Em sua primeira viagem a Cuba, a presidenta Dilma frustra os que esperavam que ela se diferenciasse de Lula no posicionamento sobre as graves violações dos direitos humanos no país dos irmãos Castro
Sérgio PardellasAO PÉ DO OUVIDO
Dilma assinou com o presidente cubano, Raúl Castro,
acordo de cooperação para a ampliação do Porto de Mariel
A concessão pelo governo brasileiro do visto de entrada à blogueira Yoani Sánchez, impedida de sair de seu país desde 2004, parecia representar mais do que um gesto de mera boa vontade. Alimentou expectativas de que, em sua primeira ida a Cuba, a presidenta Dilma Rousseff marcaria uma inflexão no posicionamento do Brasil sobre as graves violações de direitos humanos da ditadura cubana. A viagem era tida como a oportunidade histórica de Dilma mostrar, como já o havia feito ao criticar a repressão no Irã de Mahmoud Ahmadinejad, que sua política externa era diferente do antecessor quando se trata da defesa dos direitos humanos. Era justificável até que a presidenta abordasse o assunto em reuniões privadas e silenciasse em público. Não necessariamente precisaria discursar a favor dos cubanos perseguidos. Mas, ao desembarcar em Havana, na terça-feira 31, Dilma logo capitulou à idolatria ao castrismo, tão cara aos setores de esquerda do PT e de seu ministério. Menos de dez dias depois da morte de Wilman Villar, após 50 dias em jejum na prisão, acusado de desacato e atentado a autoridades durante participação em uma manifestação pacífica, a presidenta relativizou os crimes cometidos na ilha, tentou equiparar os regimes cubano e norte-americano e lançou mão do discurso do “atire a primeira pedra” ao responder a questões sobre direitos humanos. “Vamos começar a falar de direitos humanos nos Estados Unidos, a respeito de uma base aqui, chamada Guantánamo. Não é possível fazer da política de direitos humanos uma arma de combate político-ideológico. O mundo precisa se convencer de que é algo que todos os países têm de se responsabilizar, inclusive o nosso. Quem atira a primeira pedra, tem telhado de vidro. Nós no Brasil temos os nossos”, disse Dilma aos jornalistas, pouco antes de almoçar com o presidente Raúl Castro e de visitar o ex-líder cubano Fidel Castro.
As declarações transformaram em desalento as expectativas dos dissidentes daquele país. O governo, por intermédio do ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, já havia sinalizado que a presidenta não comentaria o assunto em declarações públicas, respeitando a tradição de não interferência em assuntos internos de outros países. Ainda assim, os opositores esperavam, na prática, algum tipo de retratação depois que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou, durante visita ao país em 2010, a situação dos prisioneiros políticos com a de detentos comuns, dos presídios brasileiros. De acordo com a Anistia Internacional, há pelo menos 200 cubanos detidos por manifestações políticas ou por causa da raça, religião ou orientação sexual. “O tema de direitos humanos é universal, mas deve ser abordado sem exclusões. A presidenta Dilma preferiu olhar para outro lado, no lugar de observar a triste situação do povo cubano. Queremos apenas ter os mesmos direitos que os brasileiros têm”, disse Elizardo Sánchez, da Comissão de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional. O ex-preso político José Daniel Ferrer, líder do grupo dissidente União Patriótica de Cuba, também expressou suas preocupações: “Há outros interesses, outras questões envolvidas e acho que isso (a questão dos direitos humanos) ficará para trás, assim como fez o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando morreu (Orlando) Zapata”, disse Ferrer.
A generosidade de Dilma com a ilha de Raúl e Fidel Castro prosseguiu com a pauta eminentemente econômica da viagem. Por intermédio do BNDES, o Brasil levou a Cuba uma linha de crédito de US$ 683 milhões para a ampliação do Porto de Mariel, a 50 km da capital cubana, que conta com aporte total de R$ 1,18 bilhão. Ou seja, o Brasil bancará 70% do empreendimento.
Tocada pela construtora brasileira Odebrecht, a obra é considerada estratégica pelas autoridades cubanas, que veem em Mariel uma base para aumentar o intercâmbio comercial de Cuba. O total de financiamentos brasileiros alcança agora US$ 1,3 bilhão, que inclui US$ 683 milhões, via BNDES para o porto, US$ 350 milhões em linha de crédito para importação de alimentos e US$ 200 milhões para importação de máquinas agrícolas.
Após reunião de trabalho e almoço de uma hora e 15 minutos com o ditador Raúl Castro, Dilma visitou as obras de Mariel. Ela e o dirigente cubano discutiram o projeto de instalar fábricas de remédios brasileiras, com tecnologia cubana, na zona do porto. Neste caso específico, Dilma acertou em cheio. O país tem muito a lucrar ao ampliar sua presença econômica na ilha, como já fizeram a Espanha e o Canadá. A parceria também dará mais vigor ao processo de abertura econômica a que Cuba vem assistindo desde 2010. A primeira viagem de Dilma a Cuba, porém, deixará a marca indelével da frustração àqueles que a imaginaram como o divisor de águas da política externa brasileira no que diz respeito à defesa dos direitos humanos.
As declarações transformaram em desalento as expectativas dos dissidentes daquele país. O governo, por intermédio do ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, já havia sinalizado que a presidenta não comentaria o assunto em declarações públicas, respeitando a tradição de não interferência em assuntos internos de outros países. Ainda assim, os opositores esperavam, na prática, algum tipo de retratação depois que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou, durante visita ao país em 2010, a situação dos prisioneiros políticos com a de detentos comuns, dos presídios brasileiros. De acordo com a Anistia Internacional, há pelo menos 200 cubanos detidos por manifestações políticas ou por causa da raça, religião ou orientação sexual. “O tema de direitos humanos é universal, mas deve ser abordado sem exclusões. A presidenta Dilma preferiu olhar para outro lado, no lugar de observar a triste situação do povo cubano. Queremos apenas ter os mesmos direitos que os brasileiros têm”, disse Elizardo Sánchez, da Comissão de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional. O ex-preso político José Daniel Ferrer, líder do grupo dissidente União Patriótica de Cuba, também expressou suas preocupações: “Há outros interesses, outras questões envolvidas e acho que isso (a questão dos direitos humanos) ficará para trás, assim como fez o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando morreu (Orlando) Zapata”, disse Ferrer.
A generosidade de Dilma com a ilha de Raúl e Fidel Castro prosseguiu com a pauta eminentemente econômica da viagem. Por intermédio do BNDES, o Brasil levou a Cuba uma linha de crédito de US$ 683 milhões para a ampliação do Porto de Mariel, a 50 km da capital cubana, que conta com aporte total de R$ 1,18 bilhão. Ou seja, o Brasil bancará 70% do empreendimento.
Tocada pela construtora brasileira Odebrecht, a obra é considerada estratégica pelas autoridades cubanas, que veem em Mariel uma base para aumentar o intercâmbio comercial de Cuba. O total de financiamentos brasileiros alcança agora US$ 1,3 bilhão, que inclui US$ 683 milhões, via BNDES para o porto, US$ 350 milhões em linha de crédito para importação de alimentos e US$ 200 milhões para importação de máquinas agrícolas.
Após reunião de trabalho e almoço de uma hora e 15 minutos com o ditador Raúl Castro, Dilma visitou as obras de Mariel. Ela e o dirigente cubano discutiram o projeto de instalar fábricas de remédios brasileiras, com tecnologia cubana, na zona do porto. Neste caso específico, Dilma acertou em cheio. O país tem muito a lucrar ao ampliar sua presença econômica na ilha, como já fizeram a Espanha e o Canadá. A parceria também dará mais vigor ao processo de abertura econômica a que Cuba vem assistindo desde 2010. A primeira viagem de Dilma a Cuba, porém, deixará a marca indelével da frustração àqueles que a imaginaram como o divisor de águas da política externa brasileira no que diz respeito à defesa dos direitos humanos.
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