terça-feira, 18 de outubro de 2011

As escolhas de Aécio Neves e de Sofia



Este texto integra uma sucessão de Apartes feitos pelo Movimento Minas Sem Censura aos artigos assinados pelo senador tucano Aécio Neves, publicados às segundas-feiras no jornal Folha de S. Paulo.
O sermão da semana [está abaixo], assinado por Aécio Neves, traz o sugestivo título: escolhas .
Resolveu ele responder às críticas de que está em cima do muro, de que não representa o papel que se lhe impõe, como líder da oposição ao governo Dilma, já que o desfecho aflitivo da campanha Serra, do PSDB e de aliados, o remeteu à condição que insinua não ter desejado. Pelo menos, neste momento.
Parece ter mudado de ghost writer. Mas o estilo continua confuso e pobre. O conteúdo, no entanto, é claro. Expressa a aflição de quem não tem matéria para preencher o  vazio da oposição de direita e neoliberal. A ironia é que, seu escriba, registra seu próprio sofrimento psíquico, diante da vacuidade política do signatário.
Cita Marina Silva, por citar. E ao final, nos presenteia com outra menção, agora de Fernando Pessoa. Esta sim, prenhe de significado. Poderia ter sido direto e mencionado, com propriedade, vovô Tancredo: “empurrado eu não vou”. Frase dita meses antes de assumir a candidatura à presidência da República no Colégio Eleitoral, em 1984.
Sofia, personagem central do romance de Styron, teve de escolher – no limite entre a vida e a morte – quem permaneceria e quem morreria, entre dois filhos.
Não é esse o drama de Aécio. Senador, ex-governador e ex-deputado federal, o neto de Tancredo tem apenas de vivenciar seu personagem, escolhido de forma livre e sem o constrangimento de viver num campo de concentração, a imposição de uma escolha perversa.
A grandeza e a tragédia da personagem  vivida por Meryl Streep, no filme inspirado na obra de Wiliam Styron, contrasta com a pequenez do “líder” da oposição.
Resta ao liberais tardios defender a retirada de direitos trabalhistas, a drástica redução de impostos, a privatização do sobrou para ser privatizado e a atrofia de programas sociais. Este é o programa coerente do liberalismo hipertardio.
Mas ele não quer e não pode assumir esse programa. Político “argila”, Aécio Neves foi para a defensiva em seu artigo, num claro esforço de se desvencilhar daquilo que lhe foi reservado pela vida: o de ser alguém moldado para “seduzir plateias”, uma caricatura de líder contemporâneo. Subproduto de uma máquina de marketing eleitoral, que foi suficiente para escalar as montanhas de Minas, mas que é impossível de ser constituída para outros planaltos e planícies, ele ainda não sabe o que fazer com o roteiro e o texto que tentam lhe colocar às mãos. Preocupado apenas com a fotografia, não passa ele de um ator medíocre de um filme B. Imagem pleonástica, mas legítima. Se o filme é B, atores e atrizes já são – por definição – medíocres. Ele tem sido mediano, em película medíocre.
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Aécio Neves: Escolhas, na Folha de S. Paulo
Há alguns dias, Marina Silva nos ofereceu texto que estimula a reflexão sobre a dinâmica imprevisível da política do nosso tempo, cheia de transformações e novas escolhas por parte dos cidadãos.
Está clara a busca coletiva por uma nova ordem que permita a superação de modelos que sobreviveram até aqui, entre eles os de políticos que se moldam, por conveniência, ao gosto do eleitorado, ou, mais pretensiosos, que tentam moldar o eleitorado à sua feição.
Para além da seara dos oportunistas e dos autocratas, há os que, como a ex-senadora acreana, enxergam pessoas onde outros só veem eleitores e buscam manter com elas relação leal, sem perder de vista seus próprios princípios.
O grande desafio da vida pública é este: não se deixar transformar num personagem condenado a seduzir a plateia. Não se deixar transformar numa caricatura de si mesmo.
Quando insisto em não me tornar prisioneiro das expectativas alheias, o faço por convicção. Acredito que não há nada mais valioso que um homem público possa oferecer que a transparente lealdade aos seus próprios princípios.
Às vezes, leio: “O Aécio devia fazer isso ou aquilo…”. Ouço, reflito. Respeito toda opinião e aceito muitas das sugestões que recebo. Mas é com as minhas convicções que sigo em frente.
A representação política é uma vitrine. É compreensível que cada um transfira sua esperança para a figura de seu representante, assim como acabe se frustrando quando a mesma não se concretiza.
O desencanto tem semeado, aqui e ali, manifestações espontâneas, que vão das passeatas contra a corrupção até os levantes da Primavera Árabe, passando pelos “indignados” na Espanha e por eventos como o “Ocupe Wall Street” em Nova York.
Dizem que são manifestações sem bandeira. Penso diferente. As bandeiras são muitas e revelam as múltiplas faces do inconformismo. Como se uma bandeira tocasse a outra, uma inesperada energia começa a pulsar. Novos aprendizados nos esperam. Antigas lições de tolerância talvez possam ser melhor repartidas.
Sempre vi com reservas os que, na política, temem o diálogo, confundindo firmeza com agressividade. E os que se acreditam donos do tempo e das circunstâncias, quando sabemos que somos todos reféns deles. Marina terminou o seu artigo citando Fernando Pessoa. Revisito o mesmo autor, em dois trechos de um poema que fala de escolhas e princípios.
“Claro no pensar, e claro no sentir/ É claro no querer/ Indiferente ao que há em conseguir/ que seja só obter/ Dúplice dono, sem me dividir/ De dever e de ser … Assim vivi, assim morri a vida/ Calmo sob mudos céus/ Fiel à palavra dada e à ideia tida. / Tudo mais é com Deus”.

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