domingo, 28 de agosto de 2011

Celular para dormir

 

Um terço das crianças e dos adolescentes leva o telefone para a cama. E isso faz mal, afirmam os especialistas

Michel Alecrim

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CONTROLE
Julia está proibida de passar mensagens ou jogar à noite.
O smartphone só pode ser usado como despertador
Levar os filhos para a cama na hora de dormir e dar-lhes o beijo de boa-noite não é mais garantia de que eles estejam sob controle. Mesmo depois de deitados sob as cobertas, crianças e adolescentes perdem horas de sono presos ao celular. O aparelho usado para facilitar a comunicação dentro e fora da família também cria dependência, a ponto de muitos ficarem conectados 24 horas por dia. Até mesmo nos momentos em que deveriam estar de olhos fechados. Uma pesquisa feita nos Estados Unidos com 289 pais mostrou que um terço dos meninos e meninas prefere teclar desenfreadamente em vez de contar carneirinhos. O problema foi parar nos consultórios de psicólogos e psiquiatras, que, em alguns casos, recomendam o confisco do telefone. “Esse comportamento também pode se tornar uma compulsão”, explica a professora do departamento de psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Maria Luíza Bustamante. “Os pais precisam impor um limite.”

Essa foi a atitude tomada pela professora carioca Rosana Aromatis, 45 anos, quando percebeu que a filha Júlia, de 12, estava exagerando no uso do seu smartphone. Ainda hoje, a menina vai para a cama com o aparelho, que serve como despertador, mas está proibida de passar mensagens ou jogar na hora de dormir. “Expliquei que ela não pode ficar passando mensagens a toda hora. O uso do telefone não deve virar uma doença”, diz a mãe. A perda do sono não é a única consequência do vício no celular. Quando crianças e adolescentes se prendem a ele durante as refeições, na hora dos estudos ou deixam de participar de recreação ao ar livre para ficar conversando ou teclando, é sinal de que alguma providência precisa ser tomada (leia quadro). “Os pais devem agir com gradação. Primeiro, é bom conversar. Depois, podem impor limites de horário. Só, em último caso, devem tomar o aparelho”, recomenda Maria Luíza.

Motivos para preocupação não faltam. Marcelo Botelho, diretor da Veus Technology, empresa de tecnologia da informação, alerta que os telefones se tornaram computadores de bolso, e que, ao contrário dos de mesa, têm poucos recursos de bloqueio. “É mais difícil bloquear acesso a jogos violentos ou sites pornográficos nos smartphones”, avalia Botelho. O psiquiatra Fábio Barbirato, especialista em infância e adolescência da Santa Casa de Misericórdia do Rio, explica que a excitação mental provocada por essas pequenas máquinas atrapalha o repouso noturno. “Em casos graves, os filhos apresentam comportamento semelhante ao de um viciado em drogas com abstinência”, afirma. A estudante carioca Cynthia Carvalho, 15 anos, reconhece que já perdeu o sono por causa do aparelho, mas não deixou de levá-lo para a cama. “Já acordo ligando para as minhas amigas para combinar de irmos para a escola juntas”, justifica. A mãe da adolescente, a cabeleireira Soraia Carvalho, 33 anos, está preocupada. “Se ela não fosse muito estudiosa, já teria proibido o celular”, conta. De qualquer forma, Soraia se mantém alerta. Ao que se vê, sua filha também.
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