Pedro do Coutto
Lendo a edição de terça-feira de O Dia, aprecio a cobertura da festa dos 60 anos do jornal, que teve presença legítima da presidente Dilma Rousseff, do governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes. A sua atual diretora proprietária, Maria Alexandra Mascarenhas Vasconcelos, afirmou que a trajetória do jornal converge com a história moderna do Brasil. É fato. Mas Maria Alexandre, a meu ver, deveria ter se referido a seu fundador, Chagas Freitas, depois deputado federal, governador da Guanabara e do Estado do Rio de Janeiro.
O Dia, efetivamente, sem entrar no conteúdo das ações políticas conservadoras de Chagas, foi o maior jornal popular da história do Rio. Desde sua fundação até o momento, em 1983, quando aquele chefe político dele se afastou, vendendo-o por uma quantia, aparentemente irrisória, ao jornalista Ari de Carvalho. Ari havia fracassado totalmente quando dirigiu O Jornal, de Chateaubriand, o Correio da Manhã em sua fase tristemente derradeira, arrendado ao grupo Mauricio Alencar, irmão de Marcelo Alencar , e conduziu a Última Hora ao absoluto insucesso, fase em que o mesmo Maurício Alencar a adquiriu de Samuel Wainer.
Depois das eleições de 82, nas quais sentindo-se traído por Miro Teixeira, candidato que lançara e apoiara, Chagas Freitas foi atacado por depressão. Antes do pleito porém, retirou seu apoio ao pupilo e cortou a coluna diária que assinava em O Dia. Meses depois saiu à procura de um comprador.
Surpreendentemente apareceu Ari de Carvalho. Representava alguém, é claro. Mesmo pelo baixíssimo valor de 3 milhões de dólares por uma empresa magnificamente administrada por Chagas, que dava lucro na venda avulsa, o próprio Chagas disse isso certa vez ao vice governador Erasmo Martins Pedro, meu sogro, que Ari de Carvalho, um editor não bem sucedido, como os fatos que citei comprovam, não poderia dispor de tal importância. Mas dispôs. A transição foi efetuada em seu nome.
Nas sombras, representava Ronald Levingson, este inclusive proprietário do prédio em que se encontrava a Última Hora, também dirigida por Ari. Talvez uma coincidência. Quem sabe? Dez anos depois de sua morte, a viúva tentou anular a operação para proteger os direitos de família, formada então por seus dois filhos Marcia e Cláudio. Ivan, este meu amigo, morrera antes. O advogado foi Sérgio Bermudes, que – claro – não teve êxito. Mas êxito na edição de O Dia alcançou Ari de Carvalho depois do insucesso à frente das redações de O Jornal, Correio da Manhã e Última Hora.
Êxito, aliás, total. Conseguiu, principalmente quando Dácio Mata foi o editor-chefe, fazer o jornal penetrar na classe média sem perder público na
faixa de menor renda. Ari de Carvalho morreu aos 69 anos e o diário foi adquirido pelo grupo português representado, me parece, por sua diretora Maria Alexandra. Na época de Chagas Freitas, O Dia venceu a concorrência com a Luta Democrática, de Tenório Cavalcanti, que se afastou do matutino antes de seu final.
Na Folha de São Paulo de terça-feira 28, Carlos Heitor Cony relembrou por, outros motivos, a trajetória da Luta Ddemocrática e de Tenório, o homem da metralhadora sob a capa preta. Mas esta é outra questão. O Dia, nas mãos de Chagas, foi uma afirmação da presença, a maior de todas, de um jornal popular. A posse de O Dia nunca foi contestada.
Contestada até hoje, no STF, é a posse de A Notícia, também de Chagas Freitas, em sociedade com o governador do passado, de São Paulo, Ademar de Barros. Mas se O Dia ontem ganhou o confronto com a Luta, hoje perde em circulação para o Extra, da família Roberto Marinho. Entretanto o Meia Hora (O Dia) derrota amplamente o Expresso (O Globo).
Seja como for, vida longa a O Dia. Pois cada vez que um jornal se enfraquece ou morre como morreram tantos, nós, jornalistas, e o universo de comunicação do país perdem mais também.
