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Texto divulgado hoje pela Associação dos Delegados da Polícia Federal é direto, objetivo e certeiro: “Qualquer criminoso tem como primeira providência desqualificar o trabalho policial”; registra; "padrinhos de criminosos sempre ficam 'estarrecidos'"; por Claudio Julio Tognolli
Claudio Julio Tognolli_247 - Pela primeira vez, desde que, em outubro de 2003, a PF deflagrou sua primeira grande operação, a Anaconda, uma entidade de classe da elite da corporação (os delegados) saiu a público para criticar o governo. A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal divulgou nota em que ressalva: “após ser preso, qualquer criminoso tem como primeira providência tentar desqualificar o trabalho policial. Quando ele não pode fazê-lo pessoalmente, seus amigos ou padrinhos assumem a tarefa em seu lugar”.
A entidade atira na testa do governo Dilma, sem meias-palavras -- o que leva àquela indagação bifronte ainda não respondida por ninguém: a PF foi enganada pelo Ministério da Justiça, no caso da Operação Voucher, ou o Ministério da Justiça terá enganado, pelo pecado da omissão, a presidente Dilma Rousseff?
A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal lamenta “que no Brasil a corrupção tenha atingido níveis inimagináveis; altos executivos do governo, quando não são presos por ordem judicial, são demitidos por envolvimento em falcatruas”. Prosseguem que “milhões de reais - dinheiro pertencente ao povo - são desviados diariamente por aproveitadores travestidos de autoridades. E quando esses indivíduos são presos, por ordem judicial, os padrinhos vêm a publico e se dizem ‘estarrecidos com a violência da operação da Polícia Federal’. Isto é apenas o início de uma estratégia usada por essas pessoas com o objetivo de desqualificar a correta atuação da polícia. Quando se prende um político ou alguém por ele protegido, é como mexer num vespeiro”.
Aqui cabe uma explicação: sabe-se que, desde fevereiro passado, por ordem expressa de Dilma, a Polícia Federal não pode realizar nenhuma operação sem a assinatura do secretário-executivo do Ministério da Justiça, que se enquadre em duas tecnicalidades: que tenha mais de dez agentes para cumprir mandados de busca e apreensão, ou que emprege qualquer número de agentes que tenham de se deslocar de sua base, em viagens, por mais de dez dias. A alegação era falta de verbas para as mega-operações: mas Dilma, presciente, em verdade tentava ter o mínimo controle sobre as operações da PF –para não levar tiros no pé, como sucedeu na Operação Voucher.
O presidente Lula tinha estratagema diferente: todo o santo dia, ao meio-dia e meia, ele se reunia com o general Jorge Félix, eventualmente com o ministro-chefe da Casa Civil, e sempre com o diretor da Abin, para tomar pé das ações “anti-governo” que viriam ou da PF, ou da mídia. Quando o diretor da Abin sinalizava que sabia-se de uma grande da operação da PF, que arranharia o alto escalão petista, Lula, imediato e incontinenti, desconectava a “nave-mãe” (o núcleo duro governamental) do investigado: que caía ao sabor da mídia, algemado – a que seguiam-se declarações de Lula, ou de seus ministros da Justiça, em prol da “PF republicana”, que “cortava a própria carne”
Vejamos um trecho de Lula, verberado a 14 de junho de 2005, na abertura do IV Fórum Global de Combate à Corrupção, em Brasília. “Tenho nos meus ombros responsabilidades que vão mais além da preservação das instituições. (...) Tenho, ademais, uma biografia a preservar, um patrimônio moral, uma história de décadas em defesa da ética na política. Por isso, não iremos acobertar ninguém, seja quem quer que seja que esteja envolvido', afirmou o presidente. “'Cortaremos na própria carne se necessário', disse, após citar a demissão da diretoria da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) e do Brasil Resseguros (IRB) como exemplos da seriedade com que o governo vê o combate à corrupção. “Determinei aos ministros uma solução definitiva para os problemas envolvendo os Correios e o Instituto de Resseguros do Brasil, resultando no afastamento dos diretores de ambas instituições, sem prejuízo da continuidade das investigações”, completou Lula, referindo-se a processos de sindicância internos e às investigações da Polícia Federal, do Ministério Público e da Controladoria Geral da União. “'Independentemente do uso político-eleitoral que alguns estão fazendo, no meu governo levarei as investigações até as últimas conseqüências. Por isso jurei a Constituição. Sou o principal guardião das instituições deste país, funcionário público número 1”.
A carta dos delegados deixa bem claro que nunca, no governo Lula, houve tamanho descontentamento como o que ora de processa. Sem meias-palavras, a Associação dos Delegados da PF faz referência clara, mas não literal, à Operação Voucher. “A providência logo adotada visa desviar o foco das investigações e investir contra o trabalho policial. Em tempos recentes, esse método deu tão certo que todo um trabalho investigatório foi anulado. Agora, a tática volta ao cenário. Há de chegar o dia em que a história será contada em seus precisos tempos. De repente, o uso de algemas em criminosos passa a ser um delito muito maior que o desvio de milhões de reais dos cofres públicos.”
A carta prossegue assim: “A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal colocará todo o seu empenho para esclarecer o povo brasileiro o que realmente se pretende com tais acusações ao trabalho policial e o que está por trás de toda essa tentativa de desqualificação da atuação da Polícia Federal.
A decisão sobre se um preso deve ser conduzido algemado ou não é tomada pelo policial que o prende e não por quem desfruta do conforto e das mordomias dos gabinetes climatizados de Brasília.
É uma pena que aqueles que se dizem "estarrecidos" com a "violência pelo uso de algemas" não tenham o mesmo sentimento diante dos escândalos que acontecem diariamente no país, que fazem evaporar bilhões de reais dos cofres da nação, deixando milhares de pessoas na miséria, inclusive condenando-as a morte”.
Os delegados são pontuais: referem que “no Ministério dos Transportes, toda a cúpula foi afastada. Logo em seguida, estourou o escândalo na Conab e no próprio Ministério da Agricultura. Em decorrência das investigações no Ministério do Turismo, a Justiça Federal determinou a prisão de 38 pessoas de uma só tacada. Mas a preocupação oficial é com o uso de algemas. Em todos os países do mundo, a doutrina policial ensina que todo preso deve ser conduzido algemado, porque a algema é um instrumento de proteção ao preso e ao policial que o prende”.
Só para lembrar: as operações da PF aumentaram quinze vezes durante o governo Lula. Pularam, por exemplo, de 16 em 2003 para 143 até agosto de 2009. De 2003 para 2010, o número de funcionários da PF pulou de 9.231 para 14.575, um crescimento de 58%. Lula botou nas ruas, na maioria das vezes sob o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, 1.244 operações, o que representa 25 vezes mais do que as 48 tocadas pela PF no governo Fernando Henrique Cardoso.
Os delegados ora confessam sentir saudades do ex-ministro da Justiça de Lula, MTB, maior cacique da “PF republicana” -- e que, após ter saído do governo, atacou operações que ele ajudou a conceber, como a Castelo de Areia e a Satiagraha (o doutor Márcio defendeu a Camargo Corrêa na primeira e passou a defender Pérsio Arida da segunda).
Encerram os delegados “Quanto às provas da culpabilidade dos envolvidos, cabe esclarecer que serão apresentadas no momento oportuno ao Juiz encarregado do feito, e somente a
ele e a mais ninguém. Não cabe à Polícia exibir provas pela imprensa. A ADPF aproveita para reproduzir o que disse o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos: "a Polícia Federal é republicana e não pertence ao governo nem a partidos políticos".
A entidade atira na testa do governo Dilma, sem meias-palavras -- o que leva àquela indagação bifronte ainda não respondida por ninguém: a PF foi enganada pelo Ministério da Justiça, no caso da Operação Voucher, ou o Ministério da Justiça terá enganado, pelo pecado da omissão, a presidente Dilma Rousseff?
A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal lamenta “que no Brasil a corrupção tenha atingido níveis inimagináveis; altos executivos do governo, quando não são presos por ordem judicial, são demitidos por envolvimento em falcatruas”. Prosseguem que “milhões de reais - dinheiro pertencente ao povo - são desviados diariamente por aproveitadores travestidos de autoridades. E quando esses indivíduos são presos, por ordem judicial, os padrinhos vêm a publico e se dizem ‘estarrecidos com a violência da operação da Polícia Federal’. Isto é apenas o início de uma estratégia usada por essas pessoas com o objetivo de desqualificar a correta atuação da polícia. Quando se prende um político ou alguém por ele protegido, é como mexer num vespeiro”.
Aqui cabe uma explicação: sabe-se que, desde fevereiro passado, por ordem expressa de Dilma, a Polícia Federal não pode realizar nenhuma operação sem a assinatura do secretário-executivo do Ministério da Justiça, que se enquadre em duas tecnicalidades: que tenha mais de dez agentes para cumprir mandados de busca e apreensão, ou que emprege qualquer número de agentes que tenham de se deslocar de sua base, em viagens, por mais de dez dias. A alegação era falta de verbas para as mega-operações: mas Dilma, presciente, em verdade tentava ter o mínimo controle sobre as operações da PF –para não levar tiros no pé, como sucedeu na Operação Voucher.
