Foto: DIVULGAÇÃO
Não foi José Dirceu (esq.), mas sim o hotel que registrou B.O. contra o repórter que, pautado por Mario Sabino (dir.), tentou invadir um domicílio; infração pode dar pena de um a três meses
Todas as informações prestadas pelo Naoum Plaza vêm sendo repassadas pela gerente Elisabeth Mendes (beth@naoumplaza.com.br). Num caso de invasão de domicílio num hotel, um boletim de ocorrência pode ser registrado tanto pelo hóspede quanto pela administração do empreendimento, que tem a obrigação de zelar pelo domicílio temporário de seus clientes. “As duas partes são vítimas”, disse ao 247 o criminalista José Roberto Batochio, um dos mais renomados do País. De acordo com Batochio, o crime pode ser ainda agravado. “É preciso ver com que intenção foi tentada uma invasão de domicílio”, diz ele. “Seria para suprimir documentos, computadores?” Neste caso, argumenta o advogado, as penas seriam ampliadas porque estariam configurados outros delitos.
O B.O. foi registrado pelo chefe da segurança do hotel na 5ª Delegacia de Polícia Civil do Distrito Federal. Fontes policiais e da Secretaria de Segurança Pública do GDF confirmaram que, nos próximos dias serão tomados vários depoimentos. A começar pela camareira que foi abordada pelo repórter Gustavo Ribeiro. Ele, que se hospedou num quarto próximo ao de José Dirceu, afirmou a ela que havia perdido as chaves e tentou entrar no quarto do ex-ministro, quando foi descoberto e saiu do hotel sem fazer check-out. Também serão ouvidos o próprio repórter e o jornalista Policarpo Júnior, chefe da sucursal da revista Veja em Brasília – há ainda a possibilidade de que seja convocado a depor o jornalista Mario Sabino, que, interinamente no comando de Veja, pautou a reportagem.
Confissão de culpa
Na Editora Abril, que a partir da próxima semana terá um novo presidente, o executivo Fábio Barbosa, sabe-se que o crime foi cometido. Mas a estratégia é de simplesmente ocultá-lo gritando mais alto, por meio de sua tropa de choque, liderada pelo blogueiro Reinaldo Azevedo.
Reinaldo tem escrito em seus posts que a direção do hotel foi instada a registrar o boletim de ocorrência. Ao contrário disso, o hotel confirma que registrou o B.O. por iniciativa própria porque também se sentiu vítima de uma crime cometido por outro hóspede, chamado Gustavo Ribeiro. Aliás, o hotel não tinha conhecimento de que se tratava de um jornalista de Veja. Poderia ser, simplesmente, um assaltante tentando entrar no quarto de um hóspede vizinho – e, por isso mesmo, a direção do hotel tomou a iniciativa de registrar a ocorrência.
Inversão de valores
Nessa tentativa de ganhar no grito, Reinaldo Azevedo tem argumentado que Veja estourou um aparelho clandestino, montado em plena democracia, para conspirar contra a democracia. Ele, que prega agora a demissão do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, por ter se encontrado com José Dirceu, seu companheiro de partido, alega ainda que a reportagem de Veja deste fim de semana foi uma das mais importantes da era democrática. Isso porque teria havido a invasão do bunker do poderoso chefão – José Dirceu, nosso Kadafi – pela democracia.
Um quarto de hotel não é um aparelho.
Veja não tem poderes de polícia.
Veja não é a democracia.
É parte da democracia, quando age dentro da lei.
Conspira contra a democracia, quando infringe a lei.
Do contrário, seria lícito que pautássemos um de nossos repórteres para invadir a residência da família Azevedo para descobrir eventuais indícios de ligações com a Secretaria de Comunicação do governo de São Paulo – que sabemos inexistentes. Ou também que invadíssemos a residência da família Sabino para buscar registros de viagem recentes na Costa Amalfitana, durante o casamento de um próspero advogado criminalista.
Oportunidade rara
Neste domingo, o futuro presidente da Editora Abril, Fábio Barbosa, escreveu seu último artigo na Folha de S. Paulo, onde é colunista. Barbosa construiu a imagem de “executivo do bem”, com um discurso de sustentabilidade nas empresas por onde passou, como o Real e o Santander.
No artigo deste domingo, ele, mais uma vez, exerce esse papel de “bom moço corporativo”, apontando os valores da cidadania. “Ninguém vive sozinho, e nossas atitudes (boas e más) impactam o todo, que deve ser construído junto”. Termina ele seu texto argumentando que se deve empunhar a bandeira da cidadania e agir de forma coerente.
Barbosa terá plenos poderes na Abril, inclusive sobre a área editorial, a partir de setembro.
Sua coerência será colocada em xeque.
O bom moço corporativo será tolerante com um crime? (leia mais sobre a primeira decisão que ele poderá tomar na Abril)
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