domingo, 7 de agosto de 2011

Ameaças explicítas

Ameaças explicítas

Em represália à saída de Alfredo Nascimento dos Transportes, o PR deixa de apoiar o governo no Congresso e inicia o que pode ser um perigoso racha na base

Lúcio Vaz

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MÁGOA
Nascimento garante que todas as irregularidades
nos Transportes são culpa de seu sucessor
“Não sou lixo e meu partido não é lixo para ser varrido da administração”
Desde que o senador Alfredo Nascimento (PR-AM) foi afastado do Ministério dos Transportes, em meados do mês passado, especula-se pelos corredores da Esplanada quais seriam as retaliações contra o governo que os caciques do Partido Republicano estariam preparando. Ao longo das últimas semanas, circularam em Brasília rumores e ameaças veladas de todos os calibres. Até então, acreditava-se que dificilmente o PR ultrapassaria a fronteira das bravatas para ingressar na seara das ações concretas. Na terça-feira, Nascimento finalmente dirimiu as dúvidas sobre as intenções, ao menos até segunda ordem, do PR.

Em um discurso inflamado na tribuna do Senado, o ex-ministro declarou guerra ao governo e anunciou que o PR estava, a partir daquele momento, fora da base de apoio no Congresso. “Não sou ladrão, não sou desonesto, não sou lixo. O meu partido não é lixo para ser varrido da administração”, disse o senador, em um tom ameaçador ao governo. Além de defender suas passagens pelo Ministério dos Transportes, Nascimento focou os ataques em seu sucessor, o colega de partido Paulo Sérgio Passos. De acordo com ele, o orçamento do ministério passou de R$ 58 bilhões para R$ 78 bilhões no período em que esteve afastado do cargo para disputar o governo do Amazonas, no ano passado. Quem assumiu seu lugar na época foi exatamente o atual ministro Paulo Sérgio Passos.
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ATAQUE
Maggi apoiou a saída da base de apoio
Além de anunciar que abandonava a base de apoio do Congresso, por pouco o PR não conseguiu causar um estrago de grandes proporções ao governo. Com a tensão em alta, a oposição conseguiu ainda na terça-feira as 27 assinaturas que precisava para instaurar a CPI dos Transportes. Rapidamente, o Palácio do Planalto reagiu e a tropa de choque do governo conseguiu dissuadir dois parlamentares. Momentos antes de a comissão ser instaurada, os senadores João Durval (PDT-BA) e Reditário Cassol (PP-RO) retiraram o apoio à proposta de criação da CPI, feita pelo senador tucano Álvaro Dias.

Apesar de ter evitado um desastre de grandes proporções na última semana, o governo sabe que o risco PR ainda não foi zerado. Mesmo com o partido afirmando não ter ido para oposição – mas sim apenas deixado a base –, a tendência é que seus senadores e deputados tornem a vida do Planalto mais complicada no Congresso. “A gente não tem nada no governo. Por que vai carregar o governo?”, indagou o também senador Blairo Maggi (PR-MT). E oportunidades para isso não faltarão. Só nos próximos dias ao menos cinco ministros irão à Câmara e ao Senado prestar explicações por conta de denúncias de irregularidades. Como se vê, ainda há muito espaço para Nascimento fazer valer suas ameaças.

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