O presidente Lula tinha estratagema diferente: todo o santo dia, ao meio-dia e meia, ele se reunia com o general Jorge Félix, eventualmente com o ministro-chefe da Casa Civil, e sempre com o diretor da Abin, para tomar pé das ações “anti-governo” que viriam ou da PF, ou da mídia. Quando o diretor da Abin sinalizava que sabia-se de uma grande da operação da PF, que arranharia o alto escalão petista, Lula, imediato e incontinenti, desconectava a “nave-mãe” (o núcleo duro governamental) do investigado: que caía ao sabor da mídia, algemado – a que seguiam-se declarações de Lula, ou de seus ministros da Justiça, em prol da “PF republicana”, que “cortava a própria carne”
Vejamos um trecho de Lula, verberado a 14 de junho de 2005, na abertura do IV Fórum Global de Combate à Corrupção, em Brasília. “Tenho nos meus ombros responsabilidades que vão mais além da preservação das instituições. (...) Tenho, ademais, uma biografia a preservar, um patrimônio moral, uma história de décadas em defesa da ética na política. Por isso, não iremos acobertar ninguém, seja quem quer que seja que esteja envolvido', afirmou o presidente. “'Cortaremos na própria carne se necessário', disse, após citar a demissão da diretoria da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) e do Brasil Resseguros (IRB) como exemplos da seriedade com que o governo vê o combate à corrupção. “Determinei aos ministros uma solução definitiva para os problemas envolvendo os Correios e o Instituto de Resseguros do Brasil, resultando no afastamento dos diretores de ambas instituições, sem prejuízo da continuidade das investigações”, completou Lula, referindo-se a processos de sindicância internos e às investigações da Polícia Federal, do Ministério Público e da Controladoria Geral da União. “'Independentemente do uso político-eleitoral que alguns estão fazendo, no meu governo levarei as investigações até as últimas conseqüências. Por isso jurei a Constituição. Sou o principal guardião das instituições deste país, funcionário público número 1”.
A carta dos delegados deixa bem claro que nunca, no governo Lula, houve tamanho descontentamento como o que ora de processa. Sem meias-palavras, a Associação dos Delegados da PF faz referência clara, mas não literal, à Operação Voucher. “A providência logo adotada visa desviar o foco das investigações e investir contra o trabalho policial. Em tempos recentes, esse método deu tão certo que todo um trabalho investigatório foi anulado. Agora, a tática volta ao cenário. Há de chegar o dia em que a história será contada em seus precisos tempos. De repente, o uso de algemas em criminosos passa a ser um delito muito maior que o desvio de milhões de reais dos cofres públicos.”
A carta prossegue assim: “A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal colocará todo o seu empenho para esclarecer o povo brasileiro o que realmente se pretende com tais acusações ao trabalho policial e o que está por trás de toda essa tentativa de desqualificação da atuação da Polícia Federal.
A decisão sobre se um preso deve ser conduzido algemado ou não é tomada pelo policial que o prende e não por quem desfruta do conforto e das mordomias dos gabinetes climatizados de Brasília.
É uma pena que aqueles que se dizem "estarrecidos" com a "violência pelo uso de algemas" não tenham o mesmo sentimento diante dos escândalos que acontecem diariamente no país, que fazem evaporar bilhões de reais dos cofres da nação, deixando milhares de pessoas na miséria, inclusive condenando-as a morte”.
Os delegados são pontuais: referem que “no Ministério dos Transportes, toda a cúpula foi afastada. Logo em seguida, estourou o escândalo na Conab e no próprio Ministério da Agricultura. Em decorrência das investigações no Ministério do Turismo, a Justiça Federal determinou a prisão de 38 pessoas de uma só tacada. Mas a preocupação oficial é com o uso de algemas. Em todos os países do mundo, a doutrina policial ensina que todo preso deve ser conduzido algemado, porque a algema é um instrumento de proteção ao preso e ao policial que o prende”.
Só para lembrar: as operações da PF aumentaram quinze vezes durante o governo Lula. Pularam, por exemplo, de 16 em 2003 para 143 até agosto de 2009. De 2003 para 2010, o número de funcionários da PF pulou de 9.231 para 14.575, um crescimento de 58%. Lula botou nas ruas, na maioria das vezes sob o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, 1.244 operações, o que representa 25 vezes mais do que as 48 tocadas pela PF no governo Fernando Henrique Cardoso.
Os delegados ora confessam sentir saudades do ex-ministro da Justiça de Lula, MTB, maior cacique da “PF republicana” -- e que, após ter saído do governo, atacou operações que ele ajudou a conceber, como a Castelo de Areia e a Satiagraha (o doutor Márcio defendeu a Camargo Corrêa na primeira e passou a defender Pérsio Arida da segunda).
Encerram os delegados “Quanto às provas da culpabilidade dos envolvidos, cabe esclarecer que serão apresentadas no momento oportuno ao Juiz encarregado do feito, e somente a
ele e a mais ninguém. Não cabe à Polícia exibir provas pela imprensa. A ADPF aproveita para reproduzir o que disse o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos: "a Polícia Federal é republicana e não pertence ao governo nem a partidos políticos".
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