*José Luiz Tejon Megido
Não gosto de escrever na primeira pessoa, mas preciso. Primeiro porque no momento vale minha experiência de vida, não que ela seja o máximo e deva ser seguida, mas é minha.
Durante esse tempo percebi que as pessoas que foram tuteladas por outra ou por uma espécie de governo, tendem a se acostumarem nessa zona de conforto.
É um conforto poder ser tutelado, como o índio por exemplo. Nós os vemos como crianças e dedicamos uma atenção diferente, não os tratamos como iguais, mas como tutelados. Os índios têm direito à terra, a manter seus costumes, andarem pelados, como se estivessem entre o animal irracional e o homem. Esta é a visão do tutor. O tutor se beneficia disto.
Muitas pessoas acreditam piamente que o Governo deve dar a elas condição de vida digna, bons hospitais, boas escolas, transporte de primeira, enfim, como num filme americano da década de 50 e 60, com seus bairros de casas sem cerca e papais “sabe tudo”. E essa é a visão que o tutor quer que elas tenham, que elas jamais entendam que eles estão lá para fazerem isso porque lá foram colocados. Não fazem mais que a obrigação.
O tutelado mor é aquele que não se vê dentro de uma realidade, mas se vê na realidade aparente, se deixa hipnotizar pelas aparências e não vai fundo em nada, dentro de sua ótica o dever de fazer é de terceiros. O tutelado é aquele que estaciona seu carro em vaga de deficiente, porque é só por um instante, mas chega as vias de fato quando alguém estaciona na frente de sua garagem. O tutor promete sempre que dele cuidará, e ele não se cuida. Há quem faça isso por ele. O tutelado não sabe dividir tarefas em sociedade, a função dele é a de desfrutar. O tutelado se espelha no tutor com tal sanha que o imita. O tutor adora, manipula, manobra a herança. O tutelado não distingue governos municipais dos estaduais e do federal. O tutelado responsabiliza o que não se parece com ele. Se o problema é o lixo da rua, ele culpa o Presidente da República, ou “esse povo”, como se ele não fosse desse povo. O tutelado é um ser criado pelo tutor. Para o bel prazer de tutelar.
Não conheço um só homem de sucesso, que seja exemplo de vida, que possa ser admirado por todos, que tenha sido tutelado.
Todos meus ídolos foram forjados na luta.
Não suporto ver alguém reclamar de uma situação e não perceber nela uma solução, uma atitude. A vida tem feito me distanciar delas. O tutelado não tem senso crítico, é um crítico mordaz, incapaz de julgar com leveza e discernimento. Sempre é parcial. Mesmo diante do sucesso de alguém, ele vê surgir em seus pensamentos e palavras o escárnio.
Aquele que foi forjado na luta segue em frente. Indiferente e ideologicamente determinado.
Estou cansado de ver índio pedindo terra, andando pintado diante das câmeras e depois usando relógio à prova d’água e calça jeans. Estou cansado de americano bonzinho, tutelado por brancos imbecis, sendo conduzidos para a guerra, morrendo inertes sem noção do fato que os levou à luta. Viva Mohamed Ali.
Estou cansado de grileiros, aqui ou no Paraguai, passando por vitimas, dando a mais cretina desculpa de que geram empregos e pagam impostos. Como se a prioridade fosse o Estado e não o povo. Como se pagar imposto fosse o máximo e não obrigação. Viva Fidel.
Estou cansado de ver meu povo evoluindo e tendo acesso a educação e a um eletrodoméstico melhor, à casa própria e alguém sempre querendo que um governante dê soluções para 502 anos de tutela política e desmandos, em apenas quatro anos, ou oito, sendo que o que mais temem é a saída da zona de conforto, é que seja mostrada a todos a covardia inata destes marionetes. Os tutores estão pouco a pouco caindo. Meu País está mais justo. E está assim graças a um descriminado, a um “Zé Ninguém” que saiu das fábricas dos tutores, que se determinou. Viva Lula.
Meu País está melhor graças à mulher torturada, na ditadura deste País ou na ditadura de costumes de uma sociedade machista.
Viva Dilma.
Viva Paulo Freire, viva João Carlos Martins, viva Gilberto Gil e tantos outros.
Mas, viva principalmente aquele que se emancipou e partiu para os prazeres da dor de lutar e perder, lutar e perder...até vencer. Vencer como ser humano. Quebrar os grilhões da tutela.
Dedico essa crônica a José Luiz Tejon Megido, o homem que veio do fogo.
Por Airton Baptista.
*José Luiz Tejon é escritor e palestrante. Homem de rara fibra. Um brasileiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário