terça-feira, 18 de outubro de 2011

Ministro Orlando Silva na marca do pênalti



Ministro Orlando Silva na marca do pênaltiFoto: DIDA SAMPAIO/AGÊNCIA ESTADO

EMBORA O PLANALTO TENHA ELOGIADO SUA DISPOSIÇÃO EM PEDIR INVESTIGAÇÃO, O CERCO SE FECHA; 67 CONVÊNIOS SÃO CONSIDERADOS IRREGULARES PELA CGU E R$ 26,5 MILHÕES TERIAM SIDO DESVIADOS; BILHETE APONTA ESQUEMA DO PC DO B DESDE 2003

18 de Outubro de 2011 às 10:07
247 – É improvável que Orlando Silva permaneça ministro dos Esportes por muito tempo. A Controladoria-Geral da União, órgão do próprio governo federal, aponta irregulares em 67 convênios da pasta administrada pelo ministro do PC do B, com desvios de R$ 26,5 milhões e superfaturamento de até 2.700%. E a presidente Dilma, embora tenha elogiado a disposição do ministro em se defender e pedir investigação, já disse a auxiliares que não quer uma crise que se arraste. Nesta terça-feira, Orlando Silva passará por mais um teste: ele vai ao Congresso tentar se explicar. Mas não será uma missão simples. O policial João Dias, que o acusa, disse, em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo que o ministro tentou um acordo para evitar ser denunciado – parlamentares podem pedir uma acareação entre os dois.
Os esquemas no Ministério dos Esportes, comandado pelo PC do B desde o primeiro mandato do presidente Lula, vêm de longe. Um bilhete de 12 linhas escrito em 2003 registra a mobilização do PC do B em busca das verbas do Ministério do Esporte, após a conquista pelo partido do comando da pasta, ocorrida naquele ano. O bilhete pede a liberação de dinheiro público para localidades governadas por correligionários e para emendas do então líder do governo na Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP).
O destinatário é Ricardo Leyser, hoje secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento, homem forte da equipe do ministro Orlando Silva e do PC do B. Em junho de 2003, Leyser era assessor especial do ministro Agnelo Queiroz. O remetente é Fredo Ebling, membro e funcionário do partido, apontado pelo policial militar João Dias Ferreira como responsável pela entrega do dinheiro desviado da pasta por meio de convênios com ONGs.
O bilhete registra o que destinatário e remetente têm em comum: o partido, que já detinha gestores na área de esportes em Estados e municípios. A legenda conta com 5 secretários estaduais e mais 22 secretários municipais. A conta pode estar subestimada. O PC do B tem também 42 prefeitos e 66 vice-prefeitos filiados ao partido.
“É natural que os secretários pressionem para liberar, o pessoal lá fica passando sufoco e dizendo que é o ministério do partido. Isso é algo absolutamente natural da política, não tem nada de errado, todo dia se faz”, reagiu Fredo Ebling ontem, ao reconhecer o bilhete.
“Se fosse sacanagem, eu não teria mandado por escrito, teria falado pessoalmente”, insistiu Fredo, que conta 32 anos de partido. Atualmente, ele trabalha na liderança do PC do B na Câmara e integra a Secretaria de Relações Internacionais.
Fredo Ebling conheceu o homem que o denuncia por conta da vida partidária. O policial militar João Dias foi candidato a deputado distrital pelo PC do B em 2006, quando Ebling disputou uma vaga na Câmara. “Ele me envolve agora para tentar dar um verniz de verdade a essa loucura, ele está desesperado.”, afirmou.
Na época do bilhete, era chefe de gabinete da liderança do governo. Alega que era papel da liderança enviar pedidos de aliados políticos do governo a ministros. Mas não há registro de pedido para outro partido além do PC do B.

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