Biografia revela que Dante Alighieri teria usado alucinógenos para escrever a sua "Divina Comédia" e aponta outros fatos inéditos da vida do poeta italiano
Ivan ClaudioO clássico “Divina Comédia”, do escritor italiano Dante Alighieri (1265-1321) , é um livro ambicioso que sintetiza o pensamento político, filosófico e teológico da Idade Média. Por isso é uma obra de difícil acesso. Agora, no entanto, uma biografia crítica torna a descida de Dante ao inferno uma jornada mais fácil e agradável. Trata-se de “Dante” (Record), da escritora e tradutora inglesa Barbara Reynolds, uma das maiores especialistas quando o assunto é o poeta florentino.
Ela releu toda a obra do autor, muniu-se de informações novas e escreveu um calhamaço de 640 páginas que traça um perfil ágil e ousado do retratado. Funciona para o leitor como o poeta Virgílio foi para Dante em sua peregrinação pelas profundezas: um guia erudito e conhecedor de todos os meandros dos versos alegóricos criados pelo escritor.
PAIXÃO
Na tela do pintor inglês Henry Holiday, Dante observa a amada
Beatrice (de vermelho) em Florença: ele desmaiava quando a via
Registra também outra droga nomeada apenas como “grãos do paraíso” e cita como prova o trecho da “Comédia” em que Dante, “transumanizado” ao ascender ao Céu, se compara a Glauco, que “experimentou a erva” e se transformou em Deus do mar.
A autora levanta a hipótese de que o uso de estímulos psicodélicos esteja na origem das visões divinas de Dante, tese válida também para as aterradoras descrições do inferno, quando o autor se vinga de seus inimigos políticos, reservando lugares de destaque na parte mais funda da morada do Demo aos bajuladores, semeadores de discórdia, corruptos e hipócritas. Integrante do grupo dos guelfos brancos (à frente do poder em Florença), Dante defendeu a cidade na Batalha de Campaldino e foi escolhido prior (alto posto na hierarquia social) aos 35 anos. Numa crise entre os rivais guelfos negros, foi obrigado a mandar para o exílio o amigo poeta Guido Cavalcanti, que acabou falecendo (de malária, como ele). O pior viria a seguir, quando vai a Roma negociar a paz e é traído pelo papa Bonifácio VIII: sua cidade é tomada pelos inimigos. Sem recursos para pagar a vultuosa multa pela falsa condenação de corrupção, amargou o resto da vida sem dinheiro, no exílio. Segundo Barbara, “A Divina Comédia” seria assim não um tratado em versos sobre a salvação religiosa pela prática da virtude, mas um relato alegórico contra os usurpadores da vida justa em sociedade.
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