Foto: VALÉRIA GONÇALVEZ/AGÊNCIA ESTADO
Leonardo Attuch_247 – Quem já assistiu ao seriado “Criminal Minds”, sobre mentes perigosas, sabe bem que muitos crimes deixam uma assinatura. Há quase sempre um padrão de conduta, que revela as obsessões do autor. Em muitos escândalos recentes do Brasil, houve também uma assinatura e um padrão de conduta. Começa-se com uma operação da Polícia Federal, avança-se para o vazamento seletivo das investigações, que são utilizadas politicamente e, por fim, coroa-se o espetáculo na imprensa – de preferência na maior revista semanal do Brasil.
Nesta semana, houve sinais eloquentes de algo do tipo. Primeiro, uma ação da Polícia Federal, a Operação Voucher, contra fraudes no Ministério do Turismo. Depois, a informação de que o nome de um dos presos – um ex-presidente da Embratur – era mantido em sigilo, o que alimentava ainda mais o mistério. Depois, a revelação de que esse nome era o de Mario Moyses, ex-assessor de Marta Suplicy. Por último, uma reportagem de Veja, chamada “Lama no Turismo”, que aponta Moyses como o mentor de todo o esquema criminoso – embora não haja evidências a esse respeito no processo – e que trata a ex-prefeita de São Paulo como se ela ainda fosse ministra do Turismo e não houvesse um novo titular na pasta, que se chama Pedro Novais. “Desta vez, Serra deixou as impressões digitais”, disse ao 247 um integrante da pré-campanha de Marta à prefeitura de São Paulo. “O que prova que ele é o candidato do PSDB à prefeitura”.
Pode ser apenas uma teoria conspiratória. Mas o fato é que existem antecedentes. Outros alvos de operações recentes da Polícia Federal as atribuem à influência que Serra exerce sobre algumas alas da instituição. Exemplo: Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical. Em 2010, no começo da campanha presidencial, ele foi alvo de uma ação da PF, que o acusava de traficar influência no BNDES.
Naquele momento, discutia-se se o PDT apoiaria Serra ou Dilma. E Paulinho da Força estimulava a segunda opção, quando caiu nas garras da PF. No fim de semana seguinte, Veja saiu com a capa “O lado negro da Força”, como se o presidente da entidade sindical fosse uma espécie de Darth Vader. A quem Paulinho atribui sua operação? “Serra”, disse-me ele, em certa ocasião.
Um ano antes, quando aconteceu a Operação Navalha, sobre fraudes em obras públicas, o real alvo da operação apareceu apenas alguns dias depois das prisões, quando surgiu o diálogo em que um dos detidos mencionava o nome do senador Renan Calheiros. Também naquele momento, discutia-se se o PMDB apoiaria Dilma ou Serra – e Renan, assim como Paulinho da Força, era um dos artífices da aliança com o PT. Veja fez várias capas seguidas pela cassação de Renan, mas não teve sucesso na empreitada. E a quem Renan atribui a cruzada para derrubá-lo em 2009? Adivinhem.
Ações eminentemente políticas
Não por acaso, logo depois que foi deflagrada a Operação Voucher, o ex-ministro José Dirceu escreveu um contundente artigo em seu blog, reproduzido aqui no 247, condenando a ação e denunciando seu propósito político: o de dinamitar a aliança política entre PT e PMDB. Alguns viram no artigo a tentativa de acobertar a corrupção. Outros, mais atentos, enxergaram o propósito de desvelar o que há por trás de muitas operações da PF: um interesse político não revelado.
Por que ser candidato
Concorrer em São Paulo em 2012 será mais difícil para José Serra do que foi em 2004, quando ele derrotou Marta Suplicy. Desta vez, as pesquisas a colocam na frente e o pêndulo da rejeição se inverteu: a dele cresceu; a dela diminuiu.
Por isso mesmo é que muitos expoentes da prefeitura de São Paulo e do novo PSD, o partido do seu aliado, Gilberto Kassab, gostariam que ele não fosse candidato. Há quem diga até que Kassab gostaria de aproximar mais e mais o seu partido do bloco governista. Também nesta semana, o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, veio a São Paulo para dizer publicamente que Serra não será candidato.
Mas, na política, o que se diz quase sempre não acontece. E Serra terá que ser candidato por uma razão simples: qual será seu futuro político se ele ficar sem mandato até 2014? O que se agrava ainda mais quando seu próprio partido lhe dá pouco espaço – na última convenção nacional, ele não teve a presidência, a secretaria-geral e nem mesmo o comando do Instituto Teotônio Vilella. Para quem se despediu dos eleitores, na derrota presidencial de 2010, com um “até breve”, seria muito tempo de ostracismo.
Outro sinal de que Serra se movimenta rumo à disputa de 2012 em São Paulo foi o perfil recentemente publicado de Gabriel Chalita na mesma revista Veja. Um texto de uma malvadeza raras vezes vista na revista – e bem feminina, por sinal. A quem Chalita atribui esse perfil? Adivinhem.
Pesos-pesados ou pesos-pena?
Eleições para a prefeitura de São Paulo sempre envolveram pesos-pesados da política. Nomes como Jânio Quadros, Fernando Henrique Cardoso, Paulo Maluf, Mario Covas, Marta Suplicy e o próprio José Serra.
Embora a prefeitura hoje esteja nas mãos do PSD de Kassab, o “serrismo” é sócio da administração. Aliás, vários nomes que pularam do PSDB para o PSD foram de figuras próximas a Serra. Portanto, não há nada mais ingênuo do que imaginar que o PSDB entrará no ringue em 2012 com neófitos em disputas eleitorais como Bruno Covas ou Andrea Matarazzo.
Será um jogo pesado, o que já fica explícito nas movimentações iniciais da campanha, como a Operação Voucher.
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