Abílio Diniz deu uma entrevista à Folha que viralizou hoje.
Ele se declarou um “bom gestor”. E afirmou que, nesta condição, jamais conseguiu liderar mais que doze pessoas diretamente.
Ele estava se referindo aos 39 ministérios de Dilma. Não dá, segundo ele, para você comandar eficientemente 39 pessoas sob você, e isto tornaria o país “ingerenciável”.
No geral, apesar desse adjetivo, a entrevista teve um tom positivo e otimista sobre o Brasil. Os investidores estrangeiros cobiçam o mercado brasileiro por suas dimensões e por seu potencial, disse Abílio Diniz.
E qualquer dos três candidatos, em sua avaliação, poderá fazer um bom governo.
Tudo isso dito, queria falar um pouco sobre Abílio Diniz como executivo.
Ele é mesmo um bom gestor, como afirmou?
Em meus anos de jornalismo de negócios na Exame, conheci um bocado de Abílio Diniz.
Sua filha Ana chegou a fazer um estágio num suplemento da revista.
Vi, na minha carreira, poucos gestores tão centralizadores e tão controladores quanto Abílio Diniz.
Ele herdou o Pão de Açúcar de seu pai, Valentim. Levou a melhor na disputa pela sucessão com os irmãos, nenhum dos quais revelou talento expressivo.
Sob Abílio Diniz, o Pão de Açúcar cresceu, sobretudo quando a economia brasileira era fechada.
Quando o mercado brasileiro se abriu à competição estrangeira, as coisas se complicaram. Num determinado momento, o Pão de Açúcar não teve alternativa senão fazer parceria com um sócio estrangeiro.
Não tardou muito e se percebeu que a empresa, por maior que fosse, era pequena para Diniz e o novo sócio.
Depois de sucessivas brigas, o novo sócio, como tinha mais força, conseguiu tirar Diniz do caminho.
Em seus tempos de Pão de Açúcar, Abílio Diniz se notabilizou também por fritar todos os principais executivos que respondiam a ele, um clássico nas empresas familiares.
Ele não queria sombra, e nem contestações. E também exigia que seus comandados fossem réplicas dele.
Diniz tinha – tem — uma fixação obsessiva por esportes. Você não entrava na turma se não compartilhasse dessa paixão.
Isso significa o seguinte para um executivo do Pão de Açúcar: acordar cedíssimo e estar preparado para uma sessão prolongada de exercícios antes de começar o expediente.
Ou você virava um esportista militante e entusiasmado ou o Pão de Açúcar não era para você.
Isso valia para a família, e para os agregados.
Trabalhei, na Abril, ao lado de Luiz Felipe Dávila, genro de Abílio Diniz e fundador da Bravo.
Dávila foi contratado como executivo da Abril quando esta comprou a Bravo, fechada alguns anos depois.
O casamento com uma Diniz fizera de Dávila um Diniz. Fazia esportes alucinadamente. Numa ocasião, ao correr de bicicleta em alta velocidade como se fosse Lance Armstrong, levou um tombo espetacular que o obrigou a se afastar do trabalho por vários dias.
Imagino que, sem Diniz, a prática de esportes entre os executivos do Pão de Açúcar tenha diminuído consideravelmente.
A vaidade se manifestava nas pequenas coisas. Uma vez demos uma capa com ele. Na semana seguinte, ele telefonou. Queria saber se sua capa vendera mais que as demais.
Se é um bom gestor?
Bom, eu não gostaria de trabalhar sob suas ordens, definitivamente.
Mas aceito que muitas pessoas também não gostaram de trabalhar sob as minhas.
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