domingo, 7 de agosto de 2011

Relações militares

 

Ex-chanceler do governo Lula, Celso Amorim assume a pasta da Defesa no lugar de Nelson Jobim - mas a escolha já provoca insatisfação na caserna

Octávio Costa

img.jpg
DISCRETO
Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores de Lula:
ao contrário de Jobim, ele é homem de poucas palavras
O peixe morre pela boca e quem fala demais, de forma impensada, também. A demissão do ministro da Defesa, Nelson Jobim, na quinta-feira 4, é prova disso. Ele não caiu por seus atos ou por incompetência, nem foi vítima da onda de denúncias que atingiu a Esplanada dos Ministérios. Jobim foi demitido por suas palavras. Em entrevista à revista “Piauí”, voltou a falar mal do governo e levou a presidente Dilma Rousseff a antecipar uma decisão que anunciaria nos próximos dias: descartar Jobim e convidar para assumir a Defesa o ex-ministro das Relações Exteriores do governo Lula, Celso Amorim. A decisão, porém, trouxe insatisfação na caserna. “Desde quando um diplomata gosta de guerra? É como botar médico para cuidar de necrotério. Parece brincadeira”, atacou um oficial. “Jobim foi trocado por um fanático esquerdista”, reverberou o líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO), falando em nome dos descontentes. O Palácio do Planalto não respondeu às críticas, mas a presidente Dilma tomou a iniciativa de aparar arestas com os comandantes das Três Forças, em café da manhã na sexta-feira 5, no Palácio da Alvorada. Enzo Peri, do Exército, Juniti Saito, da Aeronáutica, e Júlio de Moura Neto, da Marinha, foram confirmados nos cargos. E a posse de Amorim está marcada para a segunda-feira 8.

Em sua derradeira entrevista como ministro da Defesa, Jobim atacou sem piedade as ministras Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, e Gleisi Hoffmann, da Casa Civil. “A Ideli é muito fraquinha e Gleisi nem sequer conhece Brasília”, disse ele à revista “Piauí.” Poderia ser apenas mais uma parlapatice de Jobim, mas Dilma não estava em clima de brincadeira. A presidente sentiu-se diretamente ofendida por outra frase, na qual Jobim reconstituiu um diálogo com ela sobre a nomeação do ex-deputado José Genoino para seu assessor. O ministro disse que Dilma perguntou se Genoino lhe seria útil e ele deu a seguinte resposta: “Presidenta, quem sabe se ele pode ou não ser útil sou eu.” Para Dilma, a inconfidência de Jobim foi a gota d’água. No início da tarde da quinta-feira, a presidente ligou para o vice Michel Temer, que estava numa missão em Tabatinga com o ministro, ordenou que Jobim antecipasse a volta para Brasília e avisou: “Ou ele pede para sair ou eu saio com ele.”

Desta vez, Jobim foi obediente. Deixou Tabatinga às pressas, chegou à Base Aérea de Brasília às 19h40 e seguiu direto para o Palácio do Planalto. Seu encontro com Dilma Rousseff durou apenas três minutos, o suficiente para ele entregar a carta de demissão. Mesmo no último ato, Jobim mostrou-se arrogante: “Foi uma honra ter servido à senhora e a seu governo. Seja feliz”. O texto de despedida, porém, não é fiel aos fatos. Jobim só ficou no Ministério da Defesa a pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E nunca se adaptou à personalidade de Dilma Rousseff. A presidente demorou a recebê-lo em audiência e, quando o fez, decidiu rever a licitação dos caças da FAB, que havia sido sacramentada pelo ministro a favor dos franceses. Além disso, pediu que o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, também participasse das negociações. Com pouco mais de um mês de governo, Jobim dizia que se tornou apenas “um conselheiro da presidente”, que não lhe delegava decisões. Suas críticas nos bastidores subiram de tom quando o Ministério da Defesa foi duramente atingido pelo corte no Orçamento deste ano. Perdeu R$ 4 bilhões, mais de 20% do total. Jobim também se sentiu desprestigiado por não conseguir emplacar o sucessor da economista Solange Amaral na direção da Agência Nacional de Aviação Civil.

Se Jobim estava descontente, Dilma também não via a hora de se livrar do ministro. Tudo indicava que ele cairia na primeira reforma ministerial. Mas a situação se deteriorou rapidamente quando Jobim alardeou seu voto para Serra. Dilma sabia, mas achou descabida a revelação pública. Preparou-se para a demissão e começou a pensar num nome para suceder Jobim. Sondou o ex-chanceler Celso Amorim, com quem conviveu bem durante o governo Lula. Assim que a situação de Jobim se tornou insustentável, surgiram vários nomes no meio político. Falou-se do ex-ministro e deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) e também da transferência do ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, para a Defesa. O PMDB fez uma indicação surpreendente, a do ex-governador do Rio Moreira Franco, hoje ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos. Pura perda de tempo. Dilma já tinha convidado o ex-chanceler Celso Amorim. Durante a ditadura, Amorim foi demitido da Embrafilme porque financiou “Pra Frente, Brasil”, de Roberto Farias, sobre os anos de chumbo e a tortura. Mas, apesar da reação dos militares, ele tem apoio da presidente da República e uma característica preciosa: é homem de poucas palavras.
g.jpg
g1.jpg

Nenhum comentário: