado pela Globo e por Merval Pereira coloca, agora, intensa pressão sobre o jornalista Hélio Gurovitz, diretor de redação da revista Época. Nesta terça-feira, ele soube que a revista Carta Capital publicaria grampos entre o jornalista Eumano Silva, diretor de Época em Brasília, e o araponga Dadá. As conversas são mais íntimas do que aquelas que, onze anos atrás, envolviam Boechat e Paulo Marinho.  Num dos grampos (escute aqui), Eumano avisa Dadá de riscos relacionados à construtora Delta – o que comprova que o jornalista sabia que o araponga, sua fonte, tinha lado definido.
Procurado por Carta Capital, Gurovitz afirmou que Época não sabia que Dadá fazia parte de uma quadrilha. Os grampos, no entanto, apontam que Eumano Silva tinha sim conhecimento que Dadá era ligado à empreiteira de Fernando Cavendish. Na edição impressa, Época não publicou nenhuma linha sobre o caso, talvez na esperança de que o assunto caia no esquecimento.
Espírito de corpo
O que diferencia as situações de Boechat e Eumano é o contexto político. Em 2001, a Globo demitiu seu jornalista após uma denúncia da revista Veja. Agora, a Globo acaba de hipotecar seu apoio à Abril, num editorial chamado “Roberto Civita não é Rupert Murdoch”. É improvável que Época demita um jornalista por pressão de Carta Capital. Até porque, se agir desta maneira, colocará pressão em Veja pela demissão de Policarpo Júnior.
A tendência é que, no escândalo atual, prevaleça o espírito de corpo e o instinto de preservação da espécie.

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