Entre os nomes mais lembrados na
polêmica envolvendo as biografias não autorizadas, o caso do jornalista e
historiador Paulo Cesar de Araújo, autor da obra “Roberto Carlos em
Detalhes”, proibida em 2007, voltou à tona há pouco mais de um mês,
quando o grupo de artistas conhecido como Procure Saber posicionou-se de
forma contrária às mudanças na legislação atual.
Araújo participou de debate sobre o tema promovido pelo jornal O Globo nessa quinta-feira, 21, no Rio de Janeiro. Ele relatou o processo de pesquisa ao longo de 15 anos para escrever o livro. Em entrevista ao Comunique-se, fala sobre sua relação com Roberto Carlos e antecipa que não vai parar de escrever.
Araújo participou de debate sobre o tema promovido pelo jornal O Globo nessa quinta-feira, 21, no Rio de Janeiro. Ele relatou o processo de pesquisa ao longo de 15 anos para escrever o livro. Em entrevista ao Comunique-se, fala sobre sua relação com Roberto Carlos e antecipa que não vai parar de escrever.
Confira a íntegra da conversa:
Como foi a ideia de escrever a biografia? Você imaginava que poderia gerar toda essa repercussão?
Como foi a ideia de escrever a biografia? Você imaginava que poderia gerar toda essa repercussão?
Meu
compromisso foi com o conhecimento e a informação. Quis preencher essa
lacuna na história da música. O processo sempre foi uma possibilidade,
mas a minha preocupação não era o Roberto. Não fiz para agradá-lo, por
isso não coloquei uma capa azul e branca e abordei temas que sabia que
ele poderia não gostar.
A polêmica com o Roberto Carlos valorizou ou desfavoreceu sua carreira?
A polêmica com o Roberto Carlos valorizou ou desfavoreceu sua carreira?
A proibição me deu uma projeção maior, porque isso resultou em projeto de lei no congresso, cujo marco reconhecidamente é o veto ao livro “Roberto Carlos em Detalhes”. Isso extrapolou a mera biografia e se tornou um debate nacional. Mas, por outro lado, esse processo me impediu de escrever outros livros, dificultou minha própria produção pelo tempo que me ocupou em reuniões com advogados.
Você sente que portas se abriram ou que foram fechadas após o impasse?
Se não existisse a proibição, já teria publicado duas ou três obras, teria seguido uma carreira de escritor mais regular. Tudo tem os dois lados: a projeção pode trazer benefícios para os próximos livros.
Falando em próximos livros, você está trabalhando em outra biografia agora?
Estou concluindo o livro sobre os bastidores dessa pesquisa. Para fazer o “Eu não sou cachorro, não” e “Roberto Carlos em Detalhes” entrevistei cerca de 200 personagens da música brasileira. Estou contando meus encontros, de Waldick Soriano a João Gilberto, meus desencontros com Roberto. Tudo que aconteceu nesses 15 anos de pesquisa.
A polêmica também vai entrar no livro? Há previsão para o lançamento do título?
Sim, também. Vou contar tudo que aconteceu nos bastidores de toda a apuração, todas as entrevistas. O embate judicial que originou isso, o debate com amplitude nacional. A previsão que é a obra seja lançada no próximo ano.
Se Roberto Carlos pedisse para alterar algo no livro, você faria?
Já estamos em outra etapa. A fase de entendimento com o Roberto foi lá na audiência da conciliação, mas infelizmente ele não quis acordo, proibiu todo o livro, todos os capítulos. Agora, mudando a lei, nós temos que adequar o livro à realidade do país, que é de livre expressão.
Ele chegou a externar se teve exatamente alguma passagem do livro que o incomodou?
Ele próprio disse ao Fantástico que não ficou incomodado com o relato do acidente [...], coisa que muitas pessoas diziam. Ele derrubou isso. Não há o que mudar no livro, só o que acrescentar. Tenho que atualizar apenas, pois foi impresso em 2006. A música “Esse cara sou eu”, por exemplo, não está lá. Vai ter que entrar na edição atualizada e ampliada.
Qual o seu contato com o cantor?
Tentei durante 15 anos uma entrevista exclusiva com o Roberto e não consegui. Tive encontros informais, nos bastidores dos camarins. Fui a todas coletivas que ele concedeu no Rio de Janeiro. A conversa mesmo só aconteceu na audiência de conciliação, na frente do juiz.
Durante e depois do processo, vocês chegaram a ter um bate papo?
Não
vou chamar de bate papo, porque é uma coisa bacana. Na verdade, foi um
embate numa vara criminal, diante do juiz e dois promotores. Claro, ele
reclamou do livro não ter sido autorizado e eu me defendi. Foi o único
momento de uma conversa presencial.
O que me surpreendeu foi a violência do processo, o pedido de prisão. Geralmente, os processos contra jornalistas e escritores correm sempre na área cível. Ele também entrou na criminal. Pediu R$ 500 mil por dia. Claro que isso foi surpreendente, ainda mais partindo de alguém que defende a paz, o amor, a compreensão entre os homens. Há uma frase em música que ele compôs que diz: “Não importam os motivos da guerra, a paz é mais importante”.
Se o veto judicial à sua biografia sobre Roberto Carlos persistir, o que você pensa em fazer?
Se persistir, vou continuar produzindo, escrevendo, pesquisando. Não sei se será publicado, porque não depende só de mim, é preciso ter editora. Eu sou favorável ao enfrentamento, acho que as trevas não podem prevalecer contra a luz. Até entendo quando alguns biógrafos dizem que não querem escrever mais, é razoável isso também, mas penso diferente. Eles queriam que todo mundo parasse, mas vou continuar do mesmo jeito. Até porque sigo a Constituição. É o artigo 20 que está criando todo esse problema. Se o judiciário não resolver isso, lamento pelo país, por todos nós, mas não vou parar de pesquisar e escrever por causa de uma aberração.
http://portal.comunique-se.com.br/index.php/destaque-home/73305-projecao-e-obstaculos-jornalista-fala-do-impacto-da-biografia-de-roberto-carlos-em-sua-carreira
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