Lendo a edição de terça-feira de O Dia, aprecio a cobertura da festa dos 60 anos do jornal, que teve presença legítima da presidente Dilma Rousseff, do governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes. A sua atual diretora proprietária, Maria Alexandra Mascarenhas Vasconcelos, afirmou que a trajetória do jornal converge com a história moderna do Brasil. É fato. Mas Maria Alexandre, a meu ver, deveria ter se referido a seu fundador, Chagas Freitas, depois deputado federal, governador da Guanabara e do Estado do Rio de Janeiro.
O Dia, efetivamente, sem entrar no conteúdo das ações políticas conservadoras de Chagas, foi o maior jornal popular da história do Rio. Desde sua fundação até o momento, em 1983, quando aquele chefe político dele se afastou, vendendo-o por uma quantia, aparentemente irrisória, ao jornalista Ari de Carvalho. Ari havia fracassado totalmente quando dirigiu O Jornal, de Chateaubriand, o Correio da Manhã em sua fase tristemente derradeira, arrendado ao grupo Mauricio Alencar, irmão de Marcelo Alencar , e conduziu a Última Hora ao absoluto insucesso, fase em que o mesmo Maurício Alencar a adquiriu de Samuel Wainer.
Depois das eleições de 82, nas quais sentindo-se traído por Miro Teixeira, candidato que lançara e apoiara, Chagas Freitas foi atacado por depressão. Antes do pleito porém, retirou seu apoio ao pupilo e cortou a coluna diária que assinava em O Dia. Meses depois saiu à procura de um comprador.
Surpreendentemente apareceu Ari de Carvalho. Representava alguém, é claro. Mesmo pelo baixíssimo valor de 3 milhões de dólares por uma empresa magnificamente administrada por Chagas, que dava lucro na venda avulsa, o próprio Chagas disse isso certa vez ao vice governador Erasmo Martins Pedro, meu sogro, que Ari de Carvalho, um editor não bem sucedido, como os fatos que citei comprovam, não poderia dispor de tal importância. Mas dispôs. A transição foi efetuada em seu nome.
Nas sombras, representava Ronald Levingson, este inclusive proprietário do prédio em que se encontrava a Última Hora, também dirigida por Ari. Talvez uma coincidência. Quem sabe? Dez anos depois de sua morte, a viúva tentou anular a operação para proteger os direitos de família, formada então por seus dois filhos Marcia e Cláudio. Ivan, este meu amigo, morrera antes. O advogado foi Sérgio Bermudes, que – claro – não teve êxito. Mas êxito na edição de O Dia alcançou Ari de Carvalho depois do insucesso à frente das redações de O Jornal, Correio da Manhã e Última Hora.
Êxito, aliás, total. Conseguiu, principalmente quando Dácio Mata foi o editor-chefe, fazer o jornal penetrar na classe média sem perder público na
faixa de menor renda. Ari de Carvalho morreu aos 69 anos e o diário foi adquirido pelo grupo português representado, me parece, por sua diretora Maria Alexandra. Na época de Chagas Freitas, O Dia venceu a concorrência com a Luta Democrática, de Tenório Cavalcanti, que se afastou do matutino antes de seu final.
Na Folha de São Paulo de terça-feira 28, Carlos Heitor Cony relembrou por, outros motivos, a trajetória da Luta Ddemocrática e de Tenório, o homem da metralhadora sob a capa preta. Mas esta é outra questão. O Dia, nas mãos de Chagas, foi uma afirmação da presença, a maior de todas, de um jornal popular. A posse de O Dia nunca foi contestada.
Contestada até hoje, no STF, é a posse de A Notícia, também de Chagas Freitas, em sociedade com o governador do passado, de São Paulo, Ademar de Barros. Mas se O Dia ontem ganhou o confronto com a Luta, hoje perde em circulação para o Extra, da família Roberto Marinho. Entretanto o Meia Hora (O Dia) derrota amplamente o Expresso (O Globo).
Seja como for, vida longa a O Dia. Pois cada vez que um jornal se enfraquece ou morre como morreram tantos, nós, jornalistas, e o universo de comunicação do país perdem mais também.